O drama de amar é não haver substitutos.
E todo o resto tem gosto de merda. Porque houve o seu abraço, porque existe o
seu cheiro. Te amei para sempre mesmo que já não te ame. Ficou em mim a tarde
em que pela primeira vez o nosso corpo (o seu arfar mostrando que língua se fala no
céu, a sua boca me mostrando o tamanho de um beijo), e a partir daí fiquei órfão de
um corpo sempre que não fosse o seu corpo. E quando chegou o dia da despedida
eu soube que tinha chegado o dia de para sempre.
O drama de amar é não admitir a morte.
Há uma mulher a mais sempre que amo um corpo que não é o seu. E um homem a
menos. Me deito, aperto, espremo (o encaixe perfeito das suas costas nos meus
braços, o cheiro dos seus lábios no suor do meu pescoço). E até um orgasmo
comprova a hipocrisia da carne. Me despedi de orgasmos quando me despedi de
você. Já me deitei com tantas e é sempre o seu boa-noite que me adormece.
O drama de amar é só criar réplicas.
Tudo o que eu amo é você. Uma boca, uma pele, um sexo. Tudo o que eu amo é
você. E não há mais perfeito oxímoro do que «amor novo». Só o seu amor é novo.
E não existe sucessão quando se reina assim. Te amar é uma monarquia fascista,
uma ditadura dentro de mim. O que vem depois de você só vem depois de você.
Sempre depois de você. A toda hora depois de você. O que vem depois de você só
vem depois de mim, e onde eu estou ou estou sozinho à sua espera ou estou sozinho
contigo. Se existe amor é porque existe você.
O drama de amar é te amar.

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Prometo Falhar
Roman d'amour"Prometo Falhar" é um livro que fala de amor. O amor dos amantes, o amor dos amigos, o amor da mãe pelo filho, do filho pela mãe, pelo pai, o amor que abala, que toca, que arrebata, que emociona, que descobre e encobre, que fere e cura, que prende e...