Capítulo 29- Boas intenções

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Não era das minhas tarefas favoritas mas tinha mesmo de se fazer. Ia começar o meu primeiro Domingo do ano a fazer uma limpeza ao meu apartamento.  Já à duas semanas que não fazia nada com ele, apenas tinha dado um jeito para o Natal mas de resto estava de pantanas. Abri as janelas e deixei entrar o ar fresco da manhã. O tempo estava assim assim. Nada de chuva mas também nada de sol. As nuvens tapavam praticamente o céu todo mas gostava do tempo assim. Meti os tapetes nas janelas e meti a roupa lavada estendida na varanda. Voltei ao quarto e meti a minha cama de lavado. Organizei o meu roupeiro e depois a minha secretária. Estava uma confusão com todos os fios embrulhados uns nos outros. Sem falar nas toneladas de papel do semestre passado que tinha de guardar. Demorei à volta de meia hora para fazer isso tudo. Depois segui para a sala. Bastava limpar o pó e os vidros e só no final aspirava a carpete. As flores de Ashton já começavam a murchar mas não as conseguia deitar para o lixo ainda. Deu um jeito ás folhas secas e depois arrumei a casa de banho. Por fim , lavei a loiça do pequeno almoço e as bancadas. Faltava apenas aspirar e lavar o chão. Era quase meio dia e Ashton devia estar ainda a dormir. Talvez viesse aqui mais logo. Os meus pensamentos foram interrompidos pelo som da campainha. Será ele? A falar do diabo e ele aparece. Literalmente. Não era Ashton, era Julie. Ainda me pergunto como ela tem o descaramento de vir bater à minha porta.

-Olá, Alana posso? - Pediu licença para entrar mas não lhe abri caminho. 

-Que fazes aqui, Julie? - Tentei falar o mais calmamente possível mas por vezes ainda me dava vontade de a esganar. 

-Queria falar contigo e entregar-te isto também. - Entrega-me uma caixa de macarons de limão. Ela sabia perfeitamente que eram os meus favoritos. Olhei-a nos olhos e quase que parecia preocupada ou arrependida. Mas não vou julgar a aparecia dela, pode muito bem ser tudo Fantochada. 

-Não quero que me dês nada, isso era antes quando éramos amigas.

-Desculpa mesmo por tudo o que fiz, eu não estava em mim. - Agarrei os macarons e deixei na mesa de entrada. Ela esboçou um sorriso fraco ao qual ignorei por completo.

-Sabes que não é com bolos que conquistas a minha confiança de novo. - Ela olhou para o chão mas não pedi perdão pelo que disse. Era verdade e ela merecia ouvir pior. - O que queres Julie?

-Sei que não vamos voltar a ser amigas como antes mas quero apenas o teu perdão. Só quero ouvir que me perdoas, Alana. - Era um pouco difícil perdoar todo o mal que ela me fez. Para alguém tão próximo de mim o que ela me fez não se faz a alguém amiga. Ela desceu baixo. 

-Posso perdoar mas não esqueço. Sabes que não gosto de guardar rancor de ninguém mas merecias que alguém te fizesse o mesmo para ver se gostavas.

-Eu percebo. Obrigada por falares comigo. Vou embora. - Virou as costas e começou a caminhar devagarinho. Ela merecia ser castigada mas não era por mim. Eu não tenho poder algum neste mundo e se algo lhe acontecesse não era porque eu o desejei.

-Hey. - Ela olhou para trás. - O que fizeste não se faz mas não te desejo mal. Espero que aprendas com os teus erros. 

-Já estou a aprender e acredita que vou mudar. - Sorriu para mim e desceu pelo elevador. Isto sim foi uma conversa estranha e que não estava mesmo à espera que acontecesse .

 Fechei a porta e fiquei parada na entrada. Com isto tudo já não sei onde ia. Olhei para o lado e vi o aspirador. Já sei o que andava a fazer. Em dez minutos tinha aspirado a casa e agora estava a lavar o chão. Depois disto precisava de um belo banho de espuma. Depois de lavar a cozinha deixei o balde na varanda e fui a pezinhos de lã para a casa de banho. Liguei o rádio e deixei a porta da casa de banho aberta para poder ouvir a música. Liguei a água e deixei aquecer ligeiramente. Meti a roupa que estava a usar dentro do cesto da roupa e saltei para a banheira.

Precisava mesmo de um banho relaxante  como este. Devo ter estado uns vinte minutos de molho. Depois de esvaziar a banheira, agarrei no chuveiro e passei-me por água para tirar a espuma do corpo. Estava a cantar demasiado alto e espero que os meus vizinhos estejam em casa. Abri a cortina e peguei na toalha.

-Oh desculpa, est--

-Ah! - Fechei a cortina e deixei cair a toalha no chão. - Que fazes aqui, Ashton? 

-Desculpa, Alana eu chamei-te mas tu não me ouviste e com a música a altos berros não percebi que estavas a tomar banho. Era para ir ao teu quarto mas vi a porta aberta e decidi espreitar. - Agarrou a toalha do chão e esticou-ma . - Estou de olhos fechados podes agarra-la. Puxei-a rapidamente para mim e enrolei-me . 

-Não te ouvi entrar. - Estava tão envergonhada que não consegui olhar-lhe nos olhos. Ele agarrou-me na mão e puxou-me para ele para o beijar.

-Não precisas de ficar envergonhada, sabes que um dia vou ver esse corpinho jeitoso. - Ele estava a provocar-me!

-Ashton! Seu atrevido! - Ele desatou a rir-se e eu olhei-o com olhos de quem o ia matar. -  Vai para a sala, vou só vestir-me.

-Claro, vou já. Tens a certeza que não precisas de ajuda a vestir? Não? - Nem me dei ao trabalho de responder. Revirei os olhos e fechei a porta do quarto quando entrei. - Então chama se precisares. -Gritou no corredor. Este rapaz não tinha remédio. Vesti uma roupa confortável, na verdade não sabia o que íamos fazer hoje. Penteei o cabelo e deixei secar naturalmente. Fui à sala e Ashton encontrava-se sentado no sofá. 

-Mandei vir comida . Já é hora de almoçar e não tinha vontade de cozinhar.

-Eu podia fazer alguma coisa para nós.- Ele puxou-me para o sofá e deu-me leves festas nas costas. 

-Não precisas de fazer nada. Vamos almoçar daqui a pouco e depois podemos fazer o que quiseres. O que tinhas em mente?

-Nada na verdade. O tempo começa a ficar escuro e não sei se é boa ideia andar na rua. - Olhei para a janela e ele concordou.

-Podemos ficar em casa e fazer uma maratona de filmes que achas? - Não me parecia mau para um Domingo.

-Parece-me bem mas temos só de ir comprar pipocas. - Ele assentiu e a campainha tocou. -Parece que chegou, eu vou lá.

-Não, fica sentada. E não pagas nada, fica por minha conta.

-Não, fica pelos dois. - Ele mandou um olhar mortífero e fiquei sentada no sofá. Mais tarde metia o dinheiro na sua carteira sem ele dar conta. Pagou ao senhor e posou a comida na mesa de centro . Cheirava mesmo bem. 

-Sala ou cozinha? -Perguntou.

-Sala. Vou só buscar pratos. - Fui à cozinha rapidamente e Ashton já tinha tirado tudo no saco. A minha barriga já pedia comida e esta parecia mesmo deliciosa. Demos uma dentada na comida e quase desmaiamos de tão bom que estava.

-A Julie esteve aqui hoje. - Ele quase que ia cuspindo a comida. Provavelmente devia ter falado nisso depois de comermos.

-O quê? Essa miúda não desiste?

-Calma, Ashton, ela queria falar. Trouxe-me macarons e tudo. - Ele revirou os olhos. - Perdoei-a mas não lhe vou dar confiança. Ela parecia estar com a consciência  pesada.

-Ela não tem coração para sentir remorsos de nada. Devias ficar longe dela, ela já provou que era perigosa.

-Talvez tenhas razão mas não consigo ser assim. -Dei outra trinca na comida. - Vamos esquecer este assunto e aproveitar esta refeição deliciosa.

-A companhia também conta.- Resmunga ofendido. Dei-lhe um beijo na bochecha.

-Assim gosto mais de ti. -Este rapaz.









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