Prometo Falhar Part 40

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  Talvez a heteronímia seja a loucura aceita.
E não haja nome para o que não tem definição. Sou por aquilo que penso, por
aquilo que sinto — e não por aquilo que me chamam. Mas até o que me chamam me
faz. Talvez se eu fosse Carlos não amasse as mesmas pessoas, talvez se eu fosse
Fernando não quisesse os meus quereres, não tivesse os mesmos saberes.
Talvez o nome seja a pele de dentro.
E temos vários nomes na nossa pele. Mas quando dói doemos com o nome certo.
Se é para doer serei sempre o Pedro. Abraçarei os nomes que amo com as minhas
letras todas, não deixarei nenhuma reticência me afastar da frase que me define. Até
que chega a fuga. E posso ser o homem com medo dentro da minha temeridade, a
mulher vadia dentro da minha razão. Quando chega a hora da fuga todas as pessoas
estão dentro de mim. E é só assim que escapo do que, mesmo não sendo, só consigo
ser.
Talvez ser muitos seja a solidão permitida.
Passam as noites e os dias, e por entre eles passam as pessoas, passo entre as
pessoas que passeiam e que me passeiam, sem saber o que escrevo, para que
escrevo, por quem escrevo. E escrevo. Sou sempre eu, o sacana do Pedro,
escrevendo o Daniel, o Miguel, a Joana, a Maria. E tudo o que o Pedro escreve é,
mesmo não sendo, o que só o Pedro consegue ser.
Talvez inventar seja a verdade praticável.
Há quem não entenda o que é escrever. Eu não entendo o que é escrever. E é por
isso que escrevo.
Talvez escrever seja a vitória possível. 

Prometo FalharWhere stories live. Discover now