Coccina Dulce

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Coccina Dulce estava cheio, a noite de inauguração foi um grande sucesso.

Estava com Felipe andando pelo salão, falando com as pessoas, mesmo que eu odiasse isso, Felipe me obrigou e disse que pelo menos hoje eu deveria ser sociável.

- Chef! – Nós dois olhamos. - Felipe! - Clara disse rindo. - Estão chamando você na cozinha.

- Já volto! - Felipe disse me olhando. - Clara você fica aqui e garanta que ela não vá fugir para cozinha! A dona do Coccina Dulce precisa estar no salão hoje!- Falou rindo com a minha amiga.

Fiz uma careta para os dois e parei ao lado da porta com olhar perdido.

- Ela não vem! - Clara falou me dando um susto.

- Que susto, menina! - Disse levando a mão ao peito.

Ela riu travessa.

- Ela não vem, não se preocupe! - Repetiu.

Fiz cara de confusão.

- Do que está falando, mujer?

Clara revirou os olhos.

- Ana! - Levei outro susto. - Não é esse o nome dela? - Engoli em seco.

- Co-Como sabe disso? - Disse tentando disfarçar e sorrindo para as pessoas que entravam.

- Felipe me contou! - Olhei para ela sem acreditar naquele fato.

- Felipe está muito fofoqueiro... - Disse entre dentes.

- Me pergunto porque nunca me contou sobre ela?

- Boa noite, senhores! - Cumprimentei um grupo de pessoas que chegaram.

- Realmente ela deve ter sido importante... - Olhei de rabo de olho para ela. - Você está sendo até sociável para fugir do assunto. - Disse rindo.

Não respondi de imediato. Clara me olhou em expectativa.

- E então... - Disse.

Revirei os olhos.

- Ela não é importante! Foi uma história antiga que não tem mais importância nenhuma! E afinal de contas porque começou esse assunto?

- Porque você estava com o olhar perdido para fora do restaurante, aí imaginei que estivesse esperando alguém, então perguntei ao Felipe e ele...

- Foi um fofoqueiro e te contou essa bobagem! - Sai dali sem olhar para Clara.

Não vou ser hipócrita e dizer que não estava nervosa com a ideia de ela aparecer aquela noite.

Eu nem ao menos sabia como iria reagir, vendo-a ao lado do seu marido.

Fui direto para cozinha, Felipe estava dando instruções para alguns funcionários.

Quando ele acabou veio em minha direção sorrindo.

- Que cara de brava é essa? - Falou tirando o avental.

- Não fale mais de Ana para Clara, não fale mais dela para ninguém! - Disse um pouco irritada.

- Ah é isso! - Felipe nem se abalou com a bronca. - Ela não vem! - Repetiu o que Clara falou.

- Vocês combinaram isso? - Falei seguindo Felipe até o salão.

Ele ajeitou seu terno, pelo menos tentou.

Revirei os olhos vendo sua gravata torta.

- Vem aqui! - Disse puxando-o para um canto mais reservado e ajeitando o nó da sua gravata.

- Obrigado, mamãe! - Ele disse me fazendo rir.

- Engraçadinho! - Falei dando língua.

- Mas é sério, ela não vem!

- Jesus! - Falei dando as costas para ele. - Vou dizer a você o mesmo que disse a Clara... Essa história já não me importa mais!

"Será que se eu repetir isso mais dez vezes, eu acabo acreditando?" - Pensei

- Como você mente mal, González! - Disse rindo. - Ela não vem porque não está no Brasil!

"Caramba! Eu não queria uma razão para ficar curiosa sobre Ana!"

- Que bom para ela! - Tentei fingir que não me importava. - Espero que ela e o marido estejam felizes! - Sorri forçado.

- Mas ela não...

Cortei Felipe.

- Chega, Felipe! Não quero mais ouvir esse nome! Será que pode fazer isso por mim? - Disse séria e ele apenas concordou.

Clara e Felipe eram meus braços, olhos e ouvidos no Coccina Dulce. Graças ao trabalho da minha incrível equipe, nos tornamos um dos melhores restaurantes de São Paulo em menos de dois anos.

As reservas eram bem disputadas e não tínhamos do que reclamar.

Luiza está agora com quatro anos, fará cinco daqui há alguns dias.

- Mamá! - Minha filha me acordou como todos os dias. - Já está na hora de levantar!

Sorri ao escutar sua voz.

- Hoje é sábado mi hija, pode descansar mais um pouco! - Falei puxando minha pequena para perto de mim.

- Dinda Clara, disse que você é muito peguiçosa! O que é peguiçosa mamá? - Disse segurando meu rosto com suas mãozinhas.

- Sua Dinda Clara é muito abusada! - Disse rindo e beijando suas mãos. - Preguiçosa é uma garotinha que se enrola para levantar de manhã e ir à escola! – Disse fazendo ela rir.

- Bom dia, família! - Clara entrou no quarto e se jogou na minha cama.

- Não disse que ela era abusada! - Falei baixinho para Luiza.

Minha filha riu.

- O que as duas estão cochichando aí, hein?

- Nada, Dinda! - Luiza riu baixinho.

- Vou pegar essa garotinha e fazer muitas cócegas nela! - Clara levantou - Sabe quem vai te pegar?

Luiza soltou um gritinho

- O garra não, Dinda! - Disse correndo pelo quarto com Clara atrás dela.

Não tinha como não sorrir diante daquela cena tão adorável.

O telefone começou a tocar atrapalhando a brincadeira das duas.

- Eu atendo! - Clara disse correndo até a sala.

Essa menina sempre seria uma criança grande.

Segundos depois Clara voltou com o telefone em mãos.

- Para a senhorita González! - Disse me entregando o telefone.

Fiz uma careta e me encolhi.

- Diz que não estou! - Falei baixinho

- A pessoa disse que é urgente! Está atrás de você há uma semana! - Falou me dando uma bronca.

Peguei o telefone um pouco contrariada.

- Alô! Sí sou eu... entendi, mas pode me dar mais detalhes... Ok! - Fiquei mais alguns minutos no telefone escutando o homem do outro lado da linha. - Agradeço o convite, mas não é para mim...Obrigada! Tchau. - Desliguei o telefone e Clara me olhava curiosa.

- Outro empresário querendo ser sócio do Coccina Dulce? - Neguei - Cartão de crédito? Proposta de emprego na Europa? Fala mulher!

- Curiosa... - Disse jogando um travesseiro nela.

- É mama fala! - Luiza disse.

- Muito bem, querida! - Clara e Luiza bateram as mãos.

- Tá bom... um produtor me ligou me chamando para participar de uma seleção para chefs de uma competição culinária na Tv! - Clara arregalou os olhos.

- E o que você disse? - Falou em expectativa.

- Não!



Amor Doce AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora