SALA DE FERRO

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Revisão em breve.

"Não é somente uma fase. É um século inteiro de coisas ruins."

7 anos atrás.

Deitada na cama, a garotinha segurava uma de suas tranças compridas, para disfarçar suas mãos que tremiam. Ela levantou com cuidado e correu até a janela velha de madeira gasta, observando o animalzinho que tinha a asa quebrada e torta. O pequeno pássaro amarelo, piava sem parar, como se pedisse ajuda. A garota com dor em seu coração, puxou a janela, dando espaço suficiente para passar sua mão e pegar o animalzinho. Ele se acomodou no centro de sua palma e a garota o segurou com cuidado para não machucar ainda mais. Seu piar, apesar de mais baixo agora, deixava a menina apreensiva. Alguém poderia ouvir e o levar para um lugar muito, muito longe.

Olhando para todos os lados, a garota saiu do quarto escuro e sombrio, dando passos apressados em direção ao jardim morto da casa. Algumas crianças, a olhava torto, mas ela ignorava, escondendo com cuidado o pássaro. No jardim, as plantas, que antes tão vivas e coloridas, davam espaço a algumas ervas daninhas e flores secas.

A garotinha se sentou em um banco de cimento rachado e olhou para os lados novamente, não havia ninguém ali. Ela se concentrou em sua mão e fechou os olhos. Já havia feito aquilo uma vez, mas fora diferente, era apenas uma rosa, que voltou vermelha e bonita de novo, mas com algo vivo era diferente, exigia muito dela. Então, pela segunda vez, se concentrou no animalzinho e sentiu aquela mesma sensação, vento passando por seus cabelos, cócegas em suas mãos, seu corpo mais leve e algo dançar por entre seus braços. Era incrível, era a coisa mais maravilhosa que já havia sentido em toda sua vida.

Ao abrir seus olhos novamente, o pássaro tão machucado, tinha suas asas inteiras e brilhantes de novo. Ela se alegrou ao ver o animalzinho voar e rodopiar pelo ar. Seu trabalho estava feito.

—O que está fazendo? —a voz grossa, mas feminina, se fez presente.

—Nada, eu juro! —respondeu a garotinha, se levantando.

—Sempre soube que havia algo de errado com você!

A mulher grudou no braço da garotinha, segurando tão forte que suas unhas afundavam na pele da criança. Todas as pessoas ali presentes a olhavam, algumas com medo, outras com felicidade. Os olhinhos castanhos da criança se fecharam, soltando lágrimas e mais lágrimas de medo. Ela sabia para onde estava indo, sabia qual lugar a esperava e não era um belo parque de diversões, pelo contrário, era o circo de horrores com direito ao espetáculo principal.

Com um chute, a mulher vestida da cabeça aos pés com sua túnica negra, abriu a porta. A garotinha se debatia sem parar, chorando e tentando escapar, enquanto a mulher continuava puxando para o fundo da sala mal iluminada, onde pedaços de madeira tampava a janela impedindo que luz entrasse ali. A criança assustada com o ambiente, mordeu a mulher que a soltou, derrubando a garota no chão, mas agindo mais rápido ela puxou a menininha pelos pés, a arrastando até o fundo da sala, formando marcas de unha nos pisos de taco.

A garotinha queria sua casa, queria seu papai ali, mas estava sozinha e presa em seu próprio inferno, mesmo que tão cedo.

Uma porta de ferro foi aberta em um estralo estranho, dando espaço para uma sala tão pequena, que poderia caber apenas uma pessoa ali. Lá dentro, pontas de ferro e escuridão, formavam um ambiente claustrofóbico de arrepiar, que fazia a mente de qualquer um pregar peças sobre cada centímetro dele.

—Não, não, por favor! —gritou a garotinha.

—Você terá que pagar por seus pecados! Reze até que não tenha mais forças, ou queimará no inferno como seus pais!

Instituto Bruxas de SalemOnde histórias criam vida. Descubra agora