ATO 38

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É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado.

É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado

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     Londres - 2010 - Algumas horas depois.

     O taxista estacionou no local de deficientes. Não havia lugar para repousar pessoas, quem dirá automóveis. A calçada repleta de gente, vinham de todas as direções. Eu já estava com saudades do centro. O mesmo filtro cinzento, os mesmos trajes, a mesma pressa. O pior inimigo de um cidadão da cidade grande é o relógio. No momento, o meu também. Bati a porta do carro e subi uma remessa significativa de degraus até a entrada do hospital. Meus passos rápidos chamaram a atenção da balconista. Os documentos estavam em mãos.

     — Betty Tompson, por favor.

     — Quarto vinte e três, piso dois — Disse ao terminar de xeretar o computador e imprimir minha ficha. Sem agradecer, segui o corredor e subi mais escadas. Olhei porta por porta. Meu coração não aguentava, chegava a doer. O numero vinte e três apareceu. Abri a porta e lá estava ela. Tia Betty, deitada em uma cama confortável, vendo seu programa preferido em uma televisão embutida na parede.

     — Pensa em um telão desses lá em casa, Pandinha — disse tia Betty ao me ver depois de longos e incansáveis quatro dias — Pegue meu óculos escuro aqui na cômoda, por favor, meus olhos não aguentam a claridade desse quarto limpo.

     — Tia... graças aos céus... — fui até ela e a abracei. Deitei em seu peito e não contive a felicidade. Mais uma vez meus olhos encharcaram-se. Era como um gatilho. Nunca pensei que que pudesse vê-la de novo. Tia Betty continuava com seu perfume de lavanda e seu colo aconchegante como o de uma mãe. Minha família, era tudo o que me restava.

     — O que houve, querida? — Questionou passando a mão em meus cabelos — Nunca vi lágrimas nesse rosto.

     — Desculpe por ter te deixado sozinha... me desculpe...

     — Se desculpar? O que foi que eu te disse esses dias? Para viver sua vida e parar de viver a minha. Estou bem, meu amor. Estou bem, foi só um susto. Nem precisei fazer a cirurgia no coração. Sou velha e tenho uma saúde desgraçada. Um infarto de vez em quando é normal, não?

     — Você é louca, tia. Eu te amo tanto... — sorri e ao mesmo tempo, solucei.

     — Também te amo — disse ela — Não precisava ter me transferido para um hospital particular, da onde você tirou esse dinheiro?

     — Não fui eu...

     — Não? Foi quem? — questionou intrigada. Não consegui dizer. Mencionar Feen neste momento frágil seria uma tortura. Se eu não separasse tantos sentimentos, provavelmente enlouqueceria. Tia Betty não sabe da existência de nenhum de meus amigos. Sempre me viu como uma mulher solitária e eu não achava esse titulo ruim. Faz parte da minha natureza, terminar sozinha. Mas por um breve momento, senti bem e segura. O carinho de tia Betty aqueceu aquela tarde sombria e todos os meus devaneios.

III - Liberdade Para IrrecuperáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora