Prólogo

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O dia estava amanhecendo, e Zayn ainda não havia pregado os olhos. Ele se sentia cansado, mas o sono não vinha e todas as vezes que fechava os olhos e tentava dormir, imagens da noite passada lhe viam à cabeça. Seu coração se apertava no peito e as lágrimas apareciam. Rolando de um lado para o outro na cama king size, Zayn se pegou mais uma vez pensando em seu namorado, Stanley. Ele era perfeito, ou quase isso. Aos olhos de Malik ele era, sempre tão educado e romântico, não que Zayn gostasse de romance, ele achava um tanto clichê e desnecessário. Mas Stan fazia parecer que era algo tão comum que Zayn acabou por se acostumar aos beijos, abraços, carinho no cabelo e até mesmo nas bochechas, vindos dele.

Mas Stan tinha defeitos, e um desses era ficar extremamente explosivo e descontrolado quando bebia em alguma festa. Ele era fraco para álcool, mas não sabia admitir isso, o que tornava as coisas ainda mais difíceis para Zayn quando tinha que arrastar seu namorado para o carro e levá-lo para casa afim de o jogar embaixo da água fria. E naquela noite de festa tudo parecia querer dar errado, Stan já foi para a festa na casa de Harry praticamente bêbado e Zayn implorou para ele ficar em casa, mas o outro apenas disse que queria se divertir um pouco, o que fez com que Zayn fosse atrás dele. Mas o que ele não esperava, era encontrar Stanley agarrando outra pessoa em certo canto da casa, era um menino, não maior que ele, tinha cabelos loiros e usava uma calça apertada.

Obviamente, Zayn deu meia volta e correu para fora da casa, indo em direção ao seu carro. Mas Stan havia o visto e deixou o garoto de lado para correr atrás de seu namorado. Zayn negou, gritou e o empurrou. Como já sabia Stan estava bêbado, mas isso não significava que ele teria menos força ou brutalidade para empurrar Zayn para dentro do carro e entrar no banco do motorista. Stan atravessava todos os sinais vermelhos que havia no caminho, Zayn estava chorando, pedindo para ele parar o carro ou apenas diminuir a velocidade. E isso o irritou ainda mais, Stan pisou fundo no acelerador, soltando uma risada psicótica enquanto Zayn se encolhia no canto do banco rezando para o namorado parar com aquela brincadeira.

E Stan foi obrigado a parar quando fez uma curva perigosa aberta demais e por sorte Zayn agarrou o volante jogando o carro para a direita, antes que uma carreta passasse por cima do carro e os esmagasse. Mas Stan continuava com o pé no acelerador, e quando Zayn tentou retomar o controle do carro, ele acabou por empurrar o menor, virando o carro mais uma vez para a direita. Daquela vez Zayn não fez nada a não ser gritar e fechar os olhos enquanto o clarão do carro que ia na direção contrária atingiu seu rosto. A mulher que dirigia o outro carro, girou o volante a tempo e por outro golpe de sorte não bateram de frente. Mas o carro capotou três vezes. Stan, que estava sem sinto de segurança, foi lançado para fora do veículo e Zayn ficou preso entre o banco e o porta luvas completamente amassado e destruído.

Zayn se lembrava de tossir, vendo sangue escapar por sua boca, ele sentia os cortes em todo lugar, causados pelos cacos de vidros que haviam explodido. Depois disso, ele desmaiou, e acordou três semanas depois no hospital local onde seu pai trabalhava com a terrível notícia de que Stan, seu Stan, estava morto. Como previsto, Zayn chorou, se culpou, chorou mais e quase colocou o quarto abaixo em um ataque de raiva. E depois de um mês frequentando o psicólogo e um psiquiatra sem faltar um dia, Zayn finalmente voltaria para a escola, tentar recuperar suas notas no segundo semestre.

Mas sua família sabia que talvez nunca mais voltasse a ser aquele garoto sorridente, irônico, muitas das vezes irritante e insuportável, que era antes. Ele estava incrivelmente mais frio, amargo, arrogante, e respondia a todos vagamente. Entretanto, o psicólogo havia dito a eles que depois de um tempo isso iria passar, mas as cicatrizes continuariam ali. Zayn mudou completamente, ele enxergava tudo pelo lado obscuro, quase não sorria mais além de aparecer frequentemente com cortes novos nos pulsos quase todas as semanas. Por conta disso, Trisha o obrigava a ir no psicólogo três vezes por semana e ao psiquiatra apenas uma, mas Zayn não abria a boca para falar nada. Nem ao menos chorava como fazia no começo. Ele apenas chegava, se sentava, e ficava quieto.

Vez ou outra ele pegava um lápis e começava a desenhar na folha branca, retratando sempre uma floresta escura, sombria, com árvores distorcidas e cheias de espinhos. E no final, ele assinava o desenho com um simples “Z. Malik”, e atrás da folha escrevia o nome da obra, “My Heart, My Mind”. O médico achava que aquilo já era um avanço, mas quando perguntava a Zayn sobre o que ele queria dizer com aqueles desenhos, ou era ignorado ou obtinha respostas vagas como, “Você não é cego, então leia” vindas do garoto.

E não tinha motivos para aquele dia ser diferente, ele teria mais um dia de aula cansativo e estressante, depois seguiria para o consultório do Dr. Gregg Watson, o psicólogo. Ele se sentaria em uma poltrona branca e confortável, olharia para o doutor por alguns minutos enquanto se esticaria até alcançar o pote cheio de lápis e canetas. Ele desenharia um céu nublado, a chuva caindo em si mesmo, caminhando de costas pela chuva. Na verdade desenharia apenas um borrão, pois era assim que ele se sentia.

Zayn deu um sorriso para si mesmo, já sabia o que iria fazer no seu dia. O relógio ao lado de sua cama marcava exatamente 03:00 da manhã. Ele gostava daquele horário, lembrava Stan e toda a sua palhaçada sobre espíritos. Pensando nisso, Zayn rolou novamente pelo colchão, fechando os olhos e tentando concentrar seus pensamentos em sua futura obra.

Se chamaria “Noventa dias de noite”, pois fazia três meses que Stan havia morrido.

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Feelings - Ziam VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora