Prometo Falhar Part 19

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  O orgasmo é a armadilha perfeita,
sirvo-me de mãos anônimas no meu corpo, agora um está em cima de mim mas
falta tanto, um abismo intolerável entre cada corpo e você, mãos estrangeiras para eu
não me lembrar de você
de que país se é quando se sente assim?,
todos os lugares te reconhecem, ao meio-dia em ponto te abro as pernas seja para
quem for, este é alto e forte, se a alma tivesse razão era tão melhor do que você, mas
acontece que sou estúpida e ainda te quero, porque todas as camas são um
preâmbulo de você, e a sua boca é um gesto antigo,
recordo agora o que não vivi contigo,
a saudade é feita de aprendizagens, de ruídos que servem para não ouvir,
ou existe o dia inteiro para viver ou existe o dia inteiro para morrer, deixar as
horas passarem, lembrar-me de te esquecer permanentemente, me falta não sentir a
sua falta para ser feliz,
todos os que não são você são José,
há que esquecer o que não nos preenche, dispenso saber quem amo quando só te
amo a você, chamo de José o mundo que está à volta e vou usando o que posso, a
pele, a carne, até as palavras possíveis,
quantos homens vou ter de sacrificar para continuar a não te esquecer?,
digo a ele que me dê com força, fecho os olhos e procuro ir para a geografia do
prazer, mas quando eles vão embora fico eu e a literatura da cama vazia, pego duas
ou três cartas que você me escreveu e me dispo finalmente para você poder me
tocar,
sempre que te leio tenho de estar inteiramente nua,
mais um José que se foi, houve o orgasmo e eu gemi como pude, estive dois ou
três segundos sem saber de você, juro, provavelmente é o máximo a que posso
aspirar, tenho de ser realista,
eu queria ser a mulher que aguenta e sou apenas a mulher que suporta,
despeço-me dele, um até a próxima frio e um cigarro, a janela aberta, a campainha
tocando, deve ser outro José, certamente, abro a porta de lá de baixo sem perguntar
quem é,
de que fragilidade ao certo se faz a desistência?,
não me interessa o mistério da morte mas apenas o da sua vida em mim, a porta já
abriu, nem olho e deixo que ele venha, as mãos primeiro, o beijo depois, finalmente
as palavras,
olá, eu sou o José,
e me basta aquilo para saber que é você, não pergunto nada nem quero saber
nada, há a possibilidade de alguns minutos de apenas nós e estou disposta a
aproveitá-la, me mostra com paciência o que aprendeu longe de mim, me dá a
euforia primeiro e o silêncio depois, mas sobretudo me promete que nunca mais
voltará a me prometer nada,
e cumpre por favor.  

Prometo FalharWhere stories live. Discover now