January 11, 1993. [23:12 PM.] ✧
Eu nunca tive amigos, sempre fomos só eu e minha avó, e ela nunca foi minha amiga. Sempre muito rígida e inflexível comigo, sempre um carinhosa e compreensiva com os outros.
Mas este não é o foco, o foco é: ao contrário do que costumam dizer, você não precisa de amigos, não é como se você fosse morrer por causa disto. Mas se você tem que guardar e reprimir tudo o que sente o tempo todo, então você provavelmente vai se sentir muito, muito mal às vezes.
É o preço a se pagar para evitar decepções e outras coisas que vem com os relacionamentos, qualquer tipo de relacionamento. Eu vivi assim por 22 anos, dentro da minha pequena caixa de vidro me mantendo segura e isolada do mal que as pessoas podem causar-lhe, simplesmente porque podem, sabem que têm o poder de magoar-te e irão usá-lo quando acharem que devem.
Mas pela primeira vez, eu queria ter alguém com quem contar, alguém para quem contar o que estou sentindo agora. Eu sei que a dor nunca é permanente, mas esta noite ela está me matando. Esta noite, deveria ser uma noite feliz. Oh sim, uma noite ótima. Eu estava quase pronta. Estava bonita, tenho que reconhecer.
Só faltava um detalhe, o toque final. Os brincos. Peguei meus brincos de ouro branco, a minha única jóia. O presente mais valioso que eu já ganhei, coloquei o primeiro e me olhei no espelho, gostei do que vi e sorri. Mas quando peguei o segundo, ele escorregou pelos meus dedos e caiu no chão, ainda estava tudo bem, era só procurar. Sem problemas.
Eu achei o brinco, estava debaixo da cama, e achei outra coisa também. A gravata do meu pai, minha única lembrança material dele e a única prova concreta de que um dia ele esteve por perto, de que ele não foi apenas um fantasma ou um delírio de uma criança carente. Não, uma relíquia tão valiosa não deveria estar jogada ás traças desta maneira.
Ela nem sempre esteve debaixo da cama acumulando poeira e mofo. E assim que a vi, as lembranças invadiram minha mente de maneira tão violenta, que me fez fechar os olhos com a dor aguda que senti em minha cabeça. As lembranças vagas da minha primeira infância misturavam-se com as lembranças da noite fatídica em que ela acabara por parar lá.
Minha vó, sem motivo aparente, resolveu se levantar da cama (coisa que o médico prescreveu que ela evitasse fazer) e vasculhar meu quarto, e eu sei que ela nunca gostou muito do meu pai, mas não consigo entender o porquê de ela ter explodido da maneira que explodiu quando achou a gravata dele esquecida no fundo da minha gaveta de meias.
Ainda lembro da expressão de choque e confusão que tinha seu rosto quando eu entrei no quarto, e minha primeira reação foi correr e arrancá-la de sua mão. Depois disto, as lembranças da noite ficam cada vez mais vagas, como que encobertas por uma névoa fina, porém que torna impossível ver-se com clareza através dela.
Nós brigamos, ela estava muito, muito brava, eu também comecei a ficar muito brava e a gritar, eu saí de casa batendo a porta e só voltei quando senti que estava bêbada o suficiente para não me importar com quaisquer palavras afiadas que saíssem da boca dela.
Quando voltei, ela estava deitada no sofá de olhos fechados, de maneira tão serena que me fez esquecer por alguns instantes que estávamos brigadas. E parecia tão descansada e em paz que eu achei que estivesse dormindo e fiz o que pude para não fazer barulho e acordá-la, mesmo que devido aos acontecimentos da noite meus sentimentos por ela não fossem os mais amáveis.
Ela não estava dormindo, ou melhor, estava. Mas não acordou de manhã para fazer o café da manhã, e nunca mais vai acordar.
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dear diary;; kimjongdae
Фанфикo diário de baehim no inverno em que ela perdeu a avó, e descobriu o amor.