Prazer Señorita!

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Olá, pessoal!! Voltei com Amor Doce Amor completa aqui no Wattpad, porém no formato original, sem ser fanfic. Fiz algumas mudanças, como alterar nome dos personagens, alguns detalhes da histórias, mas nada que vai impactar muito e não se preocupem facilmente irão identificar os personagens.

Bjos

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Eu tinha cinco anos e estava escondida embaixo da minha cama escutando toda aquela discussão dos meus pais. Não era a primeira vez que isso acontecia, mas me recordo de sempre me esconder em algum canto da casa e tapar os ouvidos. As brigas eram constantes e pioravam cada dia mais até que minha mãe resolveu dar um basta em todo aquele sofrimento, me lembro como se fosse hoje dela me falando:

- Cristina, mi hija, nunca coloque ninguém acima de su felicidad! – Ela se abaixou para ficar na minha altura. – Se ame acima de tudo, mi cariño!

Foi um dos poucos conselhos que recebi da minha mãe. Um tempo depois fui morar com a vovó, enquanto minha mãe estudava e trabalhava.

Apesar da distância e do pouco contato, minha mãe sempre foi meu exemplo de força e coragem. E eu queria ser como ela: Forte, corajosa e, acima de tudo, fiel aos meus sentimentos.

- Mierda! – Falei um pouco alto. Sai das minhas lembranças graças a um corte no meu dedo. Em dez anos de cozinha era raro me cortar por falta de atenção.

O barulho invadiu meus ouvidos.

- Mais três pedidos de Petit Gâteau para a mesa cinco! – Um dos chefs gritou. – Cristina, é com você! – Falou jogando o pedido em minha direção e sorrindo.

Filipe era seu nome. Um amigo de longa data e o responsável por estar trabalhando em um dos melhores restaurante de São Paulo, o Lafaiete Bistrô do grande chef Jean Lafaiete. Foi seu convite que me fez sair do meus país. Pois é, sou argentina e apesar de toda essa rivalidade boba entre brasileiros e argentinos, sempre fui tratada muito bem em todos os lugares e posso dizer que amo esse lugar e foi aqui que comecei a sonhar com o Coccina Dulce, meu projeto mais ousado. Meu próprio restaurante. Bem, ainda estava no papel e não passava de rabiscos e anotações, mas trabalhava dia e noite para conseguir realizar esse sonho.

Hoje sobrou a parte da sobremesa sobrou para mim. Eu estava cobrindo um colega que acabou ficando doente. Minha especialidade era pão e carne vermelha, mas nada como me aprimorar mais um pouco nesse delicioso mundo da confeitaria.

Peguei os três pedidos coloquei a minha frente e comecei os preparativos. Estava concentrada na minha tarefa quando um alvoroço começou a se formar, mais à frente na cozinha.

Passei minha pequena toalha pelo rosto tirando um pouco de farinha que com certeza se espalhava por ali. Olhei de novo para o corredor e ouvia cada vez mais vozes diferentes. Quando se trabalha em uma cozinha você se acostuma com cada som que sai das panelas, dos utensílios, o barulho da correria e esse alvoroço com certeza não era comum.

Olhei para o corredor a frente, eu estava no final da cozinha, o que dificultava a minha visão. Me esgueirei um pouco mais e foi ali no meio daquela confusão de pratos, gritos e correria que a vi pela primeira vez. Juro que no momento que ela apareceu no meu campo de visão meu mundo parou, os gritos cessaram, as pessoas ficaram em câmera lenta e só o que minha mente focava era nela, linda desfilando em cima dos seus saltos.

Ela veio acompanhada de mais três pessoas que não soube de primeira identificar. Visitas na cozinha não eram muito comuns. Ela veio na frente olhando e sorrindo para todos. Eles pararam no meio da cozinha, então Jean saiu de trás dos outros e tomou a frente dela.

