ATO 4

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Pensa em seu futuro,  enquanto eu sofro pelo passado

     Saindo do campo Mayfileds com a sensação de que poderia ter ficado mais um pouco, fui direto para casa

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     Saindo do campo Mayfileds com a sensação de que poderia ter ficado mais um pouco, fui direto para casa. O bar do Ted era o lugar mais oposto que existia daquele campo. Lá havia barulho, pessoas e nenhum sentimento prazeroso, a não ser, claro, se prazer resumisse a um cochilo na calçada após litros de álcool barato. 

    — Sabe, eu gosto muito dela. Gosto mesmo. Já contei o dia em que fizemos amor no telhado aqui do sobrado? — perguntou o rapaz, bufando um ar podre, com seus olhos semiabertos. Ele segurava uma garrafa de rum na mão esquerda, enquanto a direita, tentava encontrar o bolso de sua calça, mas estava excessivamente bêbado para conseguir fazer isso.

     — Fica para uma outra hora, Ted, preciso arrumar aquela casa. Está uma bagunça.

     — Sua tia nunca te contou sobre aquela vez? Deus! Foi insano! — continuou, ignorando-me. Ted já não olhava para mim. Na verdade nem sabia para qual direção olhar. Passando por ele e pelos rapazes espalhafatosos, subi as escadas até o primeiro piso e entrei no apertado local que eu chamava de cafofo. A bagunça continuava exatamente do jeito que eu deixara e com toda certeza ela continuaria ali se eu não fizesse algo a respeito. 

     Tia Betty dizia que o melhor jeito para começar a organizar a vida, é começando pela sua casa. E foi com embasamento neste conselho, que iniciei uma faxina pesada. Retirei todas as sujeiras da sala, varri o tapete, utilizei o aspirador de pó para não deixar resquícios de nada, liguei para o técnico vir arrumar a televisão velha e por fim lavei uma pilha de louças que já estavam servindo de lar para moscas.

     A sala e a cozinha eram juntas se não por um pequeno balcão que as dividia. Enxugar a louça vendo os noticiários pessimistas do jornal com tia Betty já fazia parte da rotina e apesar disto não ser um entretenimento satisfatório, ainda me fazia falta. Pensando melhor, muitas coisas supérfluas que fazíamos juntas já dava um sentimento nostálgico, mesmo que essas nostalgias fossem apenas de semanas atrás. 

     Um dia sem ela realmente fazia diferença. 

    Aquela velha rabugenta.

    Sorri.

     Um jazz melancólico tocava no radio lá embaixo. Um ato de despedida. Era a parte da noite em que os bêbados voltavam a ficar tristes quando o efeito do álcool se dissipava de seus corpos, trazendo-os de volta para a realidade, uma bem triste, por sinal. Por essas e outras eu preferia estar lavando uma pilha de pratos podres, do que experimentar a felicidade instantânea. Se fossemos medir na balança o que é ser feliz de verdade e o que é ser feliz de mentira, poderíamos ver que ambas causam o mesmo efeito, já que nem em uma e nem em outra a duração seria a longo prazo. O que os alcoólatras do bar do Ted não sabiam é que quanto mais eles procuravam um modo de ser feliz, mais infelizes eles tendiam a ficar. O segredo é não procurar nada. Ir atrás de algo que nem sabemos se existe é uma atitude impertinente.

III - Liberdade Para IrrecuperáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora