Capítulo 42- Não te quero ver

52 13 24
                                    

Ainda me custava a acreditar que aquilo de ontem não passou apenas de um pesadelo. Olhei para a porta do apartamento e sei que fiquei estendida aqui o resto da noite. Senti o chão frio colado à minha pele, mas não pareceu incomodar-me. Estava de rastos, como não havia de estar? A pessoa que mais confiei no mundo traiu-me. Como posso perdoar uma coisa destas? Não posso e não consigo. Pensava que ele estava feliz como eu , mas não passava tudo de mentiras. Mentiras e mais mentiras que ele me deve ter contado ao longo destes meses. Quando me dizia que me amava já era só por dizer. Uma simples frase feita sem qualquer sentimento à mistura. Eu não era nada para ele. Absolutamente nada. Uma simples miúda que o deixou brincar com ela. Era isso que ele queria? Brincar comigo. Depois de conseguir o que queria já não importava mais quem eu era ou o que sentia por ele. Eu é que fui estúpida ao ponto de me apaixonar por alguém como ele. Como fui tão cega? Já sabia que tipos como este não mudam, nunca. Ele tinha provado ser o pior e mesmo assim vi o melhor nele. Numa coisa ele tem razão, não passo de uma ingénua e fácil de enganar. 

Arrastei-me até ao sofá e sentei-me com a cabeça apoiada nas mãos. Queria desaparecer deste mundo. Eu estava a sofrer. Tanto que já não conseguia respirar. Não conseguia pensar ou sentir algo bom, apenas ódio e desilusão. A desilusão fazia-me doer o peito. As memórias que me vinham à cabeça tornavam-se em lágrimas que me escorriam pelo rosto. Estava abalada e pior que tudo destruída.  Olhei o meu reflexo pela televisão. Não era o suficiente para ter uma imagem nítida de mim, mas eu sabia que estava um caco. Não tinha fome alguma. Queria dormir e dormir e mais nada. Não quero falar com ninguém. Quero ficar sozinha. Depois lembrei-me. Ashton tinha uma chave do meu apartamento. Corri para a porta e coloquei uma cadeira a prender a fechadura. Assim não conseguia entrar. Tranquei com a corrente e corri para o quarto. A janela estava fechada e pouca luz deixava passar. Tinha o telemóvel desligado . Olhei em volta e o meu quarto parecia mais pequeno do que o normal. Como se um buraco se estivesse a formar  por debaixo de mim e eu estivesse a ser engolida. Não me parecia mau neste momento. Eu queria mesmo desaparecer. Ir para outra realidade que não esta. Escondi o rosto na minha almofada molhada. Não sei quantas lágrimas tinha para chorar ainda, apenas sei que era a única coisa que me aliviava. Sou fraca por estar assim por alguém que não merece mas quem não passou por isto não percebe. Como pode perceber? Eu entreguei-me a ele. Deixei-o conhecer-me por inteiro , e em troca ele reduziu a minha existência. 

Ouvi a porta, a campainha e gritos. Estava desesperada se fosse ele e conseguisse entrar. Não conseguia ver ou ouvi-o. Eu morria aos seus pés se ele me tentasse tocar mais alguma vez.

-Vai embora. - Sussurrei tremendo contra a almofada.- Vai embora.- Quem quer que seja não pareceu interessado. Os murros contra a madeira faziam ecoar pela divisão . Não conseguia fechar a porta do quarto . Não conseguia nem pelo menos sair da cama. Consegui apenas ver o escuro da sala e a claridade debaixo da porta. Será que ele teve o descaramento de contar a Calum? Ou a Cassie? Se fosse Cassie e não ele? Se fosse ele já tinha ouvido o trinco na porta. Esquece, é mesmo ele. Ouvi a chave a rodar mas a corrente e a cadeira não o deixaram entrar. O ar ficou difícil de respirar quando ouvi a sua voz. Fechei os olhos e tentei acalmar-me para não chorar descontroladamente.

-Alana? Por favor , ouve-me! - Gritava. Peguei no telemóvel e liguei-o. Coloquei os fones e deixei a música levar os meus pensamentos para longe. Desaparece apenas, pensei. Tenho nojo de alguma vez ter estado com ele. -Alana!

-Desaparece daqui! - Gritei até esgotar o ar dos pulmões. Depois chorei outra vez. Chorei tanto que deixei de ver. Os olhos estavam inchados e acredito que estejam também muito vermelhos. A barriga contorceu-se quando senti o seu cheiro nos meus cobertores. Afastei-os para o fundo da cama e sentei-me no chão. Silêncio. Ele tinha ido embora.

O telemóvel vibrou e o seu nome apareceu no meu ecrã. Corri e apertei o telemóvel com força. Desbloqueei e bloqueei o seu número. Agora não ia voltar a incomodar-me. Minutos depois o telemóvel voltou a vibrar. Agora já não era mais o nome dele que aparecia no ecrã, mas sim de Cassie. Uma, duas, três chamadas não atendidas. Cinco minutos depois tinha quinze chamadas. Depois Calum tentou telefonar-me. Sei que não era ele e sim Ashton. Engoli em seco por o seu nome estar ainda tão presente em mim. 

Next DoorOnde histórias criam vida. Descubra agora