Quando me pediram para mostrar as veias apresentei uma imagem sua.
E todos riram e eu não entendi.
Nenhuma ciência consegue compreender o amor.
Te arrancar de mim ou cortar os pulsos?
E o que é a morte senão o instante em que você percebe que te amputaram uma
veia da alma? Ainda que o corpo persista (os corpos às vezes persistem, teimosos,
quando todas as almas já se foram, quando todos os espaços estão vazios e só resta
fechar a derradeira fechadura; há corpos teimosos, que não percebem que não
depende deles, nunca depende deles, declarar a falência de alguém), ainda que haja a
inspiração de sempre e a expiração de sempre, os segundos passando, um a um,
lentamente. Pode me faltar até o sonho se você estiver ao meu lado para me fazer
sonhar.
Todas as quedas são úteis se você puder me levantar.
Só para sentir que você existe para mim, que está para mim, e que verdade
nenhuma (ouço por aí que não posso depender de você assim, que nenhum amor
resiste a se amar assim) tem dimensão para se intrometer nesta invencível mentira.
Quando eu não puder te amar assim é porque já não te amo.
Quando eu não sentir o chão parar quando você não está, quando não sentir tudo
em mim te abraçar quando te olho, quando houver algum momento imperfeito para
ser sua.
Ou me dá um sabor que vale por tudo ou não vale nada.
Ontem fomos ao parque juntos, velhos adolescentes em balanços, em carrosséis,
nos carrinhos de brincar onde aprendemos a ser crianças. E quando te dei a mão e te
olhei no meio de toda aquela gente quis que até a morte chegasse mais depressa.
Para podermos ter um final feliz. Para que nos acabássemos como deve acabar o que
é imortal. Nós e o sorriso (há tantos anos o seu sorriso perante o meu esforço para te
fazer rir; e as lágrimas sem parar enquanto eu te dizia que era para sempre e você
não acreditava) que nos juntou. Já que temos de morrer que eu seja a princesa e
você o príncipe.
Que venha então a morte e o casamento final. E que na nossa lápide duas simples
frases se escrevam:
Morreram. E viveram felizes para sempre.
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Prometo Falhar
Romance"Prometo Falhar" é um livro que fala de amor. O amor dos amantes, o amor dos amigos, o amor da mãe pelo filho, do filho pela mãe, pelo pai, o amor que abala, que toca, que arrebata, que emociona, que descobre e encobre, que fere e cura, que prende e...