ATO 45

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Parte da jornada é o fim

Parte da jornada é o fim

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 Londres - 2010

     Tudo ficou cinza naquela manhã.

     Brok trajava um terno preto, elegante. Usava óculos escuros. Meggie, um vestido preto com bordas claras e Tia Betty segurava em minha mão direita também de óculos escuros. O lugar parecia uma pequena cidadela, com muitas construções criativas, que formavam as lápides. A cabeça de um rapaz, esculpida em concreto, enfeitava uma delas, próximos de nós. Outras continham tantas flores que pareciam fazer parte do gramado. Algumas eram tão velhas que foram consumidas por plantas trepadoras. O cemitério Highgate era o ultimo lugar da terra onde gostaríamos de estar, mas estávamos.

     Brok segurou minha mão também, enquanto olhávamos o caixão vazio de Feen descendo o buraco através de correntes ligadas em uma maquina. Apesar de não poder ver, o rapaz as escutava descendo devagar, e o barulho rangente que produziam até estacionar o grande caixote no solo.

     Éramos apenas nós.

     Pétalas rosas caíam ali perto, vindas de uma arvore de cerejeira, que florescia nesta época do ano. Era o único pincel colorido naquele cenário lúgubre. Até ouvirmos passos esmagando algumas folhas secas no chão.

     — Ele me ajudou tanto — dizia um rapaz jovem, de cabelos curtos e terno azul escuro, se aproximando — o observei, revirando minhas memorias para ver se o conhecia de algum lugar.

     — Desculpe, quem é você? — perguntei, ao mesmo tempo em que todos se viraram para vê-lo.

     — Sou Oliver. Um paciente dele de muitos anos. Doutor Feen foi uma luz no fim do caminho. Se estou vivo hoje... foi graças a ele.

     — Ele foi um bom homem, de fato — desta vez, era uma senhora. Ela estava do outro lado do caixão, caminhou alguns passos e jogou uma rosa branca. Em seguida um casal apareceu. Eram dois homens negros, altos. Eles cumprimentaram todos com um aceno e também jogaram rosas. Olhei para trás surpresa, ao ver em média, cinquenta pessoas vindo até nós. Tia Betty e Meggie não esconderam suas reações. Se distanciaram do caixão para dar espaço aos demais. Cada um com uma rosa em mãos.

     — Quem são... essas pessoas... Pandinha? — sussurrou tia Betty, abaixando seus óculos para vê-los melhor.

     — Não tenho certeza mas acho que eram seus pacientes — Respondi. Brok colocou sua mão direita na boca e tirou seus óculos. Esfregou o rosto e desabou em lágrimas.

     As pessoas jogavam as rosas na cova, bordando a terra de branco e tapando o caixão com elas. O coveiro observava com apreço os singelos gestos. Fiquei feliz. Todos ali, gratos por terem sido ajudados por ele. Era como construir uma casa sozinho. Colocou tijolo por tijolo, telhado por telhado e no final do árduo trabalho, se viu em frente de um grande e aconchegante lar, fruto de seu esforço. O lar estava aqui, construído no coração de cada um de seus pacientes. Espero que, neste momento, Feen esteja entre nós, para ver que nada do que fez foi em vão. Ele entregou as armas necessárias para todos seguirmos em frente.

III - Liberdade Para IrrecuperáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora