Decepção

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Ana

- Ana! O que houve? - Vitor e Adam vieram correndo em minha direção.

- O que está fazendo aqui fora, Ana? Cadê a Cristina? - Adam e Vitor me levantaram da calçada que estava sentada desde que Cristina partiu.

Eu me agarrei ao pescoço de Vitor chorando de novo toda a dor que estava sentindo.

- Ela foi embora... - Falei entre os soluços.

- O que houve com vocês duas? – Adam disse preocupado.

- Eu estraguei tudo!

- Calma, Ana – Vitor me apertou no abraço. - Vem... vamos entrar! - Adam me puxou para um abraço caloroso antes de entrarmos.

- Estamos aqui, Aninha! - Ainda bem que não estava sozinha.

Os dois me levaram a parte mais vazia do restaurante e sentaram ao meu lado. Contei tudo a eles. Sobre o convite de Cristina e sobre a fatídica resposta que dei a jornalista mais cedo.

- E foi isso... Eu estraguei tudo em questão de segundos!

- Vocês precisam conversar melhor... todo mundo estava nervoso. - Adam disse segurando minha mão que estava por cima da mesa.

- Ele tem razão, Ana! Dê um tempo a Cristina, deixa ela se acalmar, aí vocês conversam melhor. - Concordei e não falei mais nada. Eu sabia que Cristina não iria encarar aquilo tão fácil assim.

Eu conhecia a mulher que tinha... Eu decepcionei a pessoa mais importante da minha vida e tudo por esse medo bobo que sentia.

Medos! Minha vida toda foi enfrentando cada um deles. Primeiro meu medo de sair da minha cidade para enfrentar o mundo em busca do meu sonho de ser jornalista, mas esse eu consegui vencer. Segundo foi a decisão de casar com Jean. Eu não acreditava no casamento, para mim era uma instituição há muito tempo falida. Mas resolvi sair da minha zona de conforto, que era minha vida sozinha e decidi enfrentar mais esse medo. Eu só não esperava conhecer Cristina nesse caminho. Ela me tirou do chão. Eu me envolvi, de todas as formas possíveis, eu amei aquela mulher como nunca amei ninguém na minha vida. Mas na hora de largar tudo para ficar ao seu lado, eu preferi a segurança que era ficar ao lado do meu noivo. E um novo medo cresceu em mim... O que as pessoas diriam daquilo? Ana apaixonada por uma mulher! O que minha família acharia disso? Meus amigos? As pessoas do meu trabalho?

Eram muitas pessoas, muitos julgamentos e não estava preparada para enfrentar tudo aquilo, por mais que amasse Cristina. Eu fugi. Cometi um erro ao me casar, magoei uma pessoa querida que era meu ex marido e quebrei o coração da mulher que amava. Tudo porque meu medo foi tão grande, que não me permitiu tomar a decisão mais correta.

Agora depois de sete anos, estava novamente na mesma situação e o que deveria fazer? Era me entregar e viver esse amor. Eu errei uma vez com ela, não devia errar de novo.

Meu medo de novo me paralisou e como uma covarde, eu preferi mentir do que enfrentar os obstáculos ao lado das pessoas que amava.

Luiza. Era a filha que nunca tive, eu amava tanto aquela criança. Ela despertou em mim o desejo de ser mãe. Era um amor tão grande e puro, que por vezes desejei com força que ela fosse um pouco minha também. Sua mãe do coração, como ela costumava me chamar.

Vitor me deixou em casa antes mesmo do evento acabar, eu não estava com cabeça para festa.

Me joguei na cama e arranquei aquele vestido que comprei somente para impressionar a única pessoa que me importava.

Eu estraguei tudo!

Passei aquela noite acordada, virando de um lado para o outro, inquieta e chorosa.

Foi uma das piores noites que tive na vida.

O dia já estava amanhecendo e a claridade já invadia meu quarto. Mesmo sem forças eu levantei da cama. Eu precisava tentar falar com ela. Liguei diversas vezes durante a noite, mandei mensagens e Cristina não me respondeu nenhuma vez.

Era melhor esperar... me convenci disso por algumas horas, até que a dor e a angústia me invadiam só com a possibilidade dela não me perdoar. Não podia esperar. Cristina iria me escutar.

Levantei e quase cai ao tropeçar nas malas ao lado da minha cama.

Levei a mão ao rosto e chorei novamente. Estava tudo pronto. Eu me mudaria aquela tarde.

O que foi que eu fiz? Como pude errar de novo com Cristina!

Tomei um rápido banho e dirigi até seu apartamento. Olhei para o espelho antes de sair do carro. Eu estava horrível. Grandes olheiras e os olhos inchados de chorar.

Bati a porta do carro com certa força e entrei direto no seu prédio. Subi correndo as escadas até o segundo andar. Quando cheguei em frente à sua porta, minhas pernas tremiam. Bati na porta três vezes e quando escutei o barulho da chave, meu coração disparou.

Era agora...

- Ana! - Clara abriu a porta e meu sorriso murchou. A menina estava um pouco assustada e com aquele olhar de pena que odiava.

- Cristina, está? - Perguntei sem encará-la.

- Ana... desculpe. - Eu sabia bem o que ela iria falar.

- Cristina! - Gritei da porta. - Nós precisamos conversar!

- Ela não quer falar com você, Ana... Por favor... - Clara falou triste.

- Eu só saio daqui depois que ela falar comigo! - Me exaltei. - Por favor, Clara...

Ela ficou mexida com meu pedido, eu sabia que pela mulher a minha frente a gente sentava e se resolvia, mas Cristina era muito cabeça dura.

- Ela vai me matar... - Falou me dando espaço para entrar.

Antes de colocar os pés dentro do seu apartamento, vi Cristina saindo do seu quarto e cruzando os braços.

- Por favor, Ana, vá embora! - Disse irritada.

Eu podia ver que ela estava tão mal quanto eu.

- Cristina, sabe que precisamos conversar... - Ela se aproximou da porta.

- Já disse para ir embora... - falou baixo, mas com mágoa.

- Por favor, Cristina... - Eu tentei me aproximar, mas Cristina recuou.

Recolhi minha mão que estava estendida tentando alcançá-la e engoli o choro sem muito sucesso.

Ela tinha um olhar duro direcionado a mim, aquele mesmo olhar que ela me deu há alguns anos atrás, quando estraguei tudo pela primeira vez. Eu sabia que não tinha volta... Podia ter perdão, Cristina era uma boa pessoa e trabalhávamos juntas, mas voltar ao que éramos antes era quase impossível. Ela não precisou me dizer uma palavra, o seu olhar já transmitia tudo isso. E como doía encarar aquele olhar decepcionado... até ontem brilhava por mim, transbordava amor e esperança.

Eu abaixei a cabeça e virei as costas.

- Fada! - Escutei a voz chorosa de Luiza.

Virei imediatamente e minha pequena estava tentando chegar até a porta, mas Cristina segurava sua mão.

- Não falei para ficar no quarto Luiza! - Cristina dizia irritada.

- Eu quero falar com ela! - A menina se debatia.

Eu já chorava junto com ela.

- Ana... - Luiza choramingava.

- Me perdoe, princesa... - Joguei um beijo e virei as costas.

Já estava no meio do corredor quando escutei a porta sendo batida e o choro alto de Luiza invadir meus ouvidos.

Amor Doce AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora