Capítulo 47 - Por favor

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Estava sentada no sofá a encarar as minhas mãos entrelaçadas uma na outra. De vez em quando encarava o chão e tudo à minha volta. Tudo menos Ashton. Eu ia quebrar se o fizesse, eu sei. Não sei até que ponto estava preparada para o ouvir, principalmente porque não sei se vou ouvir verdades ou mais mentiras. Eu não quero sofrer mais, não quero mesmo. 

-Eu estava em casa e tocaram à campainha. Segundos antes tinha recebido uma mensagem tua a perguntar se ia estar livre à noite ou não . Eu estava à procura de emprego no portátil e a ver alguns anúncios no jornal nessa altura e como estava concentrado no que fazia apenas abri a porta sem dar grande importância. O problema é que não eras tu mas sim Julie. Ela trazia um bolo e um sumo de laranja .  -Olhei-o com cara de quem está à espera de chegar à parte que interessa. - Espera, deixa explicar. Eu tentei manda-la embora mas ela disse que precisava de ser perdoada também por mim e por isso trouxe aquilo de boa fé. Eu aceitei, não pensei que houvesse mal nisso não achas? Na altura também estavas melhor com ela e acreditavas que ela estava mudada, por isso até que acreditei também.

-Ela mente bem, nisso tenho de concordar. -Disse entre dentes. Não sei como uma pessoa pode ser tão baixa .

- Pronto. Ela sentou-se sem eu a ter convidado e serviu-me. Disse que ia embora e deixou-me as coisas em cima da mesa. Eventualmente eu comi. Tinha bom aspeto e tinha fome. Depois de comer comecei a sentir sono e fui-me deitar até que adormeci por completo. - Assustei-me quando senti pêlo a roçar-se no meu braço.

-Noir? Que faz ele aqui?

-Bem, isso é outra história. - Olhei-o e ele esfregou a cabeça envergonhado. - Eu vim para aqui à uma semana.

-Como entraste, afinal? A Cassie deu-me a chave que te tinha dado.

-Pois, eu fiz copias porque já sabia que a ia perder e preferi prevenir.- Revirei os olhos e cheguei-me para trás para me encostar no sofá. - Não fiques chateada, senti apenas a tua falta e não estavas aqui , não me pareceu mau na altura, mas agora vejo que não o devia ter feito.

-É o meu espaço, não devias ter entrado sem autorização. - Ele esboçou um sorriso fraco mas vi que tinha ficado tristonho. - Não estou chateada, apenas aborrecida mas passa. - Fiz uma pausa. - Continua a tua versão da história . - Ele olhou-me nos olhos mas desviei. Aqueles olhos faziam tremer o meu mundo ainda e acho que vai ser sempre assim.

- Acordei apenas com alguém em cima de mim e pensava que eras tu.

-E eu tenho cara de violadora para estar toda descascada como vim ao mundo a abusar de ti enquanto dormias? - Só notei no quanto a frase fazia-me rir. Foi mesmo uma boa escolha de palavras, mas mesmo assim tentei parecer séria , porque na verdade era mesmo muito sério e deu por fim à nossa relação. Mas era verdade. Mas porque ele tinha pensado isso? Eu nunca ia fazer isso.

-Não é isso, apenas só podias ser tu não é? O cabelo parecia o mesmo e não tive tempo de te tocar para perceber se era ou não. Também estava escuro e não conseguia ver a sua cara. Quando comecei a ouvir gritaria é que percebi que afinal podias não ser tu, mas quando cheguei a essa conclusão, aquela miúda já estava vestida a encarar-me orgulhosa do que tinha feito. Não parou de repetir " Finalmente és meu".

- Ela drogou-te? - É possível. Ele ficar assim depois de comer algo que ela lhe deu era de desconfiar.

-Sim. Eu desconfio que sim. Perguntei-lhe uns tempos depois de teres ido embora e ela confirmou. Ela ainda teve a lata de dizer que foi para o meu bem. Que devia de estar com alguém como ela. Tenho nojo dessa miúda. Ela é capaz de tudo para conseguir o que quer, e isso é muito preocupante.

-Então vocês, tu sabes não dormiram juntos? 

-Não, Alana nem eu bem estava em condições para isso. -Tive vontade de sorrir com isso. O rapaz estava mais a dormir do que outra coisa, como podia pensar nisso. Não sei se foi sorte ou azar mas de certa forma fico contente de não se terem envolvido. Mas mesmo assim, não sei se pode ser tudo fingimento...Não sei. - Acreditas em mim? Eu preciso de te ouvir dizer que acreditas em mim. - Ele pegou nas minhas mãos mas eu não consegui que ele me tocasse. Ainda era muito cedo.

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