Que saudade! Passei naquela rua cheia de árvores e a casa continuava lá: bem antiga, amarela, com jardim de rosas na frente. Fiquei a procurando. Por um instante, me lembrei de que ela não está mais aqui.
Minha mãezona. Estava em todos os momentos: na minha primeira menstruação, no almoço gostoso de domingo, nas tarde das férias e nas manhãs antes da aula. Mas, às vezes, o tempo é traiçoeiro, nos engana, transforma os cabelos loiros em grisalho, passa tão rápido que nem percebemos.
Minha avó viveu a vida inteira naquela casa, fico imaginando-a criança italiana espoleta, pulando e brincando naquele jardim. Depois mais mocinha beijando na porta de casa. Em um piscar de olhos, já estava casada, grávida do meu pai. Depois avó, como eu sempre me lembrarei dela: carinhosa e amorosa.
Minha vó Branca foi apelidada assim na juventude por sua pele que era como a neve. Na foto branca e preta que fica guardada no armário, minha avó estava jovem, magra e de altura mediana. Os cabelos loiros harmonizavam com os olhos verdes e davam-lhe a aparência de anjo. O sorriso estampado no rosto mostrava na fotografia que era o dia do seu casamento. O tronco e membros pequenos denunciavam que acabara de "ficar moça". Vestia um longo e branco vestido de noiva, parecia uma princesa.
A jovem magra transformou-se em uma idosa fofinha e baixinha, uma típica e querida avó de novela. A pele branca foi pintada de sardinhas, que lembram as minhas. Várias pintinhas espalhadas pelo rosto todo, como as estrelas no céu. Os cabelos loiros foram pintados de brancos, mas permaneceram enrolados. Os olhos verdes e o sorriso no rosto nunca mudaram. O troco e os membros continuavam pequenos e sempre estampava conjuntinhos, de blusas e bermudas combinadas.
Sinto-me cheia de saudade quando penso nela. O tempo é tão traiçoeiro que leva a pessoa que mais amamos, nossa mãezinha. Como sinto falta do ovo quente ou de chegar de manhã cedo e ir dormi na cama com ela. Do macarrão instantâneo, com as novelas.
Sempre sonho com a minha avó, no sonho peço incessantemente para ela ficar e não ir embora. Mas, ao olhar para o céu, para a imensidão das estrelas no universo, me sinto tranquila, me lembro dela, dos seus ensinamentos, de sua sabedoria e de seu amor.
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AS ESTRELAS SÃO AS PINTAS DO UNIVERSO
RandomO livro "As estrelas são as pintas do universo" é uma coletânea pequenas crônicas sobre identidade, amor e afins, escritas por uma adolescente. A busca de si mesma, a procura incansável pelo príncipe encantado, o término do namoro, a dúvida de que c...