Capítulo 62

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"O que o fez reparar em você não foi a cor do seu batom nem o tamanho dos seus cílios, mas sim a confiança que você sentiu usando um batom mais forte ou um rímel novo. Tudo depende da maneira como você encara as coisas." (Depois dos quinze)
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Isis narrando

Me lembro bem que quando a Lua era criança, ela era bem gordinha e não gostava de usar roupas mais justas no corpo.

Ela sofria por isso e eu sabia, mas ela nunca gostou de demonstrar sentimentos.

A vida inteira ela quis ser independente, sempre quis aprender tudo sozinha, sempre gostou de experimentar novos sabores, sempre gostou de ser libertada.

Quando a adolescência foi chegando, eu sabia que acima de tudo eu teria que ser mais amiga do que mãe!

Eu descobri que Lua era diferente, quando ela negava os chamados para festas.

Não que eu gostasse de ser liberal, mas eu queria ser a mãe que eu não tive.

Ela era totalmente diferente do que eu era e por isso eu tinha tanto medo que ela sofresse com a vida.

Eu sei que eu deveria ter sido mais amiga quando eu tive oportunidade, nunca parei pra conversar com ela e ver o que ela sentia.

Eu achava que ela deveria ter o espaço dela, tudo deveria acontecer na hora dela.

Mas se eu não tivesse dado tanto espaço, eu estaria aqui? Correndo esse morro feito louca desenfreada atrás de notícias sobre a minha filha?

Eu poderia ter conversado mais, ter invadido um pouco o espaço dela, ter levado ela pra se divertir... porque eu como mãe sei que se eu tivesse feito tudo isso, ela já enfrentaria tudo sabendo das consequências.

Claro que eu não poderia evitar os sofrimentos amorosos dela, mas será mesmo que ela teria que ser sequestrada pra saber como é a vida?

Não, eu não concordo com o fato dela ter perdido a virgindade cedo, não concordo com ela namorar traficante, muito menos concordo com o fato dela quase ter sido estuprada!

Eu quero um dia olhar lá na frente e fazer com minhas netas tudo que não fiz com a Lua.

O mundo está cada vez mais perdido, meninas engravidando cedo demais, meninos se entregando ao mundo fácil demais...

Uma coisa que eu nunca vou perder é minha mania e certeza de que tudo acontece porque Deus quis.

Parei em frente ao postinho secando minhas lágrimas e respirando fundo.

A noite já vinha chegando e o vento batia forte no meu corpo me trazendo uma vontade de ser levada por ele...

Contei até três e quando a coragem bateu, entrei no posto.

Caminhei cautelosamente até a sala de espera que por acaso não existia, era só a primeira sala que tinha quando entrava ali...

Avistei Raul, Lucas, Luan e Bianca, eles ainda não tinham me visto.

Bianca dormia sentada de um jeito muito desconfortável na cadeira encostada ao namorado.

Cutuquei os dois, mas somente Luan acordou.

Isis: vão pra casa meus filhos, vocês têm que descansar- disse com meio sorriso.

Ls: olha tia, eu vou porque dessa barriguda aqui, mas me avisa assim que tiver notícias- disse se levantando e me dando um beijo na testa.

Concordei com a cabeça e o observei pegando Bia no colo, tadinho, a bixinha tava gorda que parecia uma porca.

Me sentei ao lado de Raul que em silêncio encarava a janela.

Isis: quem diria que tudo se repetiria novamente...- disse baixo.

Raul: me desculpa Isis- pediu de cabeça baixa.

O encarei sem entender, mas logo ele me encarou.

Raul: eu poderia ter evitado tudo isso, não era pras coisas terem sido dessa forma!- falou me encarando.

Isis: vai ficar tudo bem- respondi esperançosa, não estava no clima para brigar.

Dei um beijo em sua testa e me encostei no seu ombro respirando fundo.

Lucas dormia profundamente, estava com a expressão abatida.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, até ouvir um médico.

Médico: parentes de Lua Castro?- perguntou.

Levantamos às pressas e encaramos o doutor que nao tinha uma cara muito boa.

Meu coração logo acelerou.

A zona da minha vida [Morro]Onde histórias criam vida. Descubra agora