January 25, 1993. [14:48 PM.] ✧
Eu deveria ter escrito tudo ontem, mas eu estava exausta. Então aqui vai meu relato tardio do dia na praia:
24/01/1993.
Acordei um pouco assustada com o barulho de metais se chocando e rangendo, pouco confusa também, já que não sabia em que momento tinha caído no sono ou quanto tempo havia dormido. Vasculhei o quarto com os olhos à procura da origem do barulho de metais rangendo. Mas não era no quarto, então olhei pela janela. Era ele.
Ele me avistou olhando-o pela janela e acenou sorridente. Mas eu demorei um pouco para acenar de volta porque minha mente ainda processava o que eu estava vendo. Chen de óculos escuros, uma camisa de botões branca e leve com os quatro primeiros botões abertos, lindo. Dirigindo um carro conversível que poderia ser considerado moderníssimo, a vinte anos atrás, e que ao que tudo indicava, era a origem dos barulhos horríveis de metal rangendo.
Eu acenei de volta, prendendo a gargalhada na garganta, porque seria a cena perfeita se o carro não parecesse prestes a se partir em mil pedaços ao mais leve toque. Eu peguei minha bolsa e corri para encontrá-lo e averiguar de perto o carro, quase caindo escada abaixo.
Ele me lançou um sorriso sedutor quando eu cheguei perto ao lado da janela do motorista. Que aliás não tem serventia nenhuma em um carro conversível. Mas eu só consegui gargalhar com a situação. Pulei para o banco de trás, e do banco de trás para o banco do passageiro.
Eu ainda estava rindo quando ele deu partida no carro. Que rangeu ameaçador. Olhei para ele, ainda rindo um pouco, porém mais controladamente. Ele estava de novo fazendo o biquinho fofo de quando está chateado ou fazendo birra.
"Que falta de educação a minha, bom dia para você também. Aliás, belo carro."
Eu disse, tentando parecer convincente, mesmo depois do ataque de risos. Ele não respondeu, e eu apertei a bochecha dele. Para forçá-lo a me dar atenção, e funcionou.
"Não tem graça, eu economizei muito para comprá-lo."
Ele disse, ainda com os olhos na rua. Enquanto fazia uma curva para pegarmos um atalho em uma rua secundária.
"Oh, quem é que está levando tudo muito a sério agora?"
Eu digo, dando um soco de mentirinha em seu braço, sorrindo de como ele pode ser sentimental às vezes.
"É um bom carro, você não pode negar."
Ele disse em um tom sério, mas eu sou muito observadora, e percebi o sorriso quase invisível que brotou em seus lábios.
"Bem, não há nada que não possa ser resolvido. Acho que com dois ou três chutes posso dar um jeito nessas 'janelas'."
Eu disse dando ênfase ao "janelas", mas estava pensando seriamente em um jeito de livrar-me daquelas coisas horríveis. Ele sorriu abertamente.
E céus, eu mal notava as pessoas e paisagens ao meu redor, só conseguia me concentrar nele e em como seus cabelos pareciam fios de ouro balançando ao sol da manhã. Em seu sorriso doce e brilhante, no pedaço de pele deliciosamente exposto pela camisa meio aberta, no modo como ele franzia as sobrancelhas e mordia os lábios ao fazer uma curva difícil e em suas mãos macias com dedos longos pressionando o volante.
Esses pensamentos me levaram a outros, nada puros. Que fizeram minhas bochechas esquentarem, e surgir uma fisgada de excitação debaixo da minha saia longa, me fazendo fechar as pernas para conter a sensação estranha.
Ainda é inverno, e apesar de este inverno estar sendo relativamente quente. Ainda assim é frio. Eu cantei vitória antes da hora quando chegamos à praia. Achando que fora do carro poderia dar alguma paz ao meu coração e aos hormônios. Mas não, eu estava redondamente enganada.
