103 - (Parte 1)

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Anne Freire
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Quando eu era pequena, minha mãe me disse que se a gente engolisse uma semente de melancia, um bebê ia crescer na nossa barriga e era assim que os bebês eram feitos, me lembro que na época eu tinha uns 6 Anos, dizia que nunca iria ter um filho, passei sempre a comer melancia com muito cuidado, pra eu não ter que cuidar de um bebê, bom, na época eu ja não era tão inocente e nem podia ser, com tantas experiências ruins que já havia passado, eu ja sabia o que era certo e o que era errado, mesmo assim, Fernanda, ainda me disse isso e mesmo assim eu acreditei, porque era ela quem tava falando, era minha mãe.

Com 12 Anos, quando eu malditamente menstruei pela primeira vez, minha mãe com todo o seu papel e doçura, sentou pra me explicar, eu lembro que assim eu gritei por ela desesperada dizendo que eu tinha me machucado e tava sangrando, ela chegou me abraçou e disse "Bem vinda meu amor" eu não entendi muito bem, mas eu sou mulher e minha mãe sempre foi do tipo que, me contava sobre sua primeira menstruação e como eram os micos que ela passava quando era adolescente, eu só lembro que eu chorei, porque eu não queria aquilo, não queria sentir minha pepeca sangrando 7 dias por mês, quando chegou a noite, ela sentou na beirada da minha cama e sorriu, antes de começar seu discurso: "Talvez seja cedo demais pra gente ter essa conversa, mas eu conheço o lugar onde moro e sei como aqui funciona, eu só quero te explicar, que a partir de agora, se você fizer algo de errado, do tipo... transar, por um descuido você pode facilmente engravidar, então, se você for fazer isso, usa camisinha ou toma pílula, mas eu quero saber, pra poder te levar no médico e ver como as coisas funciona" ela falou isso tudo como se tivesse passado horas ou dias ensaiando na frente do espelho, de todo modo, eu odiava a ideia de ter relação com qualquer pessoa, por pura e doce inocência.
Sem saber que dar a pepeca era algo tão bom, não vou mentir, nem romantizar o fato, minha primeira vez doeu, mas não era uma dorzinha lindinha que dava pra suportar facilmente, não, era uma dor horrivelmente dolorolasa, mas foda-se, eu ja sentir dor pior que isso.

Mas hoje, aos 16 anos, eu me pego olhando para o espelho, com olhos fundos e cheios de olheras, tentando achar qualquer sinal de volume em minha barriga, enquanto Davi, tá sentado na minha cama, olhando pro vazio por minutos ou horas, Seus olhos aparentemente desfocado.

-Você acha que vai crescer rápido ? __ Eu mesma me assusto com minha própria voz.

Davi- Não sei __ diz vazio.

-E... e se...se eu abortar ?__ pergunto já sentindo as lágrimas queimarem meus olhos e sentindo minha garganta se fecharem. Davi vira o rosto em minha direção como se fosse a menina do exorcista __Seria uma Boa ideia, não séria? __assim que fecho minha boca Davi ja está praticamente em cima de mim, agarrando meu braço com força, deixei as lágrimas caírem.

Davi- Tu tá doida filha da puta ?__ me sacudiu em reprovação __Se tu tirar meu filho, Anne, te mato __ soltou meu braço esquerdo e apontou pra minha cara, estremeci.

-Eu...Eu Não quero Davi, eu não quero __ solucei alto.

Davi- Foda-se você, deixa de ser egoísta sua filha da puta __Quase gritou __ Tem uma vida dentro de tu, merda__ soltou meus braços passou a mão pelos cabelos.

Só então, eu percebi o quanto ele tava apertando meu braço, ao sentir ele ficar dormente e o sangue voltar a circular.

Me joguei na cama dramaticamente e chorei, chorei tanto que adormeci sem nem ao menos perceber.

(...)

Acordei e antes abrir os olhos, puxei com força o travesseiro me agarrando a ele, minha cabeça estava pesada e doia muito, abrir meus olhos devagar e percebi o quarto um pouco escuro, Davi estava escorado na cabeceira da cama, sua respiração estava pesada e eu deixei um sorriso escapar por ele está dormindo sentado.

-Davi __ chamei baixinho__ Davi acordar __ alcancei sua perna e sacude ela, vendo Davi acordar assustado.

Davi- Tá tudo bem ? __perguntou __como você tá, tá sentindo algo ?__ perguntou sem ao menos me deixar responder a primeira pergunta.

Respirei fundo e me arrastei para perto dele e deitei a cabeça em sua perna.

- Minha cabeça tá doendo__ passei a mão pelos meus cabelos, mas aparentemente tudo doia.

Davi, tirou a minha cabeça de sua perna e colocou ela no travesseiro, eles se esticou na cama e deslizou deitando direito, se virou pra mim e colocou sua mão quente em meu rosto, fechei os olhos e sentir seu toque em minha pele.

Davi- Eu tenho que falar com o Maciel __disse e o silêncio reinou por alguns segundos __ Eu tenho medo __sussurrou.

Abrir meus olhos e gargalhei.

- Tem medo do Maciel __ Zombei.

Davi- Ta loucona ?__perguntou __ Tenho medo é de tu fazer alguma coisa com meu filho __falou e isso estraçalhou meu coração em pedaços__ Tu é maluca, Anne, confio em tu não __ me olhou nos olhos.

Virei meu rosto e respirei fundo.

-Eu não vou fazer nada__ sussurrei.

Foi Na FAVELAOnde histórias criam vida. Descubra agora