Amor Doce Amor

Medo

Ana

Cristina. Era o nome que não saia da minha cabeça. Aquele seu jeito tímido e atrapalhado me encantou de um jeito que não esperava. Aos poucos ela se tornou uma obsessão para mim, tudo era desculpa para vê-la. Eu saí da redação como um furacão, só para ir até o Lafaiete levar um livro para ela.
Eu nunca questionei minha sexualidade, até porque eu sempre soube que gostava de homens. Mas e agora? O que eu sou? Aquele sentimento me deixava apavorada. Eu era uma mulher de 35 anos, no auge da sua carreira jornalística, bem sucedida, noiva de um dos melhores partidos de São Paulo. O que estava acontecendo comigo? Nunca senti atração por nenhuma mulher antes...

Jean dormia ao meu lado, olhei para ele e analisei cada traço seu. Ele era um homem bonito. Mas porque não conseguia mais sentir aquela felicidade de antes?
Levantei da cama e fui até a varanda. O frio da madrugada me atingiu e um arrepio tomou conta do meu corpo. Como não lembrar da sensação boa que tomou conta de mim na primeira vez que toquei Cristina. Um choque percorreu meu corpo e por um minuto podia jurar que ela também sentiu.
- O que estou fazendo? O que você está fazendo comigo, González? - Falei abaixando a cabeça.
- Ana... - Olhei para trás e Jean estava parado na porta da varanda.

"Meu Deus... Será que ele escutou?"

Tentei disfarçar meu medo e sorri.
- O que faz acordado, amor? - Ele se aproximou me abraçando por trás.
- Pergunto o mesmo. - Disse beijando meu pescoço.
Respirei fundo. Acho que ele não ouviu nada.
- Perdi o sono...

"Cristina me fez perder o sono."

- Está preocupada com a viagem? - Eu iria viajar daqui a duas semanas para NY, visitaria uma filial da emissora e faria a cobertura de um grande evento.
- Não... - Menti. Eu estava preocupada, muito preocupada.

Há tempos não era feliz no meu trabalho, mas recebi uma notícia há alguns dias que me animou um pouco, os grandes da emissora estavam cogitando meu nome para ser chefe da equipe do jornal principal. Era um grande passo.

- Ei vamos dormir! Amanhã quero você linda ao meu lado na casa do Felipe. - Jean me puxou pela mão até deitarmos na cama.

"Ela estaria lá, com certeza!"

- Durma, meu anjo... - Jean disse envolvendo meu corpo com seus braços.
Fechei os olhos e tentei de alguma forma não pensar mais em Cristina González.

Chegamos ao jantar um pouco atrasados, já que demorei a sair da emissora.
- Estamos atrasados! - Jean dirigia seu lindo carro pelas ruas de São Paulo.
- Desculpe querido, mas hoje foi complicado na redação - Ele me olhou e piscou.
A casa estava cheia e me olhos corriam para todos os lados em busca de uma só pessoa.
Um pouco a frente estava Felipe. Cristina deveria estar por ali também.
Jean me apertava nos seus braços e me exibia a todos como se eu fosse um troféu. Eu simplesmente odiava quando ele fazia isso. Revirei os olhos impaciente.
Vi sua silhueta atrás de Felipe.

"O que ela está tentando fazer? Se esconder atrás de um homem que é bem mais baixo que ela!" – Pensei.

Soltei um riso fraco. Jean me olhou sem entender.
Felipe saiu da sua frente por um momento, era ela mesma.
Andamos mais a frente falando com outro casal de amigos, a próxima parada seria Cristina. Ansiedade me definia naquela hora.
Felipe veio em nossa direção com a esposa ao lado.
- Parabéns aos dois! - Jean falou apertando a mão de Felipe.
- Parabéns! - Disse abraçando sua esposa.
A conversa fluiu entre nós quatro e quando olhei para o canto em que antes ela estava, não tinha mais ninguém. Suspirei.
- Onde está, Cristina? - Jean tirou a pergunta da minha boca.
Felipe olhou para trás e deu de ombros.
- Deve estar se enturmando por aí! - Disse rindo. - Vou procurar por ela! - Falou se afastando com sua esposa ao lado.
Forcei sorrisos e aguentei o quanto podia dentro daquela festa, não que estivesse ruim, pelo contrário estava tudo adorável, mas meu querido noivo resolveu embarcar em uma conversa chata sobre corridas de cavalo, com alguns amigos.
- Querido, vou pegar um ar! – Ele nada disse apenas concordou e voltou para a sua conversa.