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Maciel Andrade
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Caminhei até o corpo na minha frente e me abaixei, ainda com o braço machucado levei minhas mãos até a máscara que cobria sua cara puxando a mesma para cima e tirando de seu rosto.

Um sorriso tomou meu rosto vendo aquela cena me dando prazer e um sentimento de felicidade e vingança tomou meu corpo ao olhar aquele maldito em minha frente, o mesmo policial que tinha acertado um tiro em João e tirado sua vida, estava aqui na minha frente completamente sem vida.

Isso explica o porque ele tanto me olhou, isso explica o porque eu tive o sentimento que já havia visto seus olhos que transbordavam maldade, isso explica o quanto eu me sentir livre ao apertar o gatilho aquela hora.

Mas ao mesmo tempo me deixa triste, eu promete a mim mesmo que não iria ser igual eles, que nunca iria fazer mal a alguém e agora, olha eu aqui, olha onde eu tô, olha onde vim parar, meu pai com certeza não estaria orgulhoso de mim.

Mas não importa agora, eu ja não consigo mais lembrar de seu rosto, nem mesmo da sua voz, apenas de algumas palavras, as mais importantes, seu rosto sumiu conforme os dias foram passando.

Eu queria me lembrar, queria ver seu rosto, queria conseguir vê-lo pelo menos nos pesadelo constante que tenho com aquele dia horrível, que tenho ao lembrar constantemente daquele dia, eu posso lembrar de tudo, mas seu rosto sumiu.

Levantei ao sentir uma lágrima escorrer pelo meu rosto, limpei o mesmo com as costas das mãos e virei-me dando as costas para os meninos que me encarava.

Xx- Conhece ele ?__perguntou.

- Ele matou meu amigo__disse sem encara-lo.

Xx- Eles são uns filhos da puta__outro menino falou.

-Eu sei disso, mais que ninguém__falei seco.

Xx- Porque ?__perguntou.

- Nada__falei e caminhei até a escada.

Xx- Você não pode descer__disse__ a gente tem que se esconder__pegou meu braço.

- Eu preciso ir pra casa __puxei meu braço.

Eles me encarava enquanto eu descia as escadas, eu precisava sair dali, precisava ir pra longe, a arma ainda estava em minha mão e eu apertava a mesma com muita força, eu só queria esquecer de tudo que passei, queria igual eu esqueci o rosto do meu pai, mais eu sei que eu vou conseguir passar por cima disso tudo.

Sentir meu corpo ser puxado brutalmente assim que desci às escadas.

R1- O que tú ta fazendo aqui, seu peste ?__falou em um sussurro rouco enquanto prendia meu corpo contra a parede do beco, fazendo-me fechar meus olhos.

-Desculpe __ sussurrei __ desculpe __ virei meu rosto ainda de olhos fechados.

R1- Eu perguntei o que tu tá fazendo aqui, seu viadinho__puxou meus cabelos.

Sentir as lágrimas caírem por meu rosto, sentir medo, por mais que ele me machucasse, eu não consigo machuca-lo.

Sentir a arma em minha mão e abri meus olhos, em um movimento rápido empurrei o mesmo para trás e apontei a arma para o seu peito, meus braços tremiam, eu queria apertar o gatilho, mas não conseguia, eu queria saber o porque, queria saber que sentimento era aquele por uma pessoa que só me fez sofrer.

R1- Você vai..vai atirar ?__perguntou ao levantar as mãos em forma de rendimento.

Olhei em seus olhos que estavam do mesmo jeito que o meu, cheio d'água, no momento eu não entende, mas deveria ser por medo de morrer.

Balancei a cabeça em negação e soltei um soluço alto.

R1- Atira __sussurrou fazendo-me olha-lo.

Neguei com a cabeça e me encostei na parede.

-Não..não consigo __sussurrei.

R1- Atira__disse mais alto.

Encarei seus olhos vermelhos e cheio d'água, deslizei minhas costas na parede até sentir-me sentar no chão frio, ainda apontando á arma em sua direção.

Abaixei minha cabeça e fechei meus olhos, as lágrimas de dor pingava em meu colo e escorria até o chão, abaixei meus braços e larguei a arma no chão ao meu lado.

Encostei a cabeça na parede e levantei uma perna apoiando meu braço que ainda sangrava, na mesma e abrir meus olhos encarando R1 que estava de olhos fechados e cabeça baixa.

-Sai daqui__sussurrei__Por favor, sai daqui__chorei

R1 abrio os olhos me encarando e olhou pra cima balançando a cabeça em negação, seguir seus olhos vendo os meninos que ainda tava na laje apontando suas grandes armas pra mim.

Xx- Foi mal cara __um menino disse e se afastou.

Abaixei minha cabeça e levantei pegando minha arma, coloquei a mesma na cintura e dei as costas para R1 que ainda me encarava.

Sair do beco e comecei a subir o morro, as ruas estavam vazias, ninguém nem ousava colocar os pés fora de casa depois de invasão, caminhei perto das paredes sentindo meu braço voltar a doer, doer não arder.

Mais uma vez eu tô sem rumo, é como se alguém tivesse dado um soco em meu estômago, ele doía muito pelo sentimento de está embrulhado.

Cheguei em frente de casa e abrir a porta vendo Fernanda sentada no pé da parede de cabeça baixa.

Foi Na FAVELAOnde histórias criam vida. Descubra agora