Aeroporto

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Alguns dias depois da reunião Ana tentou me procurar no restaurante...

- Chef, Cristina! - Um dos garçons entrou na cozinha. - A senhorita Torres está na recepção querendo falar com a senhora.

Bufei.

Era a terceira vez que Ana aparecia no Coccina Dulce.

- Diga que estou ocupada.... Não posso me ausentar da cozinha agora. - O rapaz continuou parado. - O que foi? - Ele me olhou ainda assustado.

- Ela disse que se a senhora falasse que estava ocupada... Ela iria entrar aqui com ou sem sua permissão... - Disse tímido.

Bufei novamente.

O que Ana queria comigo? Ela já não tinha tomado sua decisão...

- Então você irá voltar e falar que não estou na cozinha hoje! - Ele concordou e saiu.

- Que feio, González! - Felipe resmungou.

Revirei os olhos e voltei para o trabalho.

O garçom não voltou, sinal de que Ana tinha engolido a desculpa.

Minutos depois meu celular apitou. Era uma mensagem de Ana.

"A próxima vez que inventar uma desculpa tão ridícula, se certifique que seu carro não esteja no estacionamento..."

Esqueci desse pequeno detalhe.

"Fique tranquila, não vou mais incomodar você!"

Foi a última mensagem de Ana. E também a última vez que ela me procurou no Coccina Dulce.

O que ela queria? Eu nunca saberia. Na verdade, tinha uma ideia... Mas não queria escutar, não queria fraquejar e não queria sofrer mais outra despedida.

A semana passou rápido e o dia da viagem de Ana se aproximava. Luiza desligava o telefone todos os dias, com a carinha triste, aquilo cortava meu coração.

Algumas noites atrás eu escutei minha filha chamando Ana de mamãe.

"Mamãe, não vai embora... - Ela dizia chorosa. - Fico comigo e com a mama... - Luiza ficou muda por um momento e depois respondeu. - Chamei de mamãe... não quero que você vá fada..."

Mamãe era novidade. Luiza nunca chamou Ana de mãe. Era sempre a tia fada dela. Mesmo Ana sempre falando que era sua mãe do coração. Eu fiquei emocionada, sem ação. Imagine Ana escutando aquilo. Se fechasse os olhos eu podia imaginar detalhes sua reação.

Aquela não foi a última vez que me emocionei ao lembrar da partida de Ana. Um dia antes do seu voo, recebi um recado na caixa postal do meu celular.

"Faça o que é certo! Vá atrás da mulher que você ama! O número do voo é 3467 e sairá às oito da noite. Por favor, Cristina, não deixe Ana ir embora!"

Era Sofia, a amiga de Ana. Escutei esse recado o dia inteiro. Mas ainda não sabia que decisão tomar!

Passei a tarde com Luiza. Tentei distrair minha filha de todos os jeitos possíveis. Levei ao cinema, ao parque e nada melhorava seu humor. A mensagem se repetia na minha cabeça.

"Por Favor Cristina, não deixe Ana ir embora!"

Sofia gritava aquilo, Luiza clamava por isso no seu olhar e meu coração pedia desesperadamente para ir atrás de Ana.

- Clara! - A menina olhou para mim do sofá

- Oi...

- Fica um pouco com Luiza... - Ela me olhou sorrindo.

- Você vai atrás dela? - Disse pulando no sofá.

Revirei os olhos.

Clara olhou para o celular.

- Corre! Você tem uma hora para chegar ao aeroporto! - Peguei as chaves do carro e joguei um beijo para Clara.

Eu corri pelas ruas de São Paulo e acho que tomei umas cinco multas. Cheguei no aeroporto faltando meia hora para o embarque. Larguei o carro aberto na frente de uma das portas do aeroporto.

- Senhora! Não pode estacionar aqui! - O guarda gritou.

Joguei a chave para ele.

-Por favor, eu não posso parar agora! Pode rebocar se quiser! - Ele segurou a chave e me olhou surpreso.

Segunda corrida da noite foi pelo aeroporto. Procurei o voo de Ana no telão e corri para seu portão de embarque.

- Eu preciso entrar! - O segurança não me deixou entrar.

- Sua passagem senhora!

- Olha eu só quero falar com uma pessoa... me deixe entrar, por favor...

- Sinto muito!

Corri até um guichê de qualquer companhia aérea.

- Olha a fila! - As pessoas gritavam enquanto eu passava na frente de todos.

- Me perdoem, mas é urgente! - Virei para a atendente. - Eu quero uma passagem! - Peguei meu cartão na bolsa.

- Qual o destino, senhora?

Eu não tinha tempo para aquilo. Olhei de novo para o relógio, faltavam dez minutos.

- Qualquer lugar! Só me dê uma passagem agora!

A menina me olhou assustada e emitiu a passagem.

Peguei e corri até o portão de embarque.

- Pronto! - Disse ofegante. - Agora eu tenho uma passagem, me deixe entrar.

O homem olhou para o papel e permitiu minha passagem.

Eu procurei como uma louca e achei por fim o seu portão de embarque.

A aeromoça fechava a porta.

- Não! Espere por favor! Eu preciso falar com alguém que está nesse voo!

- Sinto muito, senhora não posso mais deixar ninguém entrar.

Me desesperei e levei as mãos a cabeça. Cheguei tarde...

Me aproximei da grande janela do aeroporto e no pátio seu avião fazia a volta para em seguida levantar voo.

- Ana... - Sussurrei apoiada ao vidro.

Era tarde demais. Voltei para a entrada do aeroporto e meu carro estava sendo rebocado e com uma multa grudada no meu vidro.

Saldo da noite: Fracasso total.

...

Clara ainda estava na sala. Ela me olhou em expectativa.

- Cadê, Ana?

Fechei a porta e não respondi de imediato.

- Cristina... Você conseguiu? - Balancei a cabeça que não. - Droga! - Clara me puxou para um abraço apertado e não falou mais nada.

- Luiza está dormindo? - Disse secando as lágrimas

- Não, está no seu quarto... Ela insistiu em dormir na sua cama

- Não tem problema... Boa noite e obrigada! - Clara me abraçou mais uma vez.

Entrei no quarto e Luiza dormia como um anjo. Deitei ao seu lado e reparei que ela estava agarrada ao casaco de lã de Ana. Abracei Luiza apertado e a puxei para meu colo. Ela não largava o casaco.

Meu celular tocou. Só agora reparei que não levei meu celular. Ele estava largado em cima da minha cama.

No visor mostrava o nome de Rodolfo. Abri a mensagem curiosa.

"Achei que talvez você gostasse dessa notícia, minha amiga... Ela não embarcou. Recebi uma mensagem dela hoje à tarde. Ana voltou atrás, ficará no programa."

Amor Doce AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora