15. William

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A ausência era algo que tinha se feito bem presente. A ausência dela.

Não tinha noção de que poderia ter me acostumado tanto com a presença de alguém até que essa pessoa simplesmente se afastou. Eu chamava Danna para almoços e jantares na minha casa, mas ela não estava disposta ou estava ocupada. Nossa troca de mensagens tinha diminuído consideravelmente e as ligações quase não existiam.

Nos encontramos poucas vezes pessoalmente quando ia buscar Julliet em sua casa. Danna não parecia diferente, não me tratava diferente de antes, exceto que os flertes já não existiam. Não da parte dela. Eu tentava ridiculamente chamar sua atenção de algum modo. Estava mais parecendo uma criança birrenta querendo atenção da mãe a todo custo. Mas Danna não me dava mais isso como antes. Quer dizer, ainda era meio que como antes, mas...

– Puta merda! – xinguei alto jogando com raiva a caneta sobre os papeis que eu precisava conferir.

– Está tudo bem, Sr. Holt?

Ergui o olhar para encontrar o garoto esguio de cabelos pretos e olhos castanhos.

– Tudo bem, Andrew – respondi soando ainda um pouco grosseiro.

Porra, esse garoto estava aqui dia sim, dia não. Ele não tinha casa? Estava acampando na garagem da minha casa? Julliet também não me dava muita atenção, porque estava sempre mais preocupada com o namoradinho. Nossas conversas ficaram cada dia mais de lado. Estava ficando sem minha filha outra vez e perceber isso me fazia sentir raiva do garoto a minha frente. Maldita adolescência!

Ele me deu as costas, sentou ao lado da minha filha e cochichou algo com ela. Estávamos todos na sala, eles no sofá assistindo algum filme meloso e eu na mesa, analisando relatórios. Quem eu queria enganar? Estava mesmo era vigiando-os. Eu estava sendo infantil? Estava, mas que se foda. Estava mal-humorado comigo mesmo. Apenas observei a movimentação quando os dois se levantaram. Ele tinha chegado a pouco tempo e, se estavam se levantando e desligando a televisão, era porque iam para outro lugar...

– Tenha uma boa noite, Sr. Holt – Andrew disse.

Franzi o cenho.

– Para onde vocês vão? – questionei.

– Eu vou para a minha casa – respondeu e Julliet cruzou os braços. – Minha mãe mandou uma mensagem me chamando.

Assenti.

– Algum problema lá? – perguntei um pouco preocupado.

Por mais que eu tivesse raiva da distancia que o namoro estivesse criando entre minha filha e eu, realmente me preocupei com ele nesse momento, e o fiz porque tinha quase certeza de que ele estava mentido. Andrew chegava por volta das sete da noite, quando Julliet não ia para a casa de Danna, e saia quase pontualmente as nove e meia. Ele só tinha chegado a meia hora e sair assim de repente...

– Desde quando você se importa? – Julliet resmungou, irritada.

Suspirei e peguei a caneta outra vez, ignorando a alfinetada. Não queria brigar. Larguei os gráficos e nos números e fui atrás de fazer o que realmente fazia meu coração pulsar novo, o que me motivava, o que me fez chegar a ser o dono da Construtora Holt: criar. Fui até meu pequeno escritório e peguei meu material, enquanto tinha consciência de que Julliet e Andrew se despediam.

Eu era formado em Engenharia Civil e tinha uma pós-graduação na área. Mas era a Arquitetura o meu amor maior. Há pouco menos de um ano e meio eu tinha terminado meu mestrado.

No inicio, quando estava cursando Arquitetura e me desdobrando para abrir a Construtora, amava isso aqui: parar e criar. Me perder nas linhas, deixar a imaginação fluir, pensar em pessoas entrando no local que eu tinha criado, nas paredes que eu tinha erguido, usando os espaços que eu tinha calculado e tornando delas o que tinha surgido no papel com riscos. Estava agora colocando nesse papel a primeira coisa que veio na minha mente.

Cinco segundos para amar [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora