Ana
Eu tentei falar com Cristina. Tentei a todo custo escutar ela dizer "Fica Ana!". Ah como eu ansiava por escutar isso. Mas Cristina era orgulhosa demais, teimosa demais para isso. Seus olhos me pediam para ficar enquanto sua boca gritava que não.
Eu permaneci naquela dúvida durante dias, até que por fim, Cristina me venceu pelo cansaço. Eu não tinha mais chances ali. Eu perdi minha família. A mensagem de Renato estava na tela do meu computador.
"Espero você no aeroporto. Estou muito feliz com sua decisão, tenho certeza que será a melhor para todos."
Meu voo era daqui a alguns dias, minha casa estava cheia de caixas e embrulhos. Um porta retrato ficou de fora. Éramos nós três em um dia ensolarado no bosque, na nossa viagem para a Argentina. A melhor viagem da minha vida.
Peguei o celular e liguei para Luiza como sempre fazia antes de dormir.
- Fada! -Ela atendeu feliz. - Estou com saudades!
- Oi minha princesa... - Minha voz embargou.
- Por favor, mamãe, não vai embora. - Luiza dizia chorosa.
"Mamãe". Luiza me chamou de mãe. Eu chorei baixinho e sorri como uma boba.
- Fica comigo e com a mama...
- Querida, do que você me chamou? - Disse sorrindo.
- Chamei de mamãe... não quero que você vá fada! - Eu sorria feliz pelo que escutei, mas meu coração se quebrava por escutar Luiza chorar.
Eu cogitei a ideia de ficar? Sim!
Mas como seria viver perto de Cristina sem ter sua presença todo dia, sem ter nossos planos, sem ter minha família completa...
- Sinto muito querida, mas eu não posso. - Disse com o coração partido. - Eu te amo, minha filha. - Luiza soluçou
- Também amo você, mamãe. - A ligação ficou muda segundos depois.
Ainda estava agarrada ao porta retrato. Mamãe. Aquela palavra que sempre sonhei ouvir. Como eu queria uma vida ao lado delas, como eu queria outra chance.
Olhei para a mala em cima da cama. Coloquei com carinho o porta retrato entre minhas roupas e fechei a mala. Minha decisão estava tomada.
...
Na manhã da minha partida acordei assustada com o barulho do celular. O nome da minha amiga piscava na tela.
- Até que enfim atendeu essa porcaria! - Sofia gritava.
- Bom dia pra você também... - Disse bocejando.
- Me diz que desistiu dessa ideia de ir embora... Por favor!
- Sofia, não comece com isso de novo... - A vida da minha amiga durante aqueles dias foi baseada em me fazer desistir da proposta de Renato.
- Sua cabeça dura! Fala da Cristina mas é do mesmo jeito!
- Não quero falar sobre Cristina... vai me levar no aeroporto?
Sofia permaneceu quieta durante alguns segundos.
- Claro... - Disse triste. - Até mais tarde, Ana!
Em seguida a ligação ficou muda. Sofia tinha desistido muito fácil hoje...
Passei o resto do dia ajeitando os últimos detalhes da viagem. Às seis da tarde meu táxi chegou. Dei uma última olhada para meu apartamento e as boas lembranças que ele me trazia.
Era hora de seguir em frente.
Cheguei no aeroporto às seis e meia. Meu celular apitou.
"Já fiz o check in, estou na área de embarque aguardando você."
Era uma mensagem de Renato. Eu sentei em umas das cadeiras em frente ao grande telão dos voos.
- Mamãe! - Virei na mesma hora.
Uma garotinha corria para os braços de sua mãe.
Mamãe. Luiza a alguns dias atrás tinha me chamado de mamãe.
Meu celular apitou.
"Já chegou?"
Era Renato. Olhei novamente para o relógio. Quase sete. Sofia tinha mandando uma mensagem mais cedo dizendo que iria me encontrar no aeroporto.
"Sofia... Cadê você?"
Enviei a mensagem e segundos depois recebi sua resposta.
"Vou me atrasa, por favor, não embarca sem falar comigo! Eu preciso me despedir de você"
Eu podia despachar a mala e ficar ali no saguão esperando Sofia. Eu podia. Mas não conseguia sair do lugar. Os minutos foram passando... E nada de Sofia aparecer.
Olhei novamente para o relógio. Sete e meia. Eu precisava embarcar.
Levantei da cadeira e andei sem muita pressa até a área de check in. Não tinha fila. Depois disso era só embarcar e vida nova. Entreguei o cartão de embarque para a atendente.
- Alguma mala para despachar? - Ela perguntou. - Senhora?
A mala estava ao meu lado, minhas mãos estavam suadas de tanto que me agarrava a ela. Eu não queria ir. Eu não podia fazer isso.
Luiza não merecia. E eu amava demais aquela idiota para desistir assim tão fácil.
Eu não vou embora.
- Eu não vou embora! - Disse um pouco alto e sorrindo. A mulher me olhou um pouco assustada. - Desculpa mas não precisa despachar nada, não vou pegar esse voo!
Eu puxei a mala e sai sorrindo como uma boba pelo aeroporto. Eu iria recuperar minha família e já sabia como fazer isso.
Cheguei na área de desembarque e um carro estacionado de qualquer jeito impedia os outros veículos de passar.
- Que absurdo! - Disse assim que vi o caos que estava a área desembarque.
Fiz sinal para o táxi. E demoramos muito a sair do aeroporto. Eu precisava colocar meu plano em prática. Peguei o celular e digitei uma mensagem para Rodolfo.
"Querido amigo, eu desisti da minha viagem e da proposta. Será que posso pedir meu lugar de volta?"
Segundos depois recebi a resposta.
"Que ótima notícia, Ana! Fico muito feliz que tenha pensando melhor. O lugar sempre será seu! Temos uma coletiva daqui a alguns dias, aguardo você!"
O destino estava a meu favor, agora era só fazer a coisa certa.
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Amor Doce Amor
Romance"Passei minha pequena toalha pelo rosto, tirando um pouco de farinha espalhada. Olhei mais uma vez para o corredor e ouvia cada vez mais vozes diferentes. Quando se trabalha em um cozinha você se acostuma com cada som que sai das panelas, dos utensí...