ATO 39

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Há uma exuberância na bondade que parece ser maldade

     O gramado do pátio estava crescendo, alguém teria que poda-los

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     O gramado do pátio estava crescendo, alguém teria que poda-los. Eu não posso fazer isso no momento. Um grupo de borboletas repousam no entulho de pedras em um canto, e o sol bate sorrateiro no centro do local. Uma invasão desconfortável, já que em nenhum momento outrora a luz era permitida no pátio principal.

     Minha prateleira possuía um espelho que pegava da cabeça até minha cintura. Como estou bonita. Existia uma vitrola ali do lado. O centro do pátio era o meu show particular. Os escombros transformaram-se em um refúgio excêntrico. Cada pedra, cada grama e cada partícula de pó que dançavam no ar ali, pertenciam a mim. Este é meu trono formidável, inquebrável. No entanto eu pertencia a alguém, assim como as pessoas se pertencem.

     Terminei de me encarar no reflexo, passei o batom vermelho em meus lábios e ajustei os ombros de meu vestido. O delineador estava impecável, o blush em minhas bochechas equilibrava o tom claro do amarelo e meu brinco esquerdo de lua minguante, permanecia polido e bem conservado. Onde estaria o outro par dele?

     Me levantei do velho banquinho. A ponta de meu vestido escarlate arrastava-se no chão, varrendo a pequena camada de poeira que tinha ali, mas quem se importava? Liguei a vitrola e coloquei meu disco preferido, era meu dia de folga, hoje pertenço a este lugar, apenas.

     A musica começou a tocar e meus sentidos aguçaram, os pelos claros de minha pele arrepiaram e meu cérebro afastou todas as más ideias. Tudo o que eu escutava e sentia, era a musica produzida daquele caixote velho e antiquado. Abri minha boca e comecei a cantar.

     "Pássaros voando alto, vocês sabem como me sinto

     Sol no céu, você sabe como eu me sinto

     Brisa passando, você sabe como eu me sinto

     É um novo amanhecer

     É um novo dia

     É uma nova vida

     Pra mim

     E estou me sentindo bem."

     Meus pés mexiam-se conforme o ritmo. Meu corpo rodopiava, transformando aquele vestido em uma flor desabrochada. Sempre dancei muito bem. As borboletas se assustaram e voaram para lá e para cá, insetos bonitos, enfeitavam o meu cenário e contracenavam com a cor de minhas vestes. Os feixes de luz iluminavam o suficiente. O eco sonoro invadia cada canto do orfanato. As pilastras do pátio, tão velhas e cinzentas ficaram em segundo plano, imperceptíveis. Eu estava ali e eu ofuscava tudo ao redor.

     "Peixe no mar, você sabe como me sinto

     Rio correndo livre, você sabe como me sinto

III - Liberdade Para IrrecuperáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora