Capítulo 43 - Hora de seguir em frente

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O relógio marcava as dez da manhã e era oficialmente o último dia ante de voltar para casa. Não o apartamento em Nova Iorque mas sim o sítio onde cresci e vivi durante os meus dezanove anos.  Agarrei na minha mala pequena e tirei algumas peças de roupa para levar. Muito provavelmente ia fazer compras lá e trazia para cá. O tempo estava quente e lá a temperatura  era muito idêntica aqui. Depois de pôr o que necessitava na mala, fechei-a e coloquei a um canto da sala. Meti o meu portátil na bolsa dele com toda a electrónica e meti por cima da mala. Não ia precisar dele hoje. Ia passar a manhã a treinar em casa e depois à tarde ia beber café com Cassie e Calum para me despedir deles antes de ir. Tinha ainda de passar na Universidade para tratar de uns papéis para o próximo ano. Ia ser um ano mais prático o que me deixava mais entusiasmada para começar a estudar, por muito estranho que pareça dizer isto. Tinha também de deixar o pagamento deste mês que vou estar fora ao meu senhorio. Adoro este apartamento e não queria que o senhor pensasse que não era de confiança e que me fosse embora e o deixava com a batata quente na mão.

Coloquei a minha roupa confortável para treinar e fui para o meu quarto . A minha cabeça estava uma confusão e o meu coração despedaçado . Não saí de casa desde aquele dia. Não tenho tido vontade para ver ou falar com ninguém. Eu sei, parecia um bicho do mato mas estava demasiado vulnerável e exposta para deixar alguém chegar-se demasiado perto de mim.  Ele não voltou a bater na minha porta e agradeço por isso. Por um lado fico triste porque só confirma que não sou mesmo nada para ele. Ou melhor, fui. Passado. Se fosse, ou se ele tivesse mesmo a dizer a verdade não desistia de falar comigo tão facilmente. O meu cérebro é estúpido por ainda não entender que essa opção não é bem uma opção. Isso só acontecia se ele fosse um pingo daquilo que eu imaginava que ele fosse, o que afinal acabei por confirmar da pior maneira que não era. Julie, ainda era pior. Escusado será dizer que ele me avisou. Ele sabia muito bem do que falava ,visto que sempre se conheceram melhor que eu alguma vezes os conheci. Fingiu ser minha amiga e estar arrependida para quê? Para mostrar que consegue mentir bem? Isso já eu sabia faz tempo. Para me magoar mais? Não percebo porquê. Quero esquecer que alguma vez estive tão perto de classifica-los como pessoas importantes para mim. São lixo, e não merecem que me tenha dedicado tanto a eles. Mas na verdade não culpo a Julie pela traição . Ashton é que me traiu. Julie não era nada a mim, mas Ashton era. Era o meu namorado. E ele é o único culpado pelo que me fez. As mulheres têm sempre a mania de culpar a outra mulher pela traição do namorado ou marido, mas na verdade será que elas não vêm que quem traiu foi o homem? Aquele que nos prometeu o mundo , o céu e as estrelas? O que disse que ia tratar de nós como princesas? Aquele que nos jurou a pés juntos que nunca ia fazer tal crueldade, mas no entanto fez. Ela não foi parar à cama dele sem ter sido convidada, pois não? Ela podia ser tudo do pior mas não foi ela que destruiu a nossa relação, foi ele.

Quando dei por mim já tinha as mãos doridas de tantos murros que tinha dado no boneco. Ele também estava torto de o ter batido mais num lado que no outro. Olhei para a mesa de cabeceira e o despertador marcava as onze e quarenta e cinco. Era hora de tomar um duche. Liguei a água e deixei correr um pouco antes de entrar. Despi as minhas roupas e coloquei no cesto de roupa suja. Soltei o cabelo e olhei-me ao espelho. Mal me reconhecia. Estava pálida mesmo depois do exercício intensivo. Os meus lábios estavam sem cor ou expressão . Já não sorria faz tempo . O meu cabeço estava sujo mas não me incomodou nada. Afinal acho que nada me incomoda mais . Estava serena e calma pela primeira vez, mas não sei se isso era bom ou mau.  Os meus ossos estavam mais salientes agora. Tenho feito mais exercício. Com mais tempo livre sem as aulas era o que me ocupava . Também não tenho tido grande apetite. Tenho que entrar nos eixos para não ficar doente. A última coisa que queria era arranjar problemas ao meu pai. Entrei no chuveiro e sentei-me deixando a água escorrer pelo meu corpo. Posei a minha cara no meu joelho e ali fiquei parada. A água acalmava-me. Ajudava-me a reflectir e a esvaziar a mente dos problemas, sempre foi assim , não sei explicar porquê. Não queria pensar nele mas ainda sentia um nó no peito. Em parte por nunca termos discutido e ter tudo guardado cá dentro para mim. A mágoa, a tristeza, a traição, tudo estava dentro de mim e não sei quanto mais ia aguentar sem explodir. Agora aparentava estar bem mas não estava. O meu interior não me deixava descansar e estava a consumir-me aos poucos. 

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