- Ana! - Luiza se soltou do meu braço e correu até a porta já trancada.
Clara me fuzilava com o olhar.
Luiza chorava alto e batia na porta chamando por Ana. Aquela cena era de cortar o coração. Eu chorava pelo sofrimento da minha filha e pelo meu. Não foi nada fácil mandar Ana ir embora.
Clara pegou Luiza no colo.
- Calma, meu amor... - Luiza ainda chorava muito no ombro de Clara e mal olhava para mim.
- Me desculpe, filha... - Falei me aproximando do seu rosto. Luiza enterrou o rosto no pescoço de Clara para não falar comigo.
Levei a mão a boca sufocando um soluço.
- Vamos dormir um pouco com a Dinda? - Clara dizia enquanto beijava os cabelos claros da minha filha.
- Não... Eu quero a fada... - Luiza falava entre soluços.
Clara me olhou mais uma vez irritada e saiu da sala com minha filha no colo. Assim que ela fechou a porta do quarto, foi a uma vez de desabar.
A dor que senti anos atrás, estava de volta. A mesmo aperto no coração, uma dor que chegava a ser física.
Eu estava magoada e decepcionada. Ana fez sua escolha. E de novo eu não fui a escolhida. Eu só não queria conversar com ela, voltar e depois me decepcionar de novo, porque eu sei que ela faria de novo e mais uma vez eu iria terminar quebrada. Eu não tenho mais idade para viver nessa montanha russa emocional. Eu não era sozinha nesse mundo. Agora eu tinha uma criança. E essa criança estava no quarto aos prantos, sofrendo tanto quanto eu.
O certo a se fazer era acabar logo com aquilo, tomei uma decisão que não teria volta e Ana percebeu isso, no momento que nossos olhares se cruzaram.
Agora eu tinha uma menininha para consolar. Eu tinha alguém que deveria colocar em primeiro lugar. E esse alguém seria sempre minha filha.
A saudade de Ana, seria tão grande que ficarei noites sem dormir sentindo falta do seu corpo junto ao meu. Minhas pernas ainda ficariam bambas quando fosse o dia de gravação e minhas mãos iriam suar cada vez que sua voz fosse direcionada a mim. Eu sofreria calada.
Minha cama que ainda tinha o cheiro dela. O maldito travesseiro que exalava o cheiro dos seus cabelos. Me encolhi como uma criança e chorei por todos os planos que nunca iremos realizar. Mas ainda assim, prefiro as noites de insônia chorando sua falta, do que dormir e sonhar com a família que nunca vamos ter.
Minha esperança é que o tempo cure e me faça esquecer, pelo menos um pouco a dor de não ter você.
Alguns dias depois...
O despertador tocou pela terceira vez. A vontade de levantar era zero. Mas Luiza tinha que ir para escola e o restaurante exigia cada vez mais minha presença. Na cozinha eu tinha três brilhantes chefs, mas a administração do Coccina Dulce era somente comigo. Eu precisava contratar alguém para me ajudar e logo. Eu quase não tinha tempo para a cozinha. Felipe anunciou a vaga e no dia seguinte já tínhamos algumas dezenas de currículos na recepção do restaurante.
Eu me revirei na cama e acabei passando por cima dos currículos que estavam espalhados. Há dias que não durmo direito. Passei a maior parte da noite analisando os candidatos.
Peguei o papel que estava em destaque naquela bagunça.
- Daniela Fontes! Formada na USP em administração, MBA em gestão de bares e restaurantes... - Era de longe a candidata mais qualificada. Pensei mais um pouco e decidi por ela mesmo. Peguei a caneta jogada na cama e circulei seu telefone.
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Amor Doce Amor
Romance"Passei minha pequena toalha pelo rosto, tirando um pouco de farinha espalhada. Olhei mais uma vez para o corredor e ouvia cada vez mais vozes diferentes. Quando se trabalha em um cozinha você se acostuma com cada som que sai das panelas, dos utensí...