A cortina de seda balançava levemente com o frio que entrava nessa manhã, o sol irradiava com luz fraca, e a neve estava alta, sendo preciso que alguns funcionários da mansão tivessem que levantar cedo para limparem o grande e longo caminho de pedras que haviam entre o portão de entrada e a grande porta de madeira da casa.
Então o sonho que se repetia cada vez mais neste último mês a fez acordar assustada empunhando a arma que ficava em baixo de seu travesseiro por não confiar nas pessoas a sua volta.
"Quem é ele?" - ela repetia incessantemente.
Seus sonhos começaram a dois anos quando conseguiu conquistar o medo e respeito da sociedade que liderava. Nele, o mesmo homem tatuado ficava ao lado de sua cama observando-a dormir, não fazia mal a ela, ao contrário, parecia estar ali para lhe contar algo, ou até mesmo morrer por ela.
"Odeio heróis..." - era o que sempre pensava quando imaginava um homem protegendo alguma mulher. Ela sabia se defender sozinha, sempre soube, e não queria precisar de alguém para salvá-la.
-Bom dia, senhora... - a jovem Lia que cuidava da vida pessoal de Vallentina entra e se assusta com a arma apontada para ela. -Está tudo bem? - a voz de menina inocente faz a chefe acabar sorrindo internamente por saber da inocência da garota.
-O mesmo sonho... - ela esfrega os olhos colocando a arma ao seu lado na cama. -Que horas são, Lia? - boceja tirando a manta que cobria suas pernas e tocando o tapete fofo ao lado de sua cama.
-Já são seis e quinze... - a menina sorri abertamente colocando as mãos para trás e se balançando como se estivesse vestindo um vestido rodado.
Lia tinha dezoito anos, perdeu os pais em um acidente de carro a quatro anos e conheceu Vallentina em uma cafeteria, a mulher logo se encantou pela menina e decidiu dar a ela um lugar na mansão Seaman, mas com uma condição, não seria treinada para ser um deles, somente teria que cuidar dela e estudar durante a noite.
-Você é como uma filha para mim, Lia! - Vallentina abre o guarda roupa tirando uma calça social branca, uma camisa vinho e saltos. -Então qual será a razão de ter acordado tão cedo? - ela se coloca na frente da garota.
-Me acostumei, e hoje é sexta... - ela sorri para a chefe. -A senhora tem uma grande festa, quero estar ao seu lado nos preparativos...
-Claro, a festa! - Vallentina da uma risada contida sem a menina ver enquanto Lia corre pegando toalhas e uma lingerie.
-Aqui, senhora! - ela estica sorrindo graciosamente.
-Obrigada, Lia! Não se esqueça que quero-a na festa junto a mim... - Vallentina pega de prontidão tudo que precisa pra seu banho matinal e caminha até o banheiro. -O motorista vai te buscar na faculdade...
-Não... - Lia fala exasperada. -A senhora sabe que não quero ir a festa, não tenho interesse algum em ver pessoas como aquelas com quem a senhora lida! - Vallentina para e se vira para a menina.
-Que tipo de pessoas? - sua voz sai mais rude do que o comum. A menina respira fundo, e pensa em cada palavra que iria usar para respondê-la.
-Perdão, mas há muitas pessoas que somente vão lá por interesse, há somente sentimento fingido ali... - cada palavra sai calmamente analisando cada expressão que Vallentina fazia.
-Infelizmente há mais pessoas assim a nossa volta do que imaginamos, minha cara... - ela volta a caminhar e fecha a porta do banheiro girando a chave duas vezes.
A água que cai sobre o corpo pequeno dela, escorria trazendo o conforto e a paz que não encontrava a muito tempo, sua temperatura foi abaixando até que se deu por relaxada. Desligou o chuveiro e se viu no espelho a cima da pia de mármore. Seus olhos demonstram o cansaço por não ter dormido direito, seu cabelo cacheado ultimamente estava em um cumprimento que atingia sua cintura e seu volume era baixo definindo cada cacho seu.
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A Volta - Coleção Herdeiros
RomanceDois corações que foram separados por uma infelicidade e uma memória que se reconstituirá com um ato mais que romântico. Vallentina se tornou a mais nova assassina da Sociedade Seaman, e agora comanda o mundo com o dinheiro e o respeito que impõe a...