Capítulo 2- Deus grego

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Escusado será dizer que fiquei até ás quatro da manhã acordada. Primeiro foi música alta até ás duas da manhã. Quando finalmente pensei que tinha acalmado , era só portas a abrir e a fechar. E quando menos esperava foi sons de acasalamento que se fez suar na hora seguinte.

-Que nojo. Eles não souberam fazer menos barulho? -Pergunta Julie enojada com o que tinha acabado de revelar.

-Pareciam cães com o cio. Eu não sei se estava a casa cheia , mas se foi só duas pessoas fazem mais barulho que sei lá o quê.

-Conseguiste ficar no quarto aquelas horas todas? - Deu uma trinca na sua sandes de queijo fresco.

- Achas? Mal ele começou a dizer coisas sem sentido , agarrei na minha almofada e na manta e vim para a sala.

-Mas o que é que ele dizia?

-Gritava o nome da suposta rapariga. A mim parecia um gago porque só conseguia ouvir "CA, CA , CA, CASSIIIEEEE.- Julie desatou a rir com a minha demonstração, mas é verdade, aconteceu literalmente assim.

-Meu Deus, isso é que foi uma festa ontem à noite. Ainda bem que não ouvi nada. - Que sorte tiveste, pensei. - Bem hoje que queres fazer?

- Não tinha nada programado. Já falei com o meu pai à pouco e agora estava a pensar ficar em casa a descontrair.

-Estás cansada não estás?

-Um pouco mas não é isso. Quero descontrair aqui de manhã e à tarde estava a pensar ir dar uma volta e podíamos ir ao cinema, que achas? - Ela esboçou um sorriso.

-Parece-me bem. Quero ver aquele filme de animação.

-A tua sorte é que hoje está a apetecer-me ver uma comédia, e esse mesmo sendo de animação dá para rir.

-Sendo assim eu vou fazer a minha corrida matinal e depois volto para ajudar-te com o almoço, combinado? - Assenti com a cabeça e Julie caminhou para o quarto para se ir trocar.

Pegou nas chaves , agarrou no seu telemóvel e numa garrafa de água.

-Até já, Alana.- Despedi-me dela e sentei-me no sofá. Eu não era muito dada a fazer exercício físico todos os dias e muito menos à frente de outros. Não é que não gostasse mas não era hábito. Eu tinha uma máquina em casa para fazer exercício mas não a trouxe para aqui, por isso de vez em quando lá vou ter de correr. Mas vou cedo. Ninguém está acordado ás seis da manhã, assim dou uma corrida e preparo-me para a escola.
Ouço o trinco da porta e fico espantada a olhar para Julie de olhos esbugalhados e de boca aberta.

- O que se passou? Estás bem? -Caminhei para junto dela e puxei-a para dentro. Ela fechou a porta e um sorriso apareceu na sua cara.- Mas o que se passou afinal? Estás esquisita.

- Acabei de conhecer o rapaz mais bonito do mundo.

-Não achas isso um exagero? Sabes, existe  muitos rapazes giros que ainda não viste. - Ela nem se importou com o que eu disse. Na cabeça dela ele devia ser um autêntico Deus grego.

- Alana ele era mesmo um borracho!

- Então esse borracho tem nome?

- Ashton mas ele deixa-me tratar por Ash. -As suas bochechas ficam rosadas e um sorriso maroto forma-se.

- Já com essas confianças e mal se conhecem? - Disse em tom de gozo.

- Ele parecia ser um bom rapaz e bastante divertido. Ele mora no nosso andar também. Sabes. Uhh. É o vizinho do lado. - Esta última parte já disse com mais receio.

- O quê? O cão com cio do outro dia?

- Isso não sei mas ele disse que era solteiro. 

- Então é mesmo só um cão tarado. - Ela revirou os olhos. Não sei o que se passava mas este rapaz enfeitiçou-a bem.

- Não sejas assim, até nem podia ser ele. - Aquelas horas quem podia ser,pensei. 

-Mas também não é da minha pessoa julgar alguém ou o seu estilo de vida. - Acho que estava a julgar um pouco na minha cabeça mas ninguém sabia a não ser eu.

