4. Danna

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Duas semanas. Duas semanas de Holt vindo buscar Julliet em minha casa depois que eu chegava das aulas particulares que dava na biblioteca da faculdade. Estava sempre precisando de dinheiro extra com uma casa para manter sozinha e ajudar minha mãe com os remédios dela. O salario de uma professora para mestrandos, era bom, mas ser mãe solteira era complicado.

Holt já havia aprendido os meus horários de chegada. Julliet não parecia nada satisfeita com a companhia do pai, reclamava em cada momento e, quando eu a deixava sozinha, ouvia seu fungar baixinho. Porra, esses dois estavam dando tanto trabalho. Ela chegava cada dia mais irritada em minha casa, cada dia mais teimosa a não ceder, até que cansei de cogitar o que podia estar se passando naquela cabecinha tão jovem quando tive que cancelar uma das minhas aulas particulares porque Julliet tinha chegado claramente alterada.

Não que eu estivesse preocupada pensando no que Julliet podia fazer com Isabella, eu confiava minha filha àquela garota de olhos fechados, só estava preocupada com ela mesma. Seu emocional estava uma merda.

– E sabe o que ele fez? Quando é seu jogo, Julliet? – ela se levantou do sofá, irada, imitando a voz grossa do pai. – É, ele perguntou quando era meu jogo! Surpresa? Ele está querendo bancar o pai do ano...

– Jully – a interrompi, deixando Isabella brincar no chão com suas bolinhas. – Por que tudo isso? Eu entendo que ele tenha deixado você na mão por cinco anos, quando você mais precisou, mas ele está tentando se redimir.

– Ele não teria o que se redimir se não tivesse ferrado tudo – ela resmungou, chateada. – A mamãe nunca teria feito isso.

– Holt não é a Samantha, querida – argumentei. – Não adianta você buscar ela dentro dele, porque só o que restou ali foi sentimento que agora não tem pra onde se dirigir.

Julliet sentou outra vez no sofá, afundando contra as costas dele. Não precisei me esticar muito para pegar sua mão porque o sofá já era pequeno mesmo.

– Olha, talvez você devesse o deixar tentar, pelo menos – falei como um pedido. – Deixe ele voltar a cuidar de você.

Senti sua mão saindo debaixo da minha abruptamente e ela se levantando e se distanciando. Me olhava como uma animal acuado.

– Não, Danna, não dá, não posso deixar ele se aproximar de mim outra vez – ela gemeu agoniada, o medo em seus olhos me assustou.

– Julliet, ele é seu pai – disse confusa. – Ele ama você, está tentando tão fortemente se reaproximar...

– Ele tem que ficar longe, não entendeu ainda? – Julliet perguntou com os olhos cheios de lagrimas.

Seus olhos correram para Isabella, alheia a nós com seus brinquedos. Entendi que ela não queria assustar minha filha. Achava linda a forma como Julliet se preocupava com ela mesmo quando mesma estava desmoronando.

– Posso contar nos dedos da mão quantas vezes jantei com ele nesses cinco anos. Eu mal o via dentro de casa, ou porque estava na empresa ou porque se trancava no escritório – ela despejou em meio as lagrimas, como se fosse um peso grande demais que a suprimia. – Se eu ficava doente, Matilde dormia no meu quarto porque ele estava ocupado demais para cuidar de mim. Agora ele resolveu que quer se redimir depois de tudo isso?

Julliet se abraçou, desolada.

– Eu tentei tão desesperadamente fazer ele olhar para mim outra vez, Danna...

Ela soltou um soluço alto que chamou até a atenção de Isabella.

– Se deixar que ele se aproxime de novo, se voltar a me apegar e ele me abandonar outra vez, não vou aguentar, Danna. Eu não vou aguentar perder meu pai duas vezes.

Cinco segundos para amar [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora