Era manhã, tinha muitas pessoas reunidas, cantando hinos e músicas. Eram muitos: crianças, idosos, mulheres, homens. Eles vestiam ou a blusa ou o boné vermelho.
Era um acampamento inteiro que se mobilizava. Gritavam: "chega de latifúndio parado". Eles queriam plantar horta e ter a terra dividida. Porém, a terra em questão tinha dono e cerca, quinhentos mil hectares, de uma antiga plantação de cana.
O proprietário, que não era bobo nem nada, chamou a polícia, "a terra é minha, a lei tá do meu lado". A polícia chegou, metendo bala.
As barracas de lona preta voavam. A princípio foi bala de borracha e bombas de efeito moral, mas os sem-terra resistiram, não saíram do local. Aí vieram as balas que matam. Correria e sangue para todo lado. Crianças e mulheres foram tiradas a força, arrastadas.
A consequência do combate foi um morto. Um sem-terra, sem-nome, sem-sobrenome, sem-documento, sem-vida. Conseguiu a terra tão sonhada apenas na hora da morte. Ganhou uma cova e uma lápide, que estava não escrita um nome, mas uma frase: "Até quando a propriedade vai valer mais que as pessoas?".
*Texto inspirado na música "Funeral de um lavrador" – Chico Buarque.
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AS ESTRELAS SÃO AS PINTAS DO UNIVERSO
RandomO livro "As estrelas são as pintas do universo" é uma coletânea pequenas crônicas sobre identidade, amor e afins, escritas por uma adolescente. A busca de si mesma, a procura incansável pelo príncipe encantado, o término do namoro, a dúvida de que c...