Capítulo 23: Atos e confissões

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- Como é que é?! - Santana Lopez perguntou dividida entre a raiva e a incredualidade. A latina deu um passo em frente, aproximando-se predatoriamente da mulher ruiva que se encontrava encolhida no meio da sala. Santana queria que as últimas palavras ditas por ela nunca tivessem saído dos seus belos lábios... A advogada sentia a desintegração de cada pedacinho de sua relação com ela. A ruiva estava trêmula e respirava com dificuldade. - Não me faça perguntar de novo!

Dessa vez, o tom se elevou algumas oitavas e Santana perdeu o controle. Ela apanhou a mulher ruiva pelos antebraços e a puxou para perto. Os olhos acinzentados já estavam marejados e Santana não conseguiu sustentar os próprios olhos por muito tempo. A advogada se asfastou, respirando fundo e entregando o pequeno escritório a um silêncio pesado e incômodo.

Julianne, ou melhor, a mulher que dissera ser ela, apoiou-se na mesa, de costas para Santana e pigarreou. Respirou fundo e suas mãos apertaram as bordas da mesa a ponto de seus dedos brancos ficarem ainda mais pálidos. Em seguida, suspirou para, enfim, dizer mais serena:

- Meu nome, de nascimento, é Kathryn Aleed. Eu nasci na Irlanda, em 1984 e vim para os Estados Unidos com seis anos. Meus pais foram mortos em acidente de carro e eu fui entregue à adoção. Eu não saí do sistema e acabei conhecendo o Michael ainda no orfanato onde eu estava... Melhor, seu nome é Joaquin. Ele tinha a história semelhante a minha: órfão, estrangeiro, sem família. Nós dois nos aproximamos e fomos bancados pelo governo norte-americano até os nossos 21 anos. Quando, enfim, atingimos a maioridade.

Santana permaneceu calada, de cabeça baixa e pensativa, uma interessante batalha se instalara em seus pensamentos. De um lado, a mulher doce e amedrontada que conhecera: Julianne Urie e agora, essa mulher completamente desconhecida, chamada Kathryn e que parecia ter muito a esconder. Julianne, agora, Kathryn, a observava apreensiva, com medo das reações da latina.

Kathryn, por sua vez, nunca tivera muita dificuldade em deixar pessoas para trás, ainda mais com a vida que levava. Mas com Santana fora diferente, desde que colocara os olhos na advogada naquele corredor, tivera todas as noções de vida que ela possuía alteradas. Sua lealdade cega a Joaquin já estava prejudicada há bastante tempo, mas a força para sair daquela situação só foi encontrada quando seus olhos enxergaram a imensidão dos olhos escuros de Santana. Ela soube, naquele momento, que precisava largar tudo para se entregar novamente a quem era.

Mas como abandonar o tipo de vida que levava? Como cair fora dos abusos de Joaquin se era tão dependente dele? Kathryn tirou toda a coragem que precisava de Santana e seu objetivo era ser feliz com a latina... Esperava esquecer que já se chamara Kathryn e que tivera uma vida antes de Julianne. Mas o passado é impiedoso e ele sempre te encontra, independente de quão longe você corra dele.

- Nos estabelecemos na Califórnia e, como acontece com a maioria dos órfãos que não saem do sistema, Joaquin se envolveu com atividades ilícitas. Desde tráfico de drogas a assassinatos. Não vou me defender, eu também me envolvi nesse tipo de coisa. Eu não sou pura, Santana. Minha ficha é tão longa quanto a ele. - Kathryn falara com o tom de voz pesado, frio e bem diferente do tom que Julianne usara. Instintivamente, Santana abriu a terceira gaveta do lado esquerdo e envolveu sua mão no punho da pistola que se encontrava ali. A ruiva se virou e os olhares se encontraram. - Mas eu nunca matei. Joaquin já matou muita gente.

- Você acabou de dizer que a dona da identidade que você assumiu morreu há dois anos, na Califórnia. Garanto que ela não morreu sozinha. - Santana sibilou entre dentes, baixando o olhar e apertando o punho da pistola. Sentia-se enganada, justo ela que aprendera a duras penas a não se deixar levar pelos sentimentos. - Você tem, com certeza, alguma relação com a morte dela. Direta ou indiretamente!

Signal Fire [FABERRY]Onde histórias criam vida. Descubra agora