A praia estava vazia, como esperado, e assim que o carro estava estava devidamente estacionado na areia. Tirou a camisa e saiu correndo em direção ao mar. Eu o segui com os olhos, ainda dentro do carro. Duvidando até o último segundo que ele teria coragem de entrar na água gelada daquela maneira. Mas ele entrou.
Eu estendi minha toalha de piquenique a uma distância segura das ondas, e passei um bom tempo apenas observando-o brincar no mar, parecendo completamente deslumbrado, como uma criança quando vê o mar pela primeira vez. E era uma cena tão bonita e leve de se ver que eu poderia ficar a tarde inteira apenas o olhando, sem nunca me cansar.
E apesar da brisa gelada que vinha com as ondas e parecia perfurar meus pulmões, me obrigando a pigarrear de tempos em tempos e da areia que entrava em meus chinelos e entre os meus dedos, eu acho que nunca senti tanta paz em toda a minha vida.
Mas a paz não durou muito. Eu estava tão hipnotizada pelo movimento constante das ondas e das copas das árvores ao longe que só percebi tarde demais que Chen se aproximava. Ele se abaixou e me pegou pela cintura, me jogando em seus ombros.
Eu me debati e gritei para ele me largar, mas não adiantou. E logo eu senti a água gelada em meu corpo, me fazendo tremer. Eu abraçai meus braços nus para tentar aliviar o frio. Mas logo senti seus braços ao meu redor, me aquecendo.
Encostei minha cabeça em seu peitoral molhado, ouvindo as batidas rápidas de seu coração. Eu sorri e coloquei meus braços ao redor de sua cintura, abraçando-o com muita força. Coloquei naquele abraço todos os sentimentos e palavras que eu não conseguia confessar em voz alta. E todo o frio foi embora.
17:57 PM. 24/01/1993.
O sol já começava a se pôr detrás das nuvens cinzentas, nós estávamos sentados na areia, tremendo de frio e dividindo a toalha de piquenique, que agora servia de cobertor. Mas na verdade, só pelo fato de nossos ombros, braços e joelhos estarem se tocando, eu já me sentia em ebulição.
O céu cinza coloriu-se de tons de laranja, azul, e rosa. A aquarela de Deus, era o que minha vó sempre dizia. Que o céu era uma tela. E que Deus a coloria de acordo com seu humor, ela também dizia que o pôr do sol é o momento favorito dele, e que por isso o coloria com as melhores cores.
Este é o momento favorito de Deus porque anuncia que a noite está chegando, e ele ama a noite porque pode ver as estrelas que guiaram os três reis magos até Jesus Cristo e lembrar-se do momento em mandou seu filho para a terra para salvar a humanidade.
Eu contei isso para Chen, e ele me olhou profundamente nos olhos enquanto eu falava. Ele enrolou seu dedo indicador no meu. Nós nos olhamos nos olhos, e eu senti como se estivéssemos conectados, como se fôssemos um só.
Uma corrente elétrica trocando energia, e quando ele fechou os olhos e aproximou o rosto do meu, eu entrei em curto circuito. Minhas mãos trêmulas pareceram ganhar vida própria, foram para sua nuca, meus dedos entre seus fios dourados.
Quebrei a distância que ainda restava entre nós e colei nossos lábios, nossas respirações pesaram, tornando-se ofegantes. Ele pediu passagem com a língua e eu cedi, a toalha de piquenique caiu de nossos ombros. Os arrepios tomaram conta de meu corpo quando senti suas mãos em minha cintura.
Puxei os cabelos dele, aprofundando o beijo. Nós nos beijávamos de maneira lenta e sensual, meu sangue pareceu ser substituído por pólvora e meu coração uma bomba, que parecia poder explodir a qualquer momento, de tão forte que batia. Suas mãos deslizavam por meu corpo deixando um rastro quente por onde passava.
O ar fez-se necessário e nós nos separamos. Ofegantes e corados, meu coração ainda batia muito forte, espancando meu peito. Se isso não é amor, eu não sei o que é.
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dear diary;; kimjongdae
Fanfictiono diário de baehim no inverno em que ela perdeu a avó, e descobriu o amor.