A mãe e o pai*

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(Música recomendada para ser ouvida durante a leitura: "Amianto" - Supercombo // vídeo)

Eu estava chegando do trabalho depois de um dia difícil e cansativo, quando a vi

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Eu estava chegando do trabalho depois de um dia difícil e cansativo, quando a vi. A porta do apartamento estava escancarada, e de lá a vi subir na cadeira e usá-la como uma escada para poder chegar à sacada da varanda. Ela agora estava em pé num lugar perigoso demais para alguém que não pensasse em acabar com seus sofrimentos. Eu entrei na casa e me aproximei lentamente, para não assustá-la, e ela pareceu ouvir meus passos, pois virou-me para me encarar.

"Moça, sai da sacada". Falei, numa tentativa quase frustrada de tirá-la de lá. "Venha, desce daí!" Ela continuava parada, me olhando com lágrimas nos olhos. Eu estava assustado, e ela parecia estar em pânico. Não um pânico gritante, no qual nos vemos em desespero. Era muito pior que isso. Era um pânico silencioso, que nos come vivos até não restar nada além do sofrimento e do coração, que quase não bate mais.

Ela olhou para baixo, onde pessoas gritavam para ela descer, assim como eu tinha feito há pouco. "Moça, não olha pra baixo! Olha pra mim! Eu estou aqui, vou te ouvir. Desce daí". Ela parecia não me ouvir. Suas mãos tremiam, e eu temia que suas pernas também. Me aproximei dela lentamente e ofereci minha mão para ajudá-la a descer dali. "Tá tudo bem, nem sempre estamos na melhor. Você não precisa fazer isso". Ela virou-se para mim e sorriu pesarosamente ao dizer: "Moço, ninguém é de ferro, somos programados para cair". E assim, ela se jogou.

*Crônica baseada na música "Amianto" de Supercombo

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