Prometo Falhar Part 49

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Há a urgência de uma coragem quando se chora assim.

J. me pede perdão e diz que não vai voltar a acontecer. Enrola-se no cobertor, limpa as lágrimas com a parte de trás do lençol e passa a tarde sofrendo. Não digo nada, não faço nada --- limito-me a ver o tempo passar e a dor se alastrar.

Ninguém sabe o que é o amor.

E é o que não tem perdão que mata. Quem é amado não tem o direito de fazer o imperdoável. Amar é grande demais para aguentar uma pequenez assim. <<Esqueça que me odeia e me ame até ao fim>>, ouço, o peito molhado por dentro, uma mão inteira me espremendo as entranhas.

Te amo tanto que não consigo me perdoar.

Lá fora, um pássaro me ensina a felicidade. Bate as asas e tudo à sua volta faz sentido.

O céu só existe para que seja possível voar.

Aqui dentro se ouve, por trás do silêncio, o grito que ele gostava de dar, a liberdade que nem a garganta consegue falar. E debaixo dos lençóis J. sofre, continua a sofrer --- o som das lágrimas me mostrando que nenhum lado do que é eterno é indolor. <<Sempre que me lembro dos seus lábios me esqueço do que me impede de você>>, e seria tão fácil me deixar ir embora, outra vez o abraço, outra vez a fé, outra vez as religiões da vida no altar de dois corpos. <<Me cure de não te ter ou me mate de uma vez>>, ela me diz, todos os meus músculos já no abraço dela apesar de só os olhos ainda a tocarem.

É através dos olhos que todo o perdão acontece.

Há algum fundamento para a entrada em diante da devassidão que pode ser feita para trás. Todas as sondagens te recusam, todos os inquéritos te abominam, todas as fórmulas que dizem que você é impossível. Sei que se você voltou, toda essa dor pode voltar um dia. Mas eu sei que você não está de volta, toda esta vai voltar todos os dias.

Não tenho motivos para entrar, mas entre por favor.

E todos os <<ai>> se dizem agora, todos os <<te amo>> se ouvem sem que nenhuma palavra se consiga contar, eu e os nossos fantasmas dizendo a linguagem dos incapazes, caminhando pelo pecado de nos sentirmos sem pernas e de só assim conseguirmos andar. <<Fale baixo para que o mundo não saiba que não está à nossa altura>>, e adormecemos assim, murmúrios escondidos no interior dos  lençóis, à espera de que ninguém saiba que voltamos a ser incompreensíveis. 

Ninguém entende o que nos juntou, mas ainda é estarmos juntos que é inexplicável.

Prometo FalharWhere stories live. Discover now