TRAIÇÃO

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Revisão em breve.

"Quando pequenas mudanças acontecem, o universo parece coagir para que tudo mude também."

Sempre existiram esses pequenos momentos em minha vida. Momentos que por um minuto inteiro não pensava no que estava fazendo, o que chegava a ser irônico para alguém que gostava tanto do politicamente correto em tudo que fazia, porém, no resto dos outros minutos eu pensava. Existia um ritual onde formava uma pequena lista de prós e contras nunca deixando nada passar em branco, afinal não podia deixar me levar pelo momento ou pela adrenalina, mas quando isso não acontecia, era justamente o segundo que mais desejava ter pensado.

Sentindo que ninguém me impedia daquele lado e todos ainda estavam lá dentro atrasados, quando o grito encheu meus ouvidos corri em direção à mansão, onde a pressão em meus tímpanos deixava minha cabeça zonza e incapaz de raciocinar. Era Morgan sofrendo lá dentro, era minha melhor amiga sendo machucada e eu estava ali para ajudá-la. Embora soubesse o que o portal havia feito aos meus poderes, não hesitei em continuar mesmo que minhas pernas pedissem para parar e mesmo que meu corpo estivesse a ponto de exaustão completa. Se eles estivessem fazendo qualquer que fosse a maldade a ela, eu os enfrentaria mesmo que isso custasse a minha vida, mesmo que colocasse tudo a perder. Mesmo. A grama fofa a minha volta dava a impressão de estar se mexendo, o grito somente aumentava e meus ouvidos começavam a soltar um leve zunido fino dos sinais de um blecaute. Existia um desespero tão grande em vê-la, uma vontade tão insaciável, que mal pude perceber quando meus joelhos fraquejaram e foram ao chão. Tinha esquecido que não era tão fácil quanto parecia, onde mesmo que indiretamente, ou não, o Imperador sabia que ele possuía essa vantagem sobre mim, usando Morgan e toda sua fragilidade para que eu fosse inconsequente. Um chiado embaralhou minha visão, duplicando tudo a minha volta. Eu não iria desmaiar, iria aguentar firme até que estivesse, por mais impossível que fosse, a salvo.

Mãos fortes seguraram meus cabelos e apertaram minhas bochechas, fazendo doer todos meus dentes a ponto de sentir que iriam explodir. Eu não podia enxergar coisa alguma além do embaralhados de imagens, mas sabia que era o Imperador pelo seu cheiro que causava repulsa.

—A cadelinha agora acha que pode ir correndo sem meus comandos? –grunhiu em meus ouvidos.

Os soldados riram.

—É por isso que bruxas sempre perdem nos contos de fadas, são burras como uma pedra. –zombou um deles.

—Mas essa até que é bem gostosa. –o outro respondeu.

A risada se espalhou. Eu queria rebater, queria soltar como aquilo era errado e como eles iriam se arrepender, mas não conseguia. Estava com medo de que homens mais fortes do eu, homens que agora possuíam o dobro da minha força, usassem meu corpo como a sua morada e somente a imagem disso me destruía.

—Essa é sua nova casa agora. –girou meu pescoço na direção do que parecia ser a mansão. —É melhor ir se acostumando. –me jogou no chão.

As risadas que debochavam do meu completo estado de humilhação, me fizeram olhar para cada um deles marcando seus rostos em minha mente e os colocando no lugar mais especial que poderia existir. Não tinha meus poderes naquele momento, mas eles voltariam e quando voltasse era melhor eles estarem preparados. Eu tinha a porra de uma bruxa escocesa e uma deusa presa ao meu corpo e isso não seria em vão.

Mal percebendo que havia sido levantada outra vez, olhei para cima e vi Samuel em completo terror, percebendo que pelo menos uma pessoa ali não queria me matar.

—Por favor, não faça isso novamente. –sussurrou ele.

—Por que está me ajudando? –minha voz saiu quase inaudível.

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