- Ele convidou-me para a festa de domingo à noite no seu apartamento. Ele também disse que pod--

- Dispenso. Estou mais feliz longe dessas confusões. 

- Vá lá, disseste que tinhas curiosidade a ir uma festa da Universidade e para além disso não conheço ninguém nem tu. Era uma boa oportunidade de conhecer gente nova.

- Julie desculpa mas não é a mesma coisa uma festa daqui com uma no campus. Quando houver mesmo uma na Universidade vou mas esta dispenso. E eu conheço-te, facilmente fazes amizades sem mim.

- Mas tu não. - Obrigada pelo apoio mural.- Precisas de socializar ou pensas ficar aqui fechada a estudar?

-Não é uma coisa que me incomode muito.

-É tão frustrante falar contigo. Estou a tentar convencer-te de algo mas não queres dar uma oportunidade.

-Julie não estou interessada, aceita isso. Vai tu e diverte-te.- Ela acabou por não insistir mais e aceitou a minha decisão. Visto que ela só tinha voltado para falar do rapaz, saiu novamente para fazer a sua corrida.

A manhã passou a correr. Decidi ir beber um café enquanto a Julie não chegava e depois fui para casa começar a fazer o almoço . Decidi fazer uma salada fresca, com legumes ,queijo e sementes de linhaça . Hoje estava muito calor e não me apetecia estar a comer refeições quentes. Julie chegou minutos depois e foi tomar um duche rápido antes de atacar o prato de comida.

- Estava mesmo esganada !

- Não me digas?

- Engraçadinha que ela é. Pena que só mostra esse lado a mim. - Era verdade que só brincava assim com ela mas também era a pessoa com quem me sentia mais à vontade. Sem apontar que era a minha melhor amiga, por isso acho normal. 

-Devias de te sentir honrada.

- E sinto, Alana mas podias deixar mais gente entrar nesse coração mole coberto de ervas daninhas. Isso é tudo fachada. Tu és boa pessoa e se deixasses acontecer tinhas um grupo gigante de pessoas a gostar de ti.

-Não vamos voltar a essa conversa pois não? 

- Já não está aqui quem falou. -Meteu as mãos no ar em redenção e deu uma garfada na salada.

- Então mais daqui a pouco vamos ao cinema. Temos sessão as três e quarenta e cinco. Se quiseres podemos arrumar as nossas roupas que ainda estão nas malas e depois damos uma volta e vamos ao cinema, que achas?

- Parece perfeito.

- Não gosto de ver a minha roupa toda embrulhada na mala. Depois vou ter de passar tudo. - Eu tinha enrolado tudo para caber mais coisas, por isso a minha roupa estava uma confusão.

Já passava das seis da tarde. O filme tinha superado as minhas expetativas e na verdade era mesmo muito engraçado. Rimos as duas até a barriga doer . Até choramos de tanto rir. A noite tinha arrefecido e ainda bem que me lembrei de trazer um casaco. Fomos a um café- bar e acabamos por jantar por lá. Enquanto comíamos, ouvíamos a banda que estava a tocar esta noite. Era um bom bar para ir sábado à noite. Não tinha muita confusão e o ambiente era agradável.

Passava pouco das dez quando chegamos a casa. Lavei os dentes rapidamente e vesti uma t-shirt azul e uns boxers para dormir. Decidi ir ao quarto de Julie para falar um pouco com ela. Bati à porta e ela deu-me licença para entrar.

- Precisas de alguma coisa?

- Não, queria só desejar boa noite antes de ir para o quarto. -Olhei para um monte de roupa ao fundo do quarto que ainda estava por arrumar. -Precisas de ajuda com isso?

-Oh não. Amanhã arrumo isso de manhã. Hoje não me apeteceu fazer mais nada. -Assenti e desejei-lhe boa noite.

-Boa noite, Alana.-Fechei a porta e apaguei as luzes da sala.

Sentei-me na cama a ler o livro. Estava a achar estranho não haver barulho no outro lado da parede mas agradecia imenso o sossego que estava a ter. Podia ser que esse tal Ashton tivesse afinal um lado bom e respeitador.

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