Capítulo 29: Réquiem

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Kathryn Aleed tentava ler Santana Lopez por cima das diversas camadas de insensibilidade que ela tratara de vestir desde que as duas deixaram o hospital. O amigo de Santana, Samuel Evans, pareceu muito surpreso com toda a história. O rapaz não tirou a razão de Santana e nem de Quinn, entretanto, disse que as duas só se entenderiam quando conversassem.

A ruiva também pensava que, se Santana conversasse com ela, tudo ficaria mais claro e mais límpido, para as duas... Kathryn também não sabia o que fazer e, muito menos, o que fazer. Ao mesmo tempo em que queria ser o consolo de Santana, precisava que a sua própria certeza da culpa que carregava fosse desconstruída.

Aparentemente, os anos e as identidades mudaram, mas Kathryn continuava carregando lágrimas e destruição por onde passava. Se antes, ela trouxera morte àqueles que se colocaram entre Joaquin e os objetivos que ele almejava, agora, ela trazia todos os julgamentos e a solidão para Santana que, infelizmente, se apaixonara por ela. A cada dia, Kathryn era ainda mais convencida de quão amaldiçoada era e de que, talvez, merecesse alguém como Joaquin em sua vida.

A felicidade parecia não ser feita para ela e aqueles poucos momentos em que voltara a sorrir, junto a Santana, eram os poucos que ela poderia ter...

- Eu sei o que está pensando... Pode parar por aí, Kat... - Santana murmurou quebrada, a voz rouca e arranhada pelas lágrimas que ela segurava com uma respiração profunda. Kathryn saiu de seus devaneios e segurou a mão esquerda que Santana lhe estendia. A ruiva deu um sorriso triste, motivado pela certeza de ser amada enxergada somente naqueles olhos escuros. Santana levantou-se da sua poltrona na sala de seu apartamento da cobertura e sentou ao lado de Kathryn no sofá, abraçando-a. - Você não é culpada de nada.

- Você percebe que isso não é verdade, certo? Se eu não tivesse aparecido na sua vida, você estaria muito bem com Quinn e Sam... - Kathryn murmurou culpada, aconchegando-se nos braços de Santana e sentindo seu interior amargar-se. Era completamente egoísta querer ficar por perto de Santana ainda que a sua presença afastasse a latina de todos. Porém, a ruiva sequer se lembrava de como era a sua vida antes de Santana e, tampouco, queria se lembrar... Santana era a sua única certeza naquele momento.

Santana, por sua vez, sentiu a garganta seca e os olhos prestes a derramarem uma correnteza de lágrimas. Ela puxou o ar com esforço e beijou o topo da cabeça de Kathryn, afagando os cabelos ruivos e aspirando cheiro cítrico que emanava do corpo daquela que, agora, era quem amava.

No passado, Santana enfrentou a família e desconhecidos para admitir seu amor por Brittany e tê-lo julgado por gente que sequer se importava com o que as duas tinham. Ela achava que essa era uma batalha que nunca mais travaria, não apenas por ter segurança de sua sexualidade e sim, por julgar-se incapaz de gostar de alguém como gostara de Brittany.

Porém, em seu presente bagunçado e todo quebrado, ela encontrara paz em braços pálidos e olhos acinzentados. Santana, agora, enfrentara uma amizade de anos e uma ameaça de morte para poder amar, em paz. E a situação perigosa somente engrandecia a sua coragem e fazia com que ela tivesse ainda mais certeza de que amara Kathryn. Perto do que sentia pela ruiva, Brittany tornava-se um mero eco em seu passado. E como qualquer eco, ele ressonava por seu corpo, ainda arrepiava seus pelos e fazia seu coração acelerar, principalmente, trazia esperança.

Mas, se Brittany era feita de esperança. Kathryn era feita de certeza. E Santana nutria-se do certo para fazer o errado e permanecer ao lado dela.

Santana observou o tom avermelhado vívido dos cabelos de Kathryn tentando, de certa forma, desvendar todos os pensamentos pessimistas e culposos que habitavam a cabeça dela. Não precisava enxergar os olhos acinzentados para saber que eles estavam prestes a se derramarem a sua frente, por isso, a advogada continuou a niná-la e disse:

Signal Fire [FABERRY]Onde histórias criam vida. Descubra agora