Prólogo

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- Não estou preparada para ver a minha menina a sair de casa. -Dizia o meu pai, ajudando-me a pôr as malas na bagageira do carro.
- Pai, já tenho 19 anos, já sabias que um dia isto ia acontecer. Para além que não vou fugir, vou apenas estudar. - Tentei acalma-lo, mas na verdade acho que não há nada neste momento que consiga fazer para acalmar o meu pai galo.
-Exatamente, estudar mas para outro país. Será que não viste aqui nenhuma escola que gostasses, Alana ? -Revirei os olhos em desagrado.
- Sabes bem que as escolas daqui não se comparam à educação lá fora.
-Eu sei, mas mesmo assim filha...
-Vai correr tudo bem e vou ter companhia.
-Agora é que fico com dúvidas se vão mesmo estudar ou ir só às festas da Universidade.
-Pai, até parece! - Podemos ir a uma ou outra, não minto mas quero mesmo estudar. - Sabes que vou mesmo para estudar. Quero ser uma editora no futuro e para isso tenho de trabalhar muito para o conseguir. 

Conseguia ver a mãe de Julie a olhar para o meu pai e a acenar a concordar. Julie também não estava a achar piada mas conseguiu desviar a conversa para outro lado.

-Ensinei-te bem. - Deu-lhe um beijo leve na testa e entrei dentro do carro. O meu pai fez questão de fechar a porta . O seu olhar estava triste mas contente ao mesmo tempo. Era uma mistura de emoções mas eu compreendo bem o sentimento, afinal sentia-me igual. - Boa sorte, filha. Não te esqueças de me ligar quando chegares. Boa sorte também para ti, Julie.- Acenou e caminhou para junto do portão de casa.

-Não me esqueço, pai. Adoro-te.- Consegui ler os seus lábios a repetir o mesmo que eu.

- O teu pai está mesmo preocupado.- Disse Julie mexendo freneticamente no telemóvel. Os seus olhos estavam vidrados no pequeno ecrã  e não descolavam por nada que fosse.

-É normal, a tua  mãe também está.

-A tua amiga compreende-me bem. - Falei baixinho mas conseguiu ouvir-me à mesma.

-Mãe, já falamos sobre isso. Eu vou para uma escola de hotelaria e vou ser a melhor no ramo e a Alana vai ser a melhor editora dos Estados unidos. Não te preocupes, vai tudo correr bem. - Ela revirou os olhos em desacordo, mas não havia nada que pudéssemos fazer para acalmar os nossos pais. 

- Tens aqui uma escola fantástica de hotelaria. Não queres ir porque a tua amiga vai para fora e  queres ir com ela.- Sentia-me mal estar no meio desta confusão mas não fazia questão de me meter no meio da conversa.

-Chega , mãe! Quero ir descansada para lá. Vais ficar bem sem mim, afinal o negócio do pai está a correr bem, o teu trabalho também e a mana acabou o curso e arranjou logo trabalho numa clínica. Agora é a minha vez de seguir o meu sonho.

-Já não está aqui quem falou. - Não parecia estar mais convencida que à pouco mas sempre deu para parar com esta conversa.

-Alana, avisaste o senhorio das horas que íamos chegar para receber as chaves?

-Sim, mandei mensagem ontem à noite e ele disse que mal cheguemos ao aeroporto para dizer alguma coisa para depois ter tempo de ir ter connosco ao apartamento.

-Vamos chegar cansadas e preciso logo da minha cama.- Como eu a compreendo. Já fiz viagens antigamente e nos dias de chegada e partida são sempre os mais aborrecidos e cansativos.

-Conseguimos mesmo um bom preço por aquele apartamento, o do Campus são muito mais caros . 

-E melhor ainda , vem mobilado. Poupou muito dinheiro a mim e ao teu pai. -Disse a senhora Miller aliviada.

-Sim, mãe mas pelo menos ficamos as duas juntas, num apartamento a 10 minutos da universidade com tudo que necessitamos perto de nós.

