Dois quilos de arroz, quatro de cebolas congeladas, um engradado de leite e um
amor para sempre,
a lista de compras colada na geladeira, o fogão aceso, panelas no fogo, uma casa
normal como as outras e depois nós,
devia haver um limite para se ser de alguém só para o podermos ultrapassar como
deve ser, não devia?,
gosto de te apertar quando inventamos a ficção possível, quando basta o rebordo
da banca da cozinha para te amar, te encosto lá e digo que te amo, e o pior é que te
amo mesmo,
tem ideia da raridade da nossa rotina?,
ninguém acredita que alguém pode se amar vinte e quatro horas por dia pela vida
toda e nós também não, é tão ridículo chamar de vinte e quatro horas o tempo
absoluto que passamos juntos, nós o chamamos de vida e ficamos por aí,
são simples as palavras afinal, e nunca um amor morreu por falta de palavras mas
apenas por falta de amor,
não sei se te digo as palavras certas mas te amo como um poeta, escreva esta, por
favor.
Me dá um beijo molhado à porta do hipermercado e me faz feliz,
tão adolescente como você só o seu pedido, o seu riso estridente, a moça do caixa
sem saber se ri ou chora e as suas pernas já em volta da minha cintura,
não sei se se chama lábios o que me faz existir assim,
você não é a maneira mais certa de viver, provavelmente, mas é com certeza a
única possível, e isso me basta para tudo estar correto,
gosto de quando a felicidade pode ser medida, a sua mão onde a carne se ergue,
que raio de euforia é você?,
se Deus existisse você iria obrigá-lo a pecar, e você sabe disso, agora vem
comigo tomar banho, lava as minhas costas e esfrega a minha pele, não sei se é
romântico mas me faz chorar, me faz não saber o que eu quero a toda hora e é esse o
meu desejo,
quantos desequilíbrios exige uma felicidade?,
e ao final do dia ou da noite lá estaremos nós na casa normal, no sofá habitual, a
sua cabeça no meu colo banal, o seu cabelo no meio das minhas mãos vulgares, e
quem visse diria que seríamos mais um casal qualquer, e somos, mas não diga a
ninguém que é por isso mesmo que nada se compara a nós,
a única pobreza é ter apenas a realidade para viver, e ainda bem que o sabemos,
não é?,
não sei se te digo as palavras certas mas te amo como um poeta, escreva esta, por
favor.
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Prometo Falhar
Romance"Prometo Falhar" é um livro que fala de amor. O amor dos amantes, o amor dos amigos, o amor da mãe pelo filho, do filho pela mãe, pelo pai, o amor que abala, que toca, que arrebata, que emociona, que descobre e encobre, que fere e cura, que prende e...