Marley observava Sam dormir. Seu ex-colega chegara ao hospital com o rosto arrebentado e aquele ar dopado pelos medicamentos, a expressão do rapaz estava tranqüila, leve, fruto de um sono sem sonhos. Marley ajeitou os lençóis ao redor de Sam, involuntariamente, o rapaz moveu o braço e ele resvalou no seu.
Uma corrente elétrica estranhamente sutil e delicada percorreu o corpo de Marley a partir do local em que a pele de Sam tocara sua. A enfermeira ficou a observar o local em seu braço, como se pudesse encontrar a razão para a calma que a invadira nos poros de sua pele. Marley respirou fundo, chacoalhou a cabeça e voltou a velar o sono de Sam.
Lima não era uma cidade de muitos acontecimentos em uma madrugada, ainda mais em um dia de semana. Cuidar de Sam era o melhor que ela tinha a fazer nas próximas horas de seu plantão. E Marley não se incomodava de cuidar dele, o que a perturbava eram as lembranças do colegial que retornavam junto com a presença de Sam naquela enfermaria.
Os sonhos, as canções, as competições, o McKinley High, o New Directions... E, infelizmente, Jacob Puckerman também retornava aos seus pensamentos. Porém, mesmo assim, Marley surpreendeu-se quando ele voltou as suas memórias. Já fazia um bom tempo desde que Marley não pensava mais nele, aliás, não tinha motivos para pensar nele. O que Jacob fizera, na última vez em que se viram, conseguiu acabar com qualquer coisa boa que tivessem construído juntos.
Era verdade aquela máxima de que toda boa garota se apaixonava por um garoto mau e acreditava que poderia mudá-lo pelo amor... Mas o que vinha depois, os resultados, esses não eram reais. Marley aprendeu dolorosamente que nem sempre esse tipo de história tem um final feliz, como aquele vivido por Sandy e Danny em "Grease".
Marley respirou fundo e demorou a perceber que seu celular vibrava em sua cintura. A morena o apanhou e observou com um sorriso quando o nome "Eliza" apareceu no identificador de chamadas. Desbloqueou o celular e o levou à orelha com um sorriso nos lábios:
- Olá, meu amor... Já não era para você estar dormindo?
- Ah mamãe... Eu não consegui dormir. - A voz doce e infantil do outro lado da linha soou sonolenta e provocou risos em Marley quando ela escutou um bocejo disfarçado. - A senhora sabe que eu não consigo dormir sem que você cante uma canção.
- Desculpa, pequena... Hoje, o plantão teve um acontecimento interessante. - Marley respondeu com um sorriso gentil e com os olhos ligeiramente molhados pelas lágrimas contidas, sempre ficava emocionada quando pensava ou falava na filha. A pequena morena de pele azeite, olhos azuis e cabelos enrolados, com 3 anos de idade. Seu tesouro e tudo pelo que ela lutava, atualmente, em sua vida. - O que você quer que eu cante hoje?
- Você pode cantar mesmo, mamãe?! - Eliza estava excitada, Marley riu roucamente imaginando que sua filha provavelmente estava dando pulinhos enquanto segurava o telefone firmemente. Um suspiro impaciente foi ouvido do outro lado da linha. - Vovó já está brigando comigo, então acho bom a senhora já ir cantando...
Marley riu novamente. Provavelmente, Millie Rose estava toda sonolenta, procurando brigar com a neta enquanto segurava uma risada diante da fofura da pequena. Eliza estava cantarolando alguma coisa, Marley respirou fundo e limpou a garganta antes de cantar:
Somewhere over the rainbow
Skies are blue
And the dreams that you dare to dream
Really do come true
Sempre gostara daquela música. Depois que foi apresentada aos musicais, por Mr. Schue e o Glee, aprendera a gostar muito deles... Mas "Somewhere Over The Rainbow" de "Wizard of Oz" sempre lhe trazia esperança em meio a qualquer que fosse a sua situação, até mesmo nos piores anos de sua vida. E Marley queria que Eliza tivesse aquele mesmo pensamento que ela demorara tanto a nutrir, o mesmo otimismo e a mesma sede de viver. Queria que a sua filha pudesse lutar e não se abalar com os obstáculos que poderiam surgir em seu caminho.
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Signal Fire [FABERRY]
FanficRachel Berry não sabia o que fazer. Nem em seus piores cenários, ela voltava tão cedo para Lima. Broadway se fora, assim como New York e todo o glamour que ela conquistara nos últimos sete anos. Ela poderia apostar que era a carreira mais curta na...