35. William

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Fechei os olhos. Talvez se os abrisse novamente perceberia que tudo isso não passara de um pesadelo. Então os abri e nada mudou.

Eu a perdi.

Danna Green se afastava cada vez mais dentro do táxi. Mas senti sua distância antes mesmo do dia raiar. À noite, quando conversamos, Danna estava longe demais emocionalmente.

Puxei o ar, sentindo dificuldade em fazê-lo e me virei para Julliet. Minha filha abaixou a cabeça e me deu as costas. Isso me rasgou outra vez. Não podia perdê-la também. Já era demais perder Danna e Isabella, a mulher que me amava e a menina de sorriso doce, então não podia perder Julliet de novo.

– Julliet! – chamei.

Minha garota parou e soltei o ar, sem nem me dar conta de que estava prendendo-o, aliviado. Caminhei até ela, ficando a sua frente.

– Não sabia que ainda guardava as coisas da mamãe naquele quarto – comentou.

Engoli em seco, sentindo o coração bater pesado dentro do peito.

– Sinto falta dela, Jully – confessei.

– Eu também sinto, pai, mas sigo em frente porque é o que ela ia querer – Julliet deu de ombros.

Abaixei a cabeça, massageando a nuca. Tive a impressão de estar carregando um planeta pela forma como sentia dolorido, cansado. Quando levantei a cabeça, dei-lhe um sorriso tristonho e abracei-a, ainda com receio, não sabia se ela iria me rejeitar. Mas Julliet aceitou bem a minha aproximação, e me senti menos quebrado com ela nos meus braços.

– Quando você cresceu tanto? – questionei vendo o segurança fechar o portão.

Naquele momento, ele parecia estar legitimando o fim entre mim e Danna, como o homem fechou o caixão em que estava minha esposa.

– Eu não sei como viver sem Samantha – sussurrei.

– E agora precisa aprender a viver sem Danna.

Abaixei a cabeça novamente. Com um braço em seus ombros, guiei-a para dentro de casa. Nos sentamos no sofá ainda abraçados.

– Quero reconquistar Danna, Jully – admiti. – Mas não sei como.

– Acho que você pode começar deixando a mamãe ir em paz.

Senti um bolo se alojar na minha garganta, me impedindo de respirar corretamente. Deixar Samantha em paz queria dizer o que quando eu quem estava vivendo no inferno? Ou, esse tempo todo, estive apenas perturbando memória dela? Não tinha a menor ideia de como agir dali em diante a respeito de Danna e de Samantha.

.   Julliet  .

Ele estava mal.

Eu estava mal.

Ela estava mal.

Uma semana e não tinha ninguém bem. A única que parecia não sentir o choque do que aconteceu foi Isabella, por não entender. Mas tinha certeza que ela sentia falta da presença dele. Dois dias sem ver seu Willy-Willy, Isabela já apontava para a foto dele no meu celular e dizia:

– Papa-pá. Tá onte?

– Não é papá, Bella – falei.

Mas como já aprendia rápido na creche, Isabella franziu as sobrancelhas e me deu língua.

– Isabella, que coisa mais feia, menina – repreendi pelo gesto. – Muito feito!

Bem, Danna estava seguindo. Em alguns momentos, ficava triste, cabisbaixa, mas não chorou mais nenhuma vez desde que saiu da minha casa. Trabalhava com a mesma vitalidade, cuidava de Isabella com a mesma dedicação e saiu com os amigos umas duas vezes na última semana. Nada indicava que tinha acabado de terminar um namoro, exceto pelas vezes que ficava olhando para o celular, o olhar pensativo e triste. Algumas dessas vezes, com muito esforço, consegui enxergar o que Danna tanto olhava ali: fotos deles juntos e as últimas mensagens trocadas.

Cinco segundos para amar [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora