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Maria Liara
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As ruas não era minha melhor saída, eu poderia muito bem ir pra casa da Letícia, mas mesmo que ela já tenha me ajudado antes, eu não consigo ir até lá e simplesmente pedi um lugar pra ficar, Letícia já está tão ocupada com suas coisas,  com sua bebê que já está quase pra nascer e ainda está cuidado de Emiliane, filha daquele monstro, que me deixa sem saída nenhuma.

Olhei nós olhos tristonhos de minha mãe e a vi descer o degrau um pouco alto de sua casa, eu já estava pronta pra sair dali com o rabo entre as pernas e a consciência culposa mais uma vez, até sentir seus braços rodearem meu corpo e o corpo de meu filho, Chorei.

Chorei muito, sentindo suas palavras de anos atrás caírem sobre minhas costas, Chorei por tudo que passei, por todas as horas que precisei dela e ela não estava comigo, chorei por ter perdido tanto tempo sem tê-lá pra me consolar todas as horas que eu precisei, simplesmente, chorei.

Marcela-Entra, entra meu amor __ disse me soltando de seus braços e me dando espaço.

Minha mãe entrou logo em seguida, só então pude observar aquele casa e prestar atenção em cada coisinha ali, não mudou muito desde que eu tive lá pela última vez, e foi como se o tempo voltasse e eu entrasse dentro de casa junto com minha mãe quando a gente ia a igreja ou no super-mercado, ou até mesmo quando ela ia me buscar da escola, eu simplesmente passava pela porta pronta pra ir pro meu quarto, pra fazer alguma coisa legal, brincar com alguns de meus jogos, ou ler alguma coisa, isso vai ficar eternamente guardado na minha memória.

-Não mudou nada __ Falei__ Tá tudo da mesma forma que eu me lembro__ andei até o sofá que agora estava velho, mas parecia que ela não havia mexido em nada.

Marcela- Me conta __pediu __ me conta o que eu não fui capaz de ouvir a anos atrás __chorou.

Encarei seus olhos que pareciam já saber de tudo e eu me perguntei de onde eu tiraria forças pra contar pelo o que eu passei todos esses anos.

-Ele me estuprou mãe __chorei__ eu nunca quis ficar com ele, ele sempre me forçava, ele me batia, batia tanto que ja cheguei a achar que tava morrendo, mas por um azar incondicional eu não morrir, porque eu não morrir mãe, porque ?__ sentir minhas pernas fraca e Marlon pesar em meus braços.

Marlon se remexeu e acordou chorando, ninei em meus braços. Era ainda pior lembrar aquilo, ainda pior deixar que a vida me mostrasse pelo o que passei mais uma vez, mas eu sabia que de todo modo eu não estaria protegida, não ali, tão perto dele.

-E eu sei que ele vai vim atrás de me, me desculpa mãe, me perdoa __pedi enquanto chorava sem parar.

Minha mãe pegou Marlon de meus braços e subiu às escadas carregando ele, tive medo de ser a última vez em que eu vou ver meu filho, nem ao menos sei o que se passa na cabeça de minha mãe.

Ela voltou a descer às escadas alguns minutos depois e veio rápido em minha direção, fechei meus olhos esperando o pior, que ela me expulsasse de sua casa e não me deixasse mais ver meu filho, mas não. Ela simplesmente me abraçou e chorou comigo, seu abraço era tão confortável, tão bom, e ali eu percebi que eu tinha esquecido como eles eram.

Marcela- É eu quem te deve desculpas minha filha __chorou __ eu que tenho que pedi perdão, me perdoa, pelo amor de Deus, me perdoa__ pediu.

-Eu te perdoo mãe, eu nunca guardei mágoa, nunca__chorei em seus braços.

Marcela-Eu te amo tanto__ alisou meus cabelos __ Mora aqui, volta pra casa, por favor__ pediu.

-Eu volto mãe, eu volto __ Falei.

Antes de tudo, de qualquer coisa, de todas as coisas, ela que abriu suas pernas e sentiu a dor da morte, apenas pra me da a luz, me alimentou e cuidou dos meus machucados, e algumas coisas ruins não apagam jamais as coisas boas que ela me fez.

A noite caiu rápido, o tempo não estava tão quente e nem tão frio, a vida tava do mesmo jeito, nem tão boa, mas com toda certeza ja estiveram piores do que nesse momento.
A vida é assim, não demostra suas futuras ações, talvez nem tudo mude, ou talvez, mude completamente, mas a única certeza é que agora eu vou ter a quem amar.

As vezes parece o fim, mas não é o fim, e está longe de ser, mas uma etapa concluída, a vida agora, está me desafiando ainda mais.
Mas eu nunca fui forte o suficiente, talvez eu passe, talvez eu fique, eu sei apenas que eu tenho que viver e eu sei, que voltar pra casa, não vai ser o fim da minha luta, nem muito menos o meio, mas digamos que o recomeço, de tudo, mas com algumas coisas diferentes.

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Foi Na FAVELAOnde histórias criam vida. Descubra agora