Aidan olhou para Elena, dentro do elevador, e decidiu que ela parecia ainda mais transtornado que ele agora. Lógico, ela era uma civil e tinha visto, há pouco tempo atrás, seu segundo corpo em menos de 24 horas. E era o corpo de outra conhecida - alguém próximo. Embora ela ainda estivesse mantendo o bom humor, a cena, outra cruel cena cheia de magia negra e pássaros mortos em cima de mesas seladas com estrelas e cera de vela, parecia viva demais em seu rosto e no seu estômago.Os dois foram na delegacia, onde ela tomou um café fraco e observou ele sem humor nenhum digitar um relatório patético em uma sala vazia e cheia de tristezas.
Haviam sido horas intensas, muito intensas.
Ele fez questão de acompanhar ela até em casa, primeiro, porquê queria garantir que ela estivesse bem, segundo, por que precisava compreender o que diabos tinha acontecido naquela noite. Ele mesmo estava confuso e odiava estar confuso.
- Já é quase de manhã. - Ela falou olhando para Aidan e recolhendo os braços. - Eu sei que você já entregou seu relatório e tudo mais, mas eu acho que nós dois podemos dormir um pouco antes de ir atrás de Paula ou em Morrigan.
Ele concordou com ela e percebeu que ela estava pálida. O prédio, pensou ele, era um local chique, caro, daqueles que só muito dinheiro podia comprar. O mármore branco do piso e todo o luxo do elevador não combinavam em nada com o visual de mendigo de metrô que ela usava. Além disso, lembrou ele, as correntes e anéis que ela usava eram muito anos 80.
- Você quer uma cerveja? Ou ainda está de serviço?
- Eu vou tirar algumas horas. - Ele declarou. - E eu achei que bruxas não bebiam.
- Essa aqui bebe.
O elevador abriu-se e não foi em um Hall de corredor ou alguma palhaçada assim, foi no meio de uma sala enorme e cheia de móveis chiques e antigos - tão antigos que o local parecia um museu medieval rico demais. Havia uma moldura na parede, segurando um retrato de uma senhora de idade, vestida quase como Elena, e a porcaria parecia ser revestida à ouro.
- Uau. Isso é muito dinheiro, Elena. O que é que você diz que faz mesmo?! - Olhou ao redor, se permitindo ficar impressionado enquanto ela deslizava pela sala até uma enorme ilha aberta de onde abriu uma gaveta refrigerada e retirou uma cerveja alemã.
- Eu não disse. - Ela sorriu. - Eu tenho uma loja de chá. Na verdade, algumas delas.
- Chá. - Ele levantou a sobrancelha. - Eu não sabia que chá estava tão super valorizado.
- Não está. - Falou sem prestar atenção nele, abrindo as garrafinhas de cerveja na bancada da ilha. - O apartamento era da minha avó. - Apontou para o quadro na parede.
- Herança. - Ele compreendeu.
- Sim. Única neta. Única Joy. - Ofereceu a cerveja ao convidado.
- Obrigado. - Ele aceitou e apontou para um sofá luxuoso e dourado. - Posso?
- Fique a vontade.
- Mais alguma coisa sobre você que eu deva saber? Algum dragão escondido ou um sapo, talvez?
- Sem dragões. - Ela riu. - Não consigo manter nada vivo além de mim mesma. Eu sei... - Riu. - Bruxa. Eu devia ter o dom da natureza e tudo mais. Não era meu dom. Era do de Mary. Ela atraía tudo que era vivo. Ar, oxigênio, acho que tem haver com vida.
- E você não. - Procurou compreender tomando um gole da cerveja.
- Fogo. - Levantou a mão de novo, mostrando a palma para ele. - Acho que fogo e vida, não combinam.
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O Covil Soho
ParanormalA investigadora paranormal Elena Joy é chamada para resolver um caso envolvendo seu horrível passado. Conforme as pistas vão esquentando, Aidan Moore é obrigado a ajudá-la de uma forma que ele não imagina ser possível. Observe Aidan e Elena seguirem...