Capítulo 24- Quero estar contigo

67 13 33
                                    

 Acordei outra vez com o som da campainha. Olhei para o relógio que tinha na mesa de cabeceira e resmunguei baixinho. São apenas sete e meia da manhã . Não acredito que me estão a incomodar a esta hora. Meti a cabeça debaixo da almofada e esperei que parassem de tocar. Quando finalmente parou voltei a adormecer. Acordei por volta das oito e meia. Normalmente não era muito de dormir e acordava sempre por volta desta hora. Estava com o estômago vazio e precisava urgentemente de comer alguma coisa. Abri a janela do quarto e meti os lençóis para trás para arejar a cama. Saí do quarto e caminhei para a casa de banho. Precisava de tomar um duche rápido mas refrescante. Demorei apenas dez minutos, o que já era um milagre para mim. Fui ao quarto e vesti uma roupa confortável. Penteei o cabelo e atei-o num totó bem alto. Caminhei até à cozinha e fiquei desiludida com o meu frigorífico.

-Não tenho nada para comer. - O meu e estômago estava a fazer sons esquisitos e não  me estava a agradar nada. Bem ,só tinha uma hipótese. Tinha de ir ao supermercado comprar comida. Fiz uma lista rápida das compras e calcei-me. Abri as janelas também da sala . Como ainda vivia razoavelmente alto ninguém ia trepar até aqui. Agarrei nas chaves que estavam na mesa de entrada. Parei um pouco para admirar a prenda de Ashton. As flores já estavam secas mas ainda não as tinha tirado dali. Fazia isso depois. Abri a porta e mal pus o pé no corredor fui projectada para dentro do apartamento.

-Temos de falar. - Ashton fechou a porta e forçou-se em entrar em minha casa. - Ontem saíste da festa e não me disseste nada. Quero uma explicação.

- Mas isto é  assim? Não tenho de te dizer nada. - Cruzei os braços .

-Não sejas assim, Alana. Podes explicar-me o que fiz desta vez? - Tentou empurrar-me para o sofá mas andei para trás sem lhe dar oportunidade de me tocar. Sentei-me num canto e ele sentou-se no meio do sofá. Fiquei calada a olhar para a janela. - Alana?

-Não fui falar contigo porque não queria incomodar os pombinhos.

-Pombinhos? Estás a falar da Mary?

-Não sei quem era, não andava com o nome escrito na testa para eu ver. - Ele olhou-me de esguelha e bufei em desagrado. 

-E ficaste incomodada de me ver com outra rapariga?

-Nem vale a pena responder a isso.

-Pois não, porque já sei a resposta. - Aproximou-se mais para perto de mim e revirei-lhe os olhos. - Só quero olhar-te nos olhos. Gostas de mim não gostas? - Ele ainda pergunta? Ainda dizem que as raparigas são complicadas, os rapazes é que parecem funcionar a carvão. É preciso escrever para ele perceber?  Levantei-me e agarrei novamente na minha mala.

-Tenho de ir a um sítio agora.

-Não vais não. - Agarrou-me no braço.

-Não me toques, Ashton. - Não valeu a pena porque ele não me largava. Não me estava a magoar mas prendia com força o suficiente para não conseguir escapar dele. - Estou a ficar impaciente contigo. Larga-me, se faz favor. - Sentia-me pressionada para falar e não queria.

 Ficava nervosa com tudo isto. Não gostava de mostrar emoções e muito menos mostrar que estou incomodada com alguma coisa. Estava com os olhos húmidos e não sei se conseguia controlar mais. Sempre tive uma postura forte mas sempre fui muito mole por dentro. Sempre quebrei com facilidade e isso irritava-me mesmo muito. Quando me via numa situação mais sensível fechava-me no casulo para não chorar, mas quando as pessoas insistiam em falar do assunto eu quebrava e eventualmente desmanchava-me em lágrimas. Nessas alturas só queria fugir. Tinha mesmo vergonha e achava fraco as pessoas verem-me assim.

-Alana, calma só quero falar contigo. Se eu te fiz algo que te magoou eu preciso de saber. - Baixei a cara ele não insistiu. Abraçou-me e assim pude evitar chorar desalmadamente. - Fala quando quiseres.

-Eu não admito que nenhum rapaz me faça sofrer, ouviste? Se queres estar com várias ou se não estás pronto para assumir algo sério com alguém apenas diz. Diz antes que eu gos-

-Antes que gostes de mim? - Não respondi. - Alana, ela era uma colega de curso e uma amiga de infância. Sim, eu percebo que somos muito próximos e percebo perfeitamente porque isso te incomodou. Se fosse comigo ficava bem pior. 

-Não tens relação nenhuma comigo por isso tudo bem. -Respirei fundo  antes de me soltar do seu abraço. Virei-lhe costas e vesti o casaco.

- Mas eu quero ter uma relação contigo, quero mesmo.

-Então tens de mudar. Eu não aceito ver o rapaz que eu gosto a sussurrar ao ouvido de outras raparigas ou a partilhar toques mais pessoais, mesmo sendo amigos. Quando se anda com alguém à certas coisas que se têm de mudar. Não estou a dizer que não podes andar com ela, isso era estúpido porque são amigos muito antes de eu aparecer , mas percebe que esse género de intimidade incomoda-me.

- Só não percebo uma coisa. Se não sou nada para ti porque estás tão zangada por outra rapariga me ter tocado?

-Porque gosto de ti e estás a dar atenção a outra, seu idiota. - Virei-me para ele e gritei-lhe na cara. Ele  não estava à espera mas não aguentei mais. Posei novamente a mala no chão e corri para a casa de banho. - Sai, por favor preciso de estar sozinha. - Fechei a porta e ignorei tudo o que ele me dizia. Só queria estar sozinha. 

-Alana? Alana, sai daí, eu quero falar contigo. - Ouvi o seu respirar atrás da porta. - Pronto, eu deixo-te sossegada se é isso que queres. - Molhei a cara com aguá tépida para tentar acalmei-me. Não chorava mas estava a tremer por dentro. Estava enervada e antes que ficasse num estado lastimável preferia que esta conversa ficasse para depois.

-Eu sei que ainda estás ai! - Ouvi a porta a fechar mas esperei mais uns minutos para ver se ouvia algum barulho. Abri a porta devagarinho mas ninguém estava na sala. Respirei de alívio e sentei-me no sofá. Posei as mãos nas minhas bochechas.- Coração estúpido!

-Ele não é estúpido por gostar de alguém. - Ashton sai do meu quarto .Olhei-o espantada. Tinha mesmo pensado que ele tinha saído. Pelo menos estava mais calma e não me apetecia gritar com ninguém.

-Eu disse que queria estar sozinha. - Disse calmamente. Estava mesmo exausta com esta conversa.

-Alana, eu não dou atenção a outras raparigas. Admito que falo com elas e não digo para não falarem comigo porque gosto de alguém. Não faço nada sem ser falar com elas e eu mudei, Alana mudei muito. 

-Eu também mudei muito, Ashton.  Sou independente. Estou mais forte mentalmente . Estou confiante como nunca fui mas preciso de ti .

-Eu quero ser melhor por ti e por mim. Eu quero ser teu e sabes que é só pedires que eu sou. Eu estou aqui. - Posou a minha mão no meu peito e encostou a sua testa na minha.- Alana, o que sentes por mim?

-Eu gosto de ti, Ashton. -Disse baixinho. Olhei nos seus olhos e estavam a sorrir para mim. Era estranho como os seus olhos me fizeram acalmar num minuto para o outro.

-Então não sou só teu como tu és minha. Vês um futuro comigo? -Assenti com a cabeça.- Tens a certeza que gostas de mim?

-Tenho, não se nota? -Ele riu-se baixinho e tenho que admitir que também tive vontade de rir.

-Então, Alana queres assumir uma relação comigo? Porque eu não vou sair daqui até dizeres que sim. E um beijinho. Não um , muitos. Quero muitos beijinhos. -  Sorri e ele desceu as suas mãos até à minha cintura. Coloquei a minha mão na sua nuca e estiquei os meus pés para chegar aos seus lábios.

-Acho que não preciso de dizer nada mas vamos com calma. - Abraçou-me com força e beijou-me como se não houvesse amanhã. Estava feliz. Como estava feliz.

Next DoorOnde histórias criam vida. Descubra agora