- Pessoal peço um minuto da atenção de todos! - Todos se viraram. - Hoje temos uma ilustre visita na nossa cozinha! - Ele puxou a bela mulher pela cintura. - Quero apresentar a todos a minha linda noiva, Ana!

Decepção, o anjo tinha dono.

- Não quero atrapalhar ninguém. - Disse sorrindo. – Só subi para parabenizar o excelente trabalho de vocês! - Todos sorriram e o anjo foi em cada bancada cumprimentar os funcionários.

Ela estava se aproximando e minha mão suava tanto que estranhei.

- Ora, Cristina pare já com isso! Não é a primeira mulher bonita que você vê na vida! – Falei sozinha e voltei para minha bancada.

- Olá!

- Vamos lá, enxugue essas mãos e volte ao trabalho! – Falei baixinho lavando as mãos e pegando minha inseparável toalha.

- Com licença... – Escutei uma risada e foi então que gelei. – Você que é responsável pelas sobremesas? – Eu ainda não tinha levantando meu rosto. Permaneci imóvel. – Desculpa, atrapalho você? – Falou tocando de leve meu braço. Eu juro que senti uma corrente elétrica com aquele toque e fechei os olhos aspirando seu perfume doce.

"-Vamos lá, Cristina, diga oi" – Pensei.

-N-Não – Disse gaguejando. Pera aí, gaguejando?! – Eu só estava....

- Falando sozinha! – Disse rindo. Olhei para seu rosto e reparei nos seus lindos olhos castanhos.

"O olhar dela sorri junto com a boca." – Pensei e ri discretamente.

-Só queria parabenizar o responsável pelas sobremesas! Elas estão divinas! – Disse sorrindo.

"Será que ela não poderia parar de sorrir?!" - Pensei e fiquei envergonhada diante de seu elogio.

- Gracias, señorita! – Sorri sem graça.

- Não é brasileira? – Perguntou.

- Não. Soy argentina! – Lá estava eu misturando o português com o espanhol, um claro sinal de que estava nervosa.

- Ana Torres! – Disse estendendo a mão.

- Quê? – Falei

- Meu nome é Ana Torres! – Ela ainda estava com mão estendida esperando meu aperto.

Olhei para as minhas mãos que estavam novamente suadas.

-Desculpe señorita, minhas mãos estão sujas de far.... – Ela não me deixou terminar, pegou minha mão e quando eu percebi, aquele choque novamente tomou conta de mim.

"Essa mulher por acaso é o Super Choque?!"

- Vejo que já conheceu minha mais promissora chef de cozinha: Cristina! – Jean saiu de trás dela e sorriu para sua noiva que largou minha mão em seguida.

- Estava parabenizando seu ótimo trabalho com as sobremesas! – Jean segurou Ana pela cintura.

"Será que ele também sentia aquele choque toda vez que tocava nela?" – Pensei.

- Gracias, novamente! – Disse sem graça.

- Cristina é uma das minhas melhores cozinheiras! Depois de Felipe ela é minha pessoa de confiança na cozinha! – Falou piscando.

Era bom ter seu trabalho reconhecido, ainda mais por um dos melhores chefs de cozinha do mundo. O nome Lafaiete abria muitas portas no mundo da gastronomia.

Sempre admirei muito Jean, ele era um Francês que chegou ao Brasil há vinte anos atrás com um sonho e um curso de gastronomia e, passando de cozinha em cozinha, conseguiu construir sua brilhante carreira, era nele que me espelhava.

- Bom melhor voltarmos para a mesa... – Ana falou. – Mais uma vez parabéns, Cristina!

- Cristina González, señorita! – Ela sorriu.

-Tchau, Cristina! – Falou se afastando.

Jean foi à frente mostrando alguns detalhes da cozinha para outras duas pessoas e Ana saiu da minha bancada seguindo seu noivo.

Ela falou alguma coisa com demais funcionários e se despediu de todos, mas antes de sair... Ah, antes de sair ela olhou na minha direção e sorriu com seus lindos olhos castanhos.



Amor Doce AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora