Capítulo 38 - Cabeça a explodir

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A cabeça estava à roda. Acordei com um peso tão grande que nem conseguia abrir os olhos. As persianas estavam abertas e não me lembro de como aqui cheguei. Olhei para o meu corpo e ainda trazia vestido a roupa de ontem. Mas o que aconteceu?  Tinha a boca tão seca que me fazia doer a garganta. Precisava de água urgentemente. Posei um pé de cada vez no chão e dei tempo ao meu cérebro para acordar. Abri os olhos e tentei caminhar. Ainda estava tonta mas melhor que ontem. Abri a porta do quarto e caminhei para a sala. A luz da janela passava e acredito que também não as tenha fechado ontem. Dou um salto quando vejo Julie no sofá. Estava deitada ao comprimo coberta pela minha manta azul. Mas o que fazia ali? Será que me trouxe a casa? Lembro-me dela ontem à noite mas não me lembro dela me trazer a casa.

-Julie? - Chamei .- Julie! - Gritei e ela levantou-se apavorada. - Que fazes aqui? - Por mais que estejamos a ficar bem não admito que se tenha  aproveitado do meu estado para se enfiar na minha casa. Posso ser ingénua mas não sou burra, ainda tem muita coisa acerca dela que suspeito e não vou só olhar para as coisas boas. Não gostei do facto dela ter ficado aqui esta noite.

-Desculpa, Alana. Trouxe-te a casa ontem e depois acabei por adormecer. Não sabia se estavas bem ou não e estava preocupada contigo para te deixar aqui sozinha. - A sua voz estava rouca e mal se ouvia. - Desculpa, não sabia se devia de ter digo algo a mais alguém.

- Tudo bem. Agora preciso de ficar sozinha. - Ela assentiu e pegou nas suas coisas. - Obrigada . 

-Não tens de agradecer. Estou aqui para ti. - Sorriu e saiu porta fora. Que situação estranha. Fui à cozinha e bebi um copo  cheio de água e enfiei-me novamente na cama. Hoje queria dormir o dia todo.


***

-Estás mesmo cansada. - Ashton tinha aparecido em minha casa por volta das dez da manhã. Estávamos os dois a ver televisão na sala mas eu não parava de bocejar. - Chegaste tarde ontem a casa?

-Um pouco mas não é disso. No bar já estava cheia de sono. Acho que foi da bebida para dizer a verdade.

-Tens a certeza que não te meteram nada na bebida? Sabes que os d--

-Sim, nunca a tirei da minha vista. Não deve ter sido nada, só não estou habituada a beber assim tanto e tocou-me mais.

-Tens um efeito estranho à bebida para dizer a verdade.  De certeza que não te meteram nada na bebida?

-Tenho a certeza absoluta sintética analítica. -Acho que me tinha explicado bem.

- Sua estranha. - Beijou-me os lábios e desatou às cócegas. - Ainda tens sono ou já te apetece rir um pouco comigo?

-Para, seu chato. Ai não! Na barriga n--  Desatei ás gargalhadas quando ele desceu até ao meu umbigo. Ele sabia que não suportava que me mexessem nessa zona, era sensível. 

-Pronto, já estou satisfeito. - Encostou-se para trás com os braços apoiados na cabeça.

-Pois mas eu não. - Atirei-me para cima dele e ele agarrou-me antes que tivesse oportunidade de me vingar. 

-Ainda não estás? Podemos tratar disso. - Era inevitável não sorrir com este rapaz. Ele pegou-me ao colo e levou-me para o quarto. - Quero a minha namorada satisfeita e feliz.

Tinha-me esquecido completamente da aula de defesa de hoje à tarde. Já me sentia melhor desde a hora de almoço e depois de ter comido a dor de cabeça passou. Eram quase cinco e equipei-me rapidamente para a aula. Atei o cabelo e saí porta fora. Ashton saiu pouco depois das quatro . Ao que parece os pais decidiram fazer-lhe uma visita surpresa e ia jantar com eles. Ainda me convidou mas achei demasiado cedo para os conhecer. Ambos sabemos que eles têm outra maneira de viver comparada à minha e sinto que era julgada se não aparecesse vestida por um estilista francês. Precisava de me arranjar um pouco para encher os olhos dos seus pais e hoje não tinha tempo para isso. Talvez noutro dia.

Quinze minutos depois cheguei ao ginásio. Passei por Gabriel que me perguntou imediatamente como estava. Riu-se bastante ás minhas custas ontem à  noite, mas não ficou nada atrás. Tenho umas belas memórias guardadas das suas figuras excêntricas no palco a cantar.  Ambos divertimo-nos ontem à noite. Só mudava o final. Gostava de saber o que me deu. Fui ao vestiário e posei a minha mala no cacifo. Ashton tinha mandando mensagem .

"Ajuda-me! "- Vejo que já estava com os pais. Segundos depois outra. " A sério, ajuda-me. Os meus pais querem que seja o próximo Beethoven e que vá tocar piano no restaurante." Era inevitável, tinha de rir.

"Sabes tocar piano?"- Na verdade não sabia. Era interessante se ele soubesse. Sempre me entusiasmei por aprender a tocar um instrumento mas nunca tive muita habilidade para o conseguir. 

" Ah, um pouco. Tive aulas quando era mais novo mas daí a tocar num restaurante de requinte vai uma grande distância." - De certa forma era bom que os pais tivessem tanta fé no filho. Se calhar ele estava apenas a desvalorizar-se e tocava perfeitamente. Um dia ainda o tinha de convencer a tocar alguma coisa para mim. Gostava de saber se ele tinha mesmo habilidades musicais.

"Boa sorte para esse jantar. Estou a ver que vais precisar."- Ele respondeu quase imediatamente.

" Ainda falta umas horas mas vou precisar . Amo-te muito, Alana, sabes disso não sabes? " - Sorri ao ler as suas palavras amorosas. 

" Sei e eu também te amo, Ashton. Tem um bom jantar. Até logo. "- Despedimo-nos e fui em direção à sala.

 Cassie já se encontrava na sala a falar com alguns alunos que iam chegando.  Cheguei-me perto dela e ela cumprimentou-me sorridente. A barriga já começava a sobressair nas suas camisolas mais justas . A gravidez deixava-a mais bonita e brilhante do que ela já era normalmente. A sua vida estava a correr como ela desejava e admito que também me sentia bastante realizada. Estava independente, a tirar o curso que sempre desejei . O meu pai estava feliz o que me fazia feliz também. Tinha um namorado que me amava mais que tudo. O que me podia mais faltar ? Nada porque eu tinha simplesmente tudo e estava feliz. Mesmo muito feliz.


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