A zona da minha vida [Morro]

Capítulo 47

JS narrando

Levantei da cama depois de ter caído no sono.

Finalmente a Lua se tornou minha.

É meio estranho ver um traficante de favela falando isso, mas as pessoas têm que entender, que eu também tenho sentimentos.

Qual é, só porque eu me envolvi no tráfico, não posso ter família? Que mente pequena é essa?

Eu quero ter família, quero ter filhos, quero ser feliz... mas eu sei que acima disso tudo tem o complexo, eu vou pôr a vida de todos em risco, só que eu não vou morrer sozinho!

Olhei Lua enrolada no cobertor, dormia tão tranquila que nem parecia uma maníaca gemendo meu nome a algumas horas.

Nossa tarde tinha sido ótima, mas ja estava noite.

Os pais dela deviam estar preocupados já.

Peguei meu celular em cima da escrivaninha e disquei o número de Bianca.

Bia: fala JS- disse ao atender.

JS: oi cunhadinha linda, tá fazendo o que?- perguntei rindo.

Bia: não tenho dinheiro JS- respondeu- to fazendo nada não, quer o que?-perguntou.

JS: quanta amargura no coração- respondi revirando os olhos- pode trazer umas roupas aqui em casa?- perguntei.

Bia: não vai me dizer que...-parou de falar e tossiu- não creio, levo agora mesmo- disse e desligou NA MINHA CARA.

Mal educada do caralho essa menina.

Pus minha camisa que estava no chão e sai do quarto com cuidado.

Desci direto pra cozinha, a broca tava demais.

Abri a geladeira pegando pão, presunto e queijo, pra preparar um misto quente.

Assim que fui colocar na misteira, a campainha tocou.

Coloquei o misto pra esquentar e deixei lá mesmo.

Fui pra sala, abri a porta e dei de cara com Bianca e LS me olhando desconfiados.

JS: eu chamo a vaca e vem o boi?- perguntei rindo, até Bianca me bater- aí sua louca- reclamei.

Bia: não me chame de vaca, estou prenha e com o emocional elevado- fez drama se sentando no sofá- tá ai a roupa pra sua amada,tinha mesmo que rasgar a dela?- perguntou me entregando a sacola.

LS: ninguém tem tempo pra preliminares Bianca- disse revirando os olhos- sabe como é né- beijou ela.

JS: vocês ja me entregaram a roupa, podem voltar pro pasto de vocês- falei os puxando até a porta.

LS: quando me quer não fala assim- disse passando a mão em meu peito.

JS: sai fora porra- empurrei sua mão rindo- segura teu macho Bianca- falei bravo.

Bia: vem amor, esse daí só procura quando quer algo- fez drama puxando LS pra casa.

JS: obrigado pelas roupas amigos- gritei rindo e eles me mandaram dedo- ingratos- disse.

Virei pra entrar em casa e dei de cara com Lua toda descabelada.

JS: você acorda assim todos os dias?-perguntei rindo e beijando sua testa.

Lua: fazer o que né- deu de ombros- Júnior que cheiro de queimado é esse?- indagou curiosa.

JS: puta que pariu, esqueci o misto- respondi.

Corri pra cozinha vendo a mesma com o azulejo da parede preto e fumaça saindo da misteira.

Tirei rápido o fio da tomada e peguei um pano sacudindo a fumaça.

Lua: não acredito que você queimou o misto- disse rindo atrás de mim.

JS: se eu não tivesse me preocupado com suas roupas, isso não teria acontecido- falei com raiva.

Lua: ata- revirou os olhos- vou trocar de roupa e ir embora, nao posso ir assim pra casa- disse olhando o lençol que a cobria.

JS: vai lá, a roupa ta no sofá- falei e ela balançou a cabeça concordando.

Peguei um pano em cima da pia, molhei de água e passei no azulejo tirando a sujeira.

******
Saí da cozinha e subi para o quarto ver se, Lua, já tinha se arrumado.

Abri a porta entrando e me deparei com ela passando aqueles rebocos na cara.

Mulher é uma coisa séria, ela só ia embora dormir e estava passando maquiagem.
PRA DORMIR.

Eu sinceramente não entendo isso.

JS: a pessoa tem que se rebocar pra parecer bonita né- falei rindo.

Até ela me mandar um olhar matador me fazendo parar na hora.

Lua: você não disse isso quando estava na cama comigo- disse cínica.

JS: é que na cama, você é gostosa- dei de ombros.

Lua: bom saber -disse- fique bastante tempo sem a gostosa aqui então- falou rindo.

Ela me deu um selinho e saiu do quarto.

JS: bipolaridade da porra fio- falei revoltado.

Fui até a escrivaninha pegando um cigarro e acendendo.

Caminhei até a janela, me sentando e admirando a vista da rocinha a noite.