-Tivemos mesmo sorte, Julie. Compensou mesmo muito começar a procurar antes do verão.- Normalmente é nessa altura que as pessoas se preocupam em procurar, e quanto mais cedo encontrássemos um apartamento, melhor. O meu pai ainda ficou um pouco desconfiado por ser um apartamento em conta e mobilado mas eu acredito que seja de confiança. O senhor chegou a falar com o meu pai e a mãe de Julie e pareceu verdadeiro.

-Eu queria levar o carro para lá.

- Não me parece que compense muito, Julie. Temos tudo muito perto de nós e se for preciso de levar algo mais pesado chamamos um táxi.

-Pois, tens razão .- Posou o seu telemóvel no colo quando começamos a ler as primeiras placas do aeroporto. Entramos no parque de estacionamento e a mãe de Julie deixou-nos na entrada e foi estacionar o carro. Entramos para a zona da nossa companhia aérea onde   tínhamos  de fazer o check-in e encaminhar as malas. Ambas tínhamos uma mala de porão e uma de mão completamente cheias. Estava preocupada especialmente por a minha parecer uma bola gigante prestes a rebentar.

- Escapaste por uma unha negra. A balança marcava mais dois quilos do que devias trazer.- Bem me parecia que estava demasiado cheia mas a senhora foi simpática e fechou os olhos.

-Agora temos que ir para aquela fila gigante esperar que abra para irmos para o outro lado. A tua mãe vem ali, chama-a.- Julie gritou e um grupo de gente ficou chateada mas ela nem se importou um pouco.

-Escusavas de gritar, eu estava a ver-vos.- Na verdade não estava mas não vou contradizer a senhora Miller.- Abre a que horas as portas?

-Dentro de uma hora mas entretanto passamos para a sala de estar do outro lado mas nessa não podes ir mãe, só mesmo as pessoas que vão viajar.

-Oh pronto, filha. Precisam de alguma coisa para comer no avião? Querem dinheiro para levar para lá?

-Não te preocupes mãe, tenho dinheiro que chegue e tenho mais no banco. 

-E tu Alana?

- Estou bem, obrigada. - Agradeci o seu gesto e mandei mensagem ao meu pai a dizer que estava na fila de espera para ir para o avião. Ele respondeu quase imediatamente e consegui imagina-lo agarrado ao telefone este tempo todo à espera de uma mensagem minha. 

-Alana, estou a morrer de entusiasmo e tu estás com essa cara apagada?- Eu estava entusiasmada mas não parava de pensar no meu pai sozinho naquela casa. A verdade é que depois dos meus pais se divorciarem quando era ainda um bebé, nunca mais teve ninguém. Por um lado é bom e por outro é mau. Eu queria alguém que o fizesse feliz e que cuidasse dele, principalmente agora que está sozinho.

- Eu estou contente, acredita. -Esbocei um leve sorriso que fez os seus olhos esverdeados brilharem.

-Acho bem que sim. Vamos adorar esta nossa nova vida.- Abraçou-me com tanta força que os meus olhos iam  saltando da cara. A mãe dela deu uma gargalhada baixinha e agarrou também a filha.

-Mãe, hoje estás mesmo sentimental.

-Pois estou, afinal a minha filha vai sair do ninho.- Gostava de ter tido uma mãe assim quando estava a crescer. Mas para compensar tive um bom pai que sempre me amou e cuidou de mim.

A fila rapidamente avançou e em poucos minutos estávamos a duas pessoas de passar para o outro lado. Consegui ver os olhos da senhora Miller a encherem-se de água e Julie não conseguiu evitar derramar também algumas lágrimas.

-Adoro-te mãe e vou ter saudades tuas e da tua comida.

- Também te adoro, filha mesmo muito. -Abraçou-a fortemente contra o seu peito.- Alimentem-se as duas como deve ser senão vou aos Estados Unidos enfiar-vos comida pela boca abaixo.

- Mensagem recebida mas não vai ser preciso.

- Bom dia, menina o seu bilhete.- Estiquei o meu ao segurança para ele verificar. Despedi-me rapidamente da Senhora Miller e passei para o outro lado. Julie veio atrás de mim ainda com lágrimas nos olhos mas cheia de alegria quando passou o detetor de metais.

-Vamos lá começar a nossa aventura!





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