Deixei Isabella na creche e fui para a universidade. Mesmo que minha aula já tenha encerrado, alguns alunos ficaram para conversarmos sobre o conteúdo. Fizeram piadas bobas sobre a economia da Grécia que não estava nem um pouco interessante, até que de repente pararam. Fizeram expressões surpresas e impressionadas. Olhei na mesma direção que eles, a porta da sala.
William estava sob o portal com um buquê enorme de rosas vermelhas e uma caixa de bombons na outra mão. Que merda era aquilo tudo? Ele parecia mais como um marido adultero. Não resisti e ri. Seus olhos não saíram de mim por nenhum segundo enquanto caminhava, se aproximando cada vez mais.
– Acho que essa é nossa deixa para cair fora – disse um dos meus alunos, me fazendo rir mais um pouco.
Quando William finalmente parou na minha frente e meus alunos não estavam mais por perto, não resisti e ergui uma sobrancelha.
– O que é isso tudo? – perguntei tentando esconder o tom de zombaria, mas falhei vergonhosamente.
Ele me estendeu o buquê e a caixinha de bombons com um sorriso sem graça.
– São para você.
Peguei as flores, que quase me esconderam atrás de sua beleza, e coloquei-as na mesa com cuidado. Analisei e senti o perfume suave que exalavam.
– Obrigada, elas são lindas, Will – escorei o quadril na minha mesa e abri a caixinha pegando um bombom. – Agora me diga por que isso?
– Como assim?
– Isso... – gesticulei dele para as flores e ergui mais um bombom antes de coloca-lo na boca. – Você parece um marido que traiu a esposa.
William riu e abaixou a cabeça, parecendo um tanto sem graça.
– Bem, gostaria de me desculpar por aquela noite.
– Ah...
Ah. Aquela noite. A noite em que acordei com ele sorrindo e chamando a esposa enquanto dormia com os braços ao meu redor. A noite em que, quando William abriu os olhos, por um segundo vi algo que jamais pensei que veria em sua expressão: decepção. A primeira noite que chorei por ele.
Engoli o bombom com dificuldade pela lembrança que amargou seu gosto. Entendia que William amava a esposa. Aceitava isso. Mas a decepção momentânea que vi no seu olhar... Isso sim me derrubou.
– Aquela noite... – comecei abandonando a caixinha ao lado das rosas de um vermelho vivo magnífico.
– Sei que deve ter sido horrível – disse tendo a dignidade de parecer envergonhado.
– Eu não vou mentir e dizer que aquela noite foi tranquila, porque não foi, William. Você falar de Samantha é uma coisa, mas você acordar chamando por ela...
– Não tive a intenção, Danna.
– Eu sei. O pior de tudo é que eu sei – soltei em um suspiro. – Mas isso não me impediu me sentir insuficiente para você. Não me impediu de...
Soltei uma risada sarcástica e me afastei dele, dando-lhe as costas. Passei a mão nos cabelos e respirei fundo antes de admitir:
– Saber que você não tinha a intenção que chamar por ela não me impediu de desejar, naquele maldito momento, ser Samantha.
– Danna – ouvi seus passos apressados se aproximando outra vez e me virado para encará-lo. – Não, Danna. Por favor, tire isso da cabeça, está bem? Me desculpe pelo que fiz você passar naquela noite. Tenho me culpado e me julgado por vezes o suficiente desde então.
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Cinco segundos para amar [Completo]
Romance[Série Segundos - Livro I] Samantha Holt, cidadã americana da cidade de Nova York, casada há doze anos e mãe de uma menina de dez anos, descobriu o câncer de mama no estagio IV aos 38 anos de idade. Faleceu sete meses depois deixando a filha e o mar...