CONFIANÇA

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"Essa noite somos um só, somos um só."

Seu corpo caiu no chão em um baque surdo. A queda poderia ter quebrado alguns de seus ossos, mas fazia apenas alguns minutos que havia quase matado um homem, terminar o processo com outro não seria difícil. Arfei. Aiden se levantou com dificuldade parecendo dolorido, detendo seus movimentos apenas alguns passos entre nós. Ele sabia e tinha a plena consciência de que qualquer movimento na minha direção o faria um homem morto, portanto, conseguia sentir esse cuidado não somente pela sua energia que emanava medo e angústia, mas também pelo seu olhar suplicante envolto de lágrimas falsas.

O cabelo caído em meus olhos permitia que tivesse apenas uma parcela da visão do lugar, um lugar luxuoso de muito azul e preto. Era claramente o aposento de um dos mais altos escalões do exército contendo a mobília mais bonita que já havia visto, possuindo uma cama grande coberta por uma colcha de seda preta, tapete de pele animal também da mesma cor, um armário enorme com roupas e mais roupas finas expostas, cortinas em um azul fechado e uma cômoda. Lutei para engolir a saliva que parecia seca. Sobre sua cômoda existiam apenas duas coisas: um porta retrato de uma mulher e uma vitrola, a mesma vitrola que existia em sua cabana no Instituto.

O sorriso de escárnio vazou por meus lábios.

—Irônico.

—Claire, eu posso explicar.

Estreitei as sobrancelhas.

—Estava ciente do massacre? Por isso sabia como nós tirar de lá?

—Não, é claro que não sabia! Por favor, me ouça!

Cheguei perto da cômoda e peguei o retrato. A mulher era linda em preto e branco com um grande sorriso em seus lábios carnudos, olhos fechados e cabelos escuros, parecia uma mistura de Aiden com Thomas, deveria ser sua mãe. Ela estava genuinamente feliz na foto, tão inocente que parecia não ter noção do que a aguardava no futuro. Uma bruxa morta por outra bruxa, uma bruxa mãe de outros dois caçadores, uma bruxa sem coven. Uma bruxa fadada a um destino cruel. Olhei para a vitrola. A lembrança de nós escutando Hotel California ainda estava vívida e fresca, ainda passava como um filme os arrepios que havia sentido aquele dia, um dia que agora era estranho achar que foi real.

—Quebrado todos nós estamos. Mas mesmo as piores bestas, têm um coração batendo dentro do peito. –repeti a frase que escutara aquele dia. —Então, era eu era a besta?

Agora fazia sentido, agora entendia suas palavras. Como fui tola.

—Você se lembra. –sussurrou.

Revirei os olhos, voltando minha atenção para o retrato.

—Como ela se sentiria ao saber que sua irmã e o resto de sua família foi assassinada por caçadores? Melhor, assassinado por seus próprios filhos?

Aiden arregalou os olhos, engolindo em seco. Minhas palavras pareciam um soco em sua barriga, um tiro em sua espinha dorsal, mas ele deveria saber que eu não estava ali para brincadeiras, estava ali para matar seu líder e se fosse necessário, o mataria também. Novamente.

—Eu não sabia que eles iriam atacar, não tinha noção que estavam a caminho. Você precisa acreditar em mim!

Coloquei o retrato com calma na cômoda. As irmãs Clarke não mereciam isso, não mereciam ter traidores em sua família. Pobres mulheres, pobres bruxas. Infelizmente, havia aprendido que muitas de nós terminava exatamente assim: mortas ou enganadas, ou os dois juntos. Somente as mais fortes de nós sobrevivia, mas era através da loucura.

—Claro que acredito.

—Você entendeu tudo errado!

Clarke deveria realmente achar que eu era uma idiota, ele ainda me tratava com uma.

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