23. Julliet

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Suspirei com o celular no ouvido. Quase pude ver Andrew revirando os olhos ao mesmo tempo. Ele odiava que eu bufasse e eu odiava que ele revirasse os olhos, mas que se exploda.

– Eles são adultos, Jujuba. Vão se virar.

– Eu sei, Andy...

– Você falou que não ia interferir – ele lembrou.

– Mas não vou interferir – argumentei, exasperada. – Vou dar uma sugestão.

– Não é diferente – Andrew disse e, pela sua voz, tive certeza que ele estava sorrindo.

– É claro que é!

Não, não era mesmo diferente. Mas quem disse que eu estava preocupada com isso?

– Não vou mandar meu pai fazer nada, Andy, vou apenas sugerir, e ai ele decide o que fazer com minha sugestão.

– Sei – resmungou.

Dei de ombros.

– Eu sabia que não tinha que ligar para você, tinha que ter ligado para Arthur, isso sim – confessei tirando o esmalte das unhas pelos pedaços, sem usar o produto necessário.

– Aquele romântico incorrigível? – chamou meu primo como eu o chamava.

– Sim, ao contrário de você ele não ia querer que eu desse só uma sugestão, ia querer que eu interferisse.

– Então vou ser seu grilo falante, sua consciência. Aliás, vou ter que ser a consciência de vocês dois, pelo que estou vendo – murmurou com um risinho no fim.

– Você é um saco.

– E é por isso também que você me ama.

– Convencido.

– Sabe como é, não?

Olhei para o porta-retrato na cabeceira da minha cama. Minha mãe, meu pai e eu. Era uma viagem que tínhamos feito, na verdade, foi a última. Eu gostava daquela, muito mais do que as outras. Visitamos o Brasil, estávamos felizes, minha mãe estava radiante. Tão nova, jovem e conversando sobre ter mais um filho. Eles não me contaram sobre isso, mas ouvi suas conversas com tia Ariana atrás da porta.

E então ela se foi. Não teve mais viagens, sorrisos ou mais um bebê na jogada. Não, tudo acabou e minha vida desmoronou junto. A porra da vida de todo mundo tinha desmoronado. Eu sentia falta da leveza que meu pai tinha, como se ele só precisasse de meio segundo para arranjar um motivo para sorrir e brincar.

– Jujuba? Você está me ouvindo? – a voz do meu namorado me chamou a atenção.

– Uhum, baby – murmurei ainda saindo dos meus pensamentos.

– Ei, ele vai ficar bem... – falou mais suavemente. – Seu pai e Danna vão se ajeitar e depois nem vão mais lembrar do porque não queriam ficar juntos.

– Certo... Tenho que desligar agora – disse a ele.

– O que?

– Tchau – me despedi.

– Não. Sei o que você vai fazer, Jully, vai dar merda! – Ele disse tão rápido que as palavras se atropelaram um pouco com sua ansiedade.

– Amo você – me despedi.

– Não, não, não, você não vai...

A linha ficou muda. Nesse momento, Andrew, com certeza, estaria me xingando até a próxima vida. Abri a agenda no meu celular procurando o número de Arthur, meu primo. Tive que esperar alguns toques para finalmente sua voz me saudar.

Cinco segundos para amar [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora