Tenho de regressar obsessivamente para você,
aguento dois ou três minutos, às vezes quatro ou cinco quando consigo adormecer
um pouco, ler um livro que me leve, e depois volto, enfim, para a estranha
necessidade de te encontrar,
há em mim uma voracidade de afeto,
me tira o sossego que você consiga existir onde não estou, a sua pele consegue?, a
minha abdica, atira a toalha no chão e se lamenta, é possível ter uma pele que
reclama?,
tenho de aprender a prostituir as letras,
tudo o que escrevo e leio te traz, ontem li a bula de um medicamento qualquer e
inventei um poema, era mais ou menos sobre as contraindicações do seu corpo, os
malefícios do seu suor para a pele, e no final eu só queria tomar todos os
medicamentos para que algo de você pudesse me amar,
há em mim uma ferida por proteger,
o seu olhar é definitivo, e todo o resto passa e nem assim deixa de magoar, o
restaurante da Dona Laura que ontem perguntou por você, a menina está bem?, e eu
sorri, você é a menina de tanta gente e eu te queria só para mim, haverá amor sem
egoísmo, talvez, mas eu não o conheço e tenho raiva de quem o conhece, e da Dona
Laura também,
tenho de arranjar um nome para os seus lábios,
e para você também já agora, pensei em te chamar de água porque você me entra
e sai por todos os poros, depois me lembrei de te chamar de ar porque mesmo
invisível você me sustenta, e terminei te chamando de minha porque era tudo o que
me bastava,
há uma falta qualquer dissolvida no meu sangue,
gosto de ver um traço de Deus quando você acorda, os seus olhos aos poucos me
mostrando a extensão das nuvens, eu podia simplesmente ficar emocionado mas isso
seria superficial demais,
tenho de acreditar que a destruição do vazio é o objetivo primordial,
no fundo você existe para dissolvê-lo por inteiro, e só você consegui-lo é a
miséria intolerável de tudo isso, há uma instalação de pornografia e de prece quando
você acrescenta ao beijo o interior da sua coxa,
tenho de sentir o primeiro arrepio da morte, e o último de você,
me dê todos os dias o inesquecível para me esquecer de mim, sou tão tolo que
pensei que você não morria,
e tinha razão,
você pode até ir com o seu corpo para debaixo da terra,
mas nem pense que te deixo descansar em paz.

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Prometo Falhar
Storie d'amore"Prometo Falhar" é um livro que fala de amor. O amor dos amantes, o amor dos amigos, o amor da mãe pelo filho, do filho pela mãe, pelo pai, o amor que abala, que toca, que arrebata, que emociona, que descobre e encobre, que fere e cura, que